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Entenda por que Cinderela, Ursinho Pooh e Mickey agora aparecem em filmes de terror

Personagens em domínio público estrelam longas que custam pouco e lucram muito, uma boa aposta para a crise do cinema

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Detalhe do cartaz de 'A Maldição de Cinderela', com o sapato de cristal da personagem ensanguentado

Detalhe do cartaz de 'A Maldição de Cinderela', com o sapato de cristal da personagem ensanguentado - Divulgação

São Paulo

A história é mais velha do que o tempo, mas não é a mesma. Cinderela vai até o baile para encontrar seu Príncipe Encantado, mas ele a chama de prostituta e cospe em seu rosto. Para se vingar, ela usa o sapatinho de cristal como arma para matar todos na festa.

Essa é a premissa de "A Maldição de Cinderela", em cartaz nos cinemas, que reimagina o conto de fadas como uma história de horror, na esteira de uma onda de filmes que transformam personagens incontornáveis da infância em assassinos. Antes dela, em março, foi a vez da Alice, personagem de Lewis Carroll, ganhar seu "Alice no País das Trevas".

Cena de 'Ursinho Pooh: Sangue e Mel'
Cena de 'Ursinho Pooh: Sangue e Mel' - Divulgação/Divulgação

No caso de Cinderela, aliás, haverá uma dose dupla, já que a distribuidora A2 Filmes lança no segundo semestre "A Vingança de Cinderela", filme com elenco e produtores diferentes, mas com a mesma premissa do que está em cartaz.

Em comum, esses filmes têm protagonistas que entraram em domínio público. Nos Estados Unidos, a legislação determina a extinção dos direitos autorais 95 anos depois da data de publicação da obra original. Após esse período, portanto, seu uso é permitido para qualquer pessoa, em qualquer tipo de obra de arte.

Foi o caso do Ursinho Pooh, que deixou de ser propriedade da Disney em 2022 e, de imediato, virou protagonista do filme "Sangue e Mel", lançado no ano passado. Nele, o urso vira um assassino que busca vingança após ser abandonado. A aposta deu certo e rendeu uma sequência, já lançada.

Outro símbolo infantil que vai ter um futuro parecido é Mickey Mouse. "O Vapor Willie" —curta-metragem lançado em 1928, com a primeira aparição do personagem— entrou em domínio público em janeiro. No mesmo dia, a produtora Into Frame Productions anunciou "Mickey's Mouse Trap", um terror com um assassino que usa uma fantasia do camundongo igual à que é vista no curta da Disney.

E não vai parar por aí. Só a A2 Filmes vai lançar neste ano nos cinemas brasileiros duas produções desse estilo —"Pinocchio: Unstrung" e "Sleeping Beauty's Massacre", que reimaginam as histórias de
Pinóquio e Bela Adormecida.

Além de personagens em domínio público, esses filmes têm um orçamento considerado baixo para os padrões da indústria cinematográfica internacional. "A Maldição de Cinderela", por exemplo, custou cerca de US$ 100 mil, ou R$ 556 mil. Em média, uma produção desse subgênero do terror conhecido como "trash" feita pela A24, um dos estúdios queridinhos do momento, tanto do público quanto da crítica, sai por US$ 1 milhão.

"Ursinho Pooh: Sangue e Mel" custou cerca de US$ 50 mil e teve uma bilheteria de US$ 7,7 milhões, o que fez dele uma aposta para o cinema, que vive uma crise e tem investido de dezenas a centenas de milhões de dólares em produções que nem se pagam.

Diretora do novo filme de Cinderela, Louisa Warren afirma que "as pessoas gostam de assistir a algo que já conhecem". "A sensação é a mesma de quando usam a melodia de um sucesso da música do passado em uma canção de agora. Essa familiaridade deixa o público muito instigado."

Na visão da cineasta, o clássico também estimula a criação desses filmes. "Os contos de fada originais são muito sombrios", diz ela, que já planeja uma continuação. "Sentei com o roteirista e comecei a pensar na direção para a qual queria levar a história. Pensamos em formas criativas de matar os personagens."

A diretora tem experiência com releituras. Ela fez cinco filmes da série "A Fada dos Dentes", que reimagina a fada como entidade assassina, e só neste ano lançou outros quatro projetos. Ela diz, porém, que "A Maldição de Cinderela" é um desafio diferente na sua linha de produção, porque considera que o público agora tem expectativas mais altas.

"Em longas como 'Fada dos Dentes', você tem maior liberdade, porque não há uma história. Só há uma criatura ou entidade", afirma Warren. "Com Cinderela, você tem uma história com início, meio e fim, e pode brincar para valer."

Pesquisador de cinema de horror, Carlos Primati diz que a fórmula desses filmes não é nova, mas o uso do domínio público renova o seu sentido. "É um exemplo do 'cinema de exploração', em que se apela à curiosidade do espectador para o atrair a filmes que não são muito bem feitos, mas têm esse chamariz irresistível."

Segundo Rhys Frake-Waterfield, diretor dos filmes do Ursinho Pooh do mal, o segredo do sucesso está na expectativa do público. "Todo mundo conhece os personagens e é interessante para muitos ver as histórias reinventadas", diz. "O prazer está na classificação indicativa mais restrita. Ver o Pooh cortar cabeças desperta uma sensação intrigante."

O cineasta é outra figura que investe no nicho. Desde março, ele trabalha em "Poohniverse", uma nova sequência da franquia, que une a versão sombria dos personagens de A. A. Milne, o criador de Pooh, com outros símbolos infantis. Entre os nomes já confirmados para a obra, estão Peter Pan, Bambi, Pinóquio e Chapeleiro Maluco. São todos personagens que, é claro, já caíram em domínio público.

"O filme incorpora um monte de ideias que tive para um terceiro volume da série 'Sangue e Mel'. A mitologia tem um potencial único de expansão, muito além dos personagens, e é capaz de introduzir elementos únicos. Estamos construindo um mundo inteiro com um potencial que é imenso."

Apesar da ambição dos produtores desses filmes, Primati, o pesquisador, diz que o valor artístico dessas obras é limitado. "Passado esse momento de surpresa pela 'novidade' e 'estranheza', esses filmes estão fadados ao esquecimento. Até surgir a próxima tendência."

A Maldição de Cinderela

  • Quando Em cartaz
  • Classificação 18 anos
  • Elenco Kelly Rian Sanson, Danielle Scott e Harry Boxley
  • Produção Reino Unido, 2024
  • Direção Louisa Warren

Conheça os filmes

NOS CINEMAS

A Maldição de Cinderela
Reino Unido, 2024. Dir.: Louisa Warren. Com Kelly Rian Sanson, Danielle Scott e Harry Boxley. 18 anos

NO STREAMING

Ursinho Pooh: Sangue e Mel
Reino Unido, 2023. Dir.: Rhys Frake-Waterfield. Com Nikolai Leon, Maria Taylor, Craig David Dowsett. 18 anos. Disponível no Amazon Prime Video

Fada dos Dentes
Estados Unidos, 2019. Dir.: Louisa Warren. Com Claudine-Helene Aumord, Manny Jai Montana, Mike Kelson. 18 anos. Disponível no Pluto.tv, serviço de streaming que é gratuito

EM PRODUÇÃO

A Vingança de Cinderela
Estados Unidos, 2024. Dir.: Andy Edwards. Com Lauren Staerck, Natasha Henstridge, Stephanie Lodge. Estreia em 22 de agosto nos cinemas

Peter Pan's Neverland Nightmare
Reino Unido, 2024. Dir.: Scott Chambers. Com Martin Portlock, Megan Placito, Kit Green. Sem previsão de lançamento no Brasil

Mickey's Mouse Trap
Canadá, 2024. Dir.: Jamie Bailey. Com Simon Phillips, Nick Biskupek, Damir Kovic. Sem previsão de lançamento no Brasil

Pinocchio: Unstrung
Reino Unido, 2025. Dir.: Rhys Frake-Waterfield. Sem elenco informado. Sem previsão de lançamento no Brasil

Sleeping Beauty's Massacre
Estados Unidos, 2024. Dir.: Louisa Warren. Com Lora Hristova, Charlotte Coleman, Danielle Scott. Sem previsão de lançamento no Brasil

Poohniverse: Monsters Assemble
Reino Unido, 2025. Dir.: Rhys Frake-Waterfield. Com Roxanne McKee, Jophielle Love, Lewis Santer. Sem previsão de lançamento no Brasil

FORA DE CARTAZ

Alice no País das Trevas
Estados Unidos, 2024; Dir: Richard John Taylor. Com Rula Lenska, Steve Wraith, Lizzy Willis. 18 anos

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