Lenny Kravitz traz seu show ao Brasil pela quinta vez. Será uma apresentação única, no dia 23 de novembro, no Allianz Parque, em São Paulo. Na turnê mundial, ele surfa uma onda de sucesso com a repercussão de seu décimo segundo álbum, "Blue Electric Light", lançado em maio. Ele não recebia críticas tão favoráveis desde "It Is Time for a Love Revolution", de 2008.
Na primeira vinda ao país, em 2005, deu quatro shows: Porto Alegre, São Paulo, Brasília e Rio. Depois, em 2007, fez data única no Rio. Seus retornos seguintes se deram em festivais: no Rock in Rio, em 2011, e no Lollapalooza paulistano, em 2019.
O que surpreende nesses cinco anos longe do Brasil é Kravitz ficar sem visitar a fazenda que comprou e já frequentou bastante em Duas Barras, na região serrana do Rio de Janeiro. Na entrevista, ele disse que deve passar por lá.
Ele afirma ter planos de voltar ao local mais vezes, mas desde fevereiro deste ano disponibilizou a propriedade para curtas temporadas de aluguel, a quem se dispuser a pagar uma diária de R$ 18 mil (R$ 25 mil nos feriados).
A fazenda, comprada pelo cantor em 2007, foi uma plantação extensa de café no século 18. Hoje a propriedade está avaliada em R$ 12 milhões e, além de muitas áreas de plantação, tem piscinas, um campo de futebol, uma academia completa e um estúdio de gravações.
Todas as construções dentro da fazenda foram recuperadas e redecoradas pelo Kravitz Design, escritório criado por ele que tem clientes em várias partes do mundo. Alguns alimentos cultivados ali são enviados aos Estados Unidos para consumo do próprio cantor ou comercializados por lá.
Essa propriedade rural dá mais credibilidade ao discurso do cantor sobre uma predileção especial por tocar no país. "Eu amo o Brasil. O Brasil está no meu coração, eu escolhi ter meu lugar nessa terra. Vou fazer uma segunda fase desta mesma turnê aí, com outros shows. Pode escrever."
Dentro da discografia de Kravitz, ele nunca tinha ficado tanto tempo sem lançar um álbum. Seis anos se passaram desde "Raise Vibration", de 2018. "Depois que gravei esse álbum, excursionei por dois anos, e depois fiquei mais dois afastado por causa da pandemia. Então, na verdade, o novo disco teve um período de produção de menos de dois anos, não foi muito demorado. Mesmo durante a pandemia eu fiz muitas músicas."
As canções de "Blue Electric Light" trazem as doses habituais de rock, pop e R&B presentes em sua fórmula. Mas é seu álbum mais funkeado, quase dançante. Já tem três hits globais, "TK421", "Human" e "Paralyzed". Kravitz não é o tipo de compositor que acumula muitas canções. Não tem um baú repleto de ideias rascunhadas.
"Quando estou na estrada, eu não costumo compor muita coisa. Quase nada. Fico concentrado na performance no palco, passo muito tempo analisando o que fiz no show anterior e o que preciso fazer no próximo. Quando acabo uma turnê, meu corpo e minha alma carregam informações e emoções acumuladas. Aí as novas canções começam a aparecer para mim."
Multi-instrumentista, ele é capaz de gravar um disco inteiro sozinho, mas desde o início da carreira leva ao estúdio um parceiro constante: o guitarrista Graig Ross. Sobre o método de trabalho da dupla, revela que depende de cada canção. Em algumas faixas, faz tudo sozinho. Às vezes, divide as coisas com Ross, que toca alguns instrumentos, principalmente guitarras.
"Ele é um grande engenheiro de som, por isso cuida dessa parte. Nós compreendemos muito um ao outro, como colaboradores criativos e como seres humanos. Então não precisamos conversar muito, eu o entendo e ele sabe o que eu estou tentando fazer. Logo que proponho uma coisa ele reage exatamente com o que eu estava buscando. Há uma coisa inexplicável entre nós."
Na turnê atual, Kravitz tem tocado 17 ou 18 músicas em cada show. Além dos três destaques do novo álbum, inclui seus maiores hits. Costuma começar a noite com "Are You Gonna Go My Way" e encerrar com "Let Love Rule". Estão sempre na lista "Again", "Fly Away" e o cover da banda Guess Who que ele tornou mais famoso do que o original, "American Woman".
Nunca ele tinha incluído tantos festivais em suas turnês. Segundo ele, isso dificulta bastante que o repertório mude de um show para o outro.
"A gente muda apenas uma coisa aqui ou ali. Os festivais são complicados. Temos um tempo limitado para o set e às vezes não permitem uma passagem de som decente. Nos festivais, precisamos tirar algumas coisas para encaixar o show no tempo oferecido, mas sem chance para substituições, porque não temos tempo para ensaiar alternativas."
Kravitz derrama elogios à banda que o acompanha, com Ross à frente. "Meus músicos são pessoas maravilhosas. Mesmo trabalhando duro, todos têm uma atitude muito generosa. O que eu procuro neles? Meu show abrange muitos estilos, então quero músicos que toquem esses estilos de um modo autêntico."
O show em São Paulo terá participação de Frejat e de duas cantoras, a britânica Lianne La Havas e a brasileira Liniker, última atração anunciada. "Eu vi o show de Liniker em Paris, no ano passado. Nos encontramos depois do show, aquele bla-bla-blá. Quando começamos a contemplar os nomes de convidados para abrir em São Paulo, o nome dela apareceu e eu fiquei feliz que ela possa se juntar a nós."
Kravitz começou a carreira fonográfica em 1989, com "Let Love Rule". Apesar de ter atravessado todas as mudanças no mercado da música desde então, ele se mantém fiel a gravar álbuns. Nunca solta uma canção isolada para as plataformas, apenas singles extraídos de álbuns.
"As canções chegam para mim em blocos, elas não chegam sozinhas. Uma ideia vai puxando outra para uma nova canção. Então acredito que juntas elas contam uma história, ou pelo menos criam um ambiente, uma atmosfera compartilhada. Eu cresci ouvindo álbuns. Escutar uma faixa solta numa playlist é ok, mas acho que um álbum é como um livro, uma pintura, uma escultura. Ouvir os álbuns de um artista é vê-lo crescer, é captar seu espírito."
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