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'A Casa do Dragão' volta com briga de mães sob promessa de frear violência gratuita

Série prelúdio de 'Game of Thrones' chega à segunda temporada mais atenta a drama e política e com menos cenas chocantes

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Cartaz de 'A Casa do Dragão', que chega à sua segunda temporada

Cartaz de 'A Casa do Dragão', que chega à sua segunda temporada Divulgação

São Paulo

Em "A Casa do Dragão", o embate é entre duas feras que querem proteger seus filhotes. Mas não dragões. São Rhaenyra Targaryen e Alicent Hightower, que na nova temporada da série abandonam qualquer carinho que já nutriram uma pela outra e tomam partido na briga dos filhos, cujas travessuras adolescentes acabaram num assassinato na primeira leva de episódios, lançada há dois anos.

História à parte, apostar nas personagens femininas faz com que "A Casa do Dragão" atenda a uma demanda antiga de parte dos fãs de "Game of Thrones", que por uma década acumulou prêmios e prestígio, mas também uma mesma reclamação —a de que exagerava nas cenas de violência e abuso sexual com mulheres.

Cena da segunda temporada da série 'A Casa do Dragão' - Divulgação

O segundo ano do seriado —que se passa antes de "Game of Thrones" e volta a ser exibido pela HBO neste domingo—, embora reprise o mesmo misto de espadas e fofocas de "Game of Thrones", tem a diferença notável de priorizar os dramas das mulheres, sobretudo os de Rhaenyra e Alicent, em relação aos dos homens, que viram quase coadjuvantes.

Agora, com a morte do rei Viserys, pai de Rhaenyra e marido de Alicent, elas se enfrentam pela coroa, a primeira para o seu próprio desfruto, e a outra para agraciar o filho mais velho. "É isso que torna ‘A Casa do Dragão’ única no cenário de fantasia, e diferente da série original", diz Ryan Condal, cocriador e roteirista da produção.

"A razão de termos escolhido contar essa história, e não outra [do universo de ‘Game of Thrones], é o fato de termos duas mulheres no centro, mesmo que sob o controle do patriarcado, lutando contra ele", ele acrescenta.

Outro papel importante é o de Rhaenys Targaryen, tia da protagonista Rhaenyra, conhecida como a Rainha que Nunca Foi —no passado, ela disputou o trono com o irmão Viserys, mais novo que ela, mas perdeu justamente por ser mulher.

"Desde que ‘Game of Thrones’ estreou, em 2011, o mundo mudou muito. Houve o Me Too", diz a atriz Eve Best, intérprete de Rhaenys, mencionando o movimento em que mulheres denunciaram casos de assédio e abuso cometidos por homens da indústria audiovisual. "Hoje vemos toda uma geração de mulheres ascendendo a cargos de governança."

"A discussão da série é tão palpável que me faz relacioná-la com a Câmara dos Comuns, do Reino Unido, um ambiente masculino e machista. É muito parecido com o que interpretamos no set de gravações, como as cenas no conselho do reino em que Rhaenyra é intimidada ou ignorada por um grupo de homens."

A polêmica sobre a violência contra mulheres em "Game of Thrones" ganhou força num capítulo da quinta temporada, lançada há quase dez anos, quando a personagem Sansa Stark foi estuprada pelo marido numa cena que muitos espectadores viram como desnecessária para o roteiro, além de desconfortável.

À época, parte dos espectadores ainda reclamaram que a série pregava a ideia de que as garotas da série dependiam de violências desse tipo para terem alguma evolução em seu arco narrativo.

A primeira temporada de "A Casa do Dragão" já era mais contida nisso, mas, a julgar pelos primeiros dois capítulos da segunda temporada, aos quais a imprensa pôde assistir antes do lançamento, a série volta freando ainda mais as cenas de crueldade. No primeiro capítulo, há um assassinato bárbaro de um bebê, mas a câmera desvia da ação.

"‘Game of Thrones’ construiu sua reputação cruzando o limite e então criando outra barreira para cruzar de novo. Brutalidade e sexo são intrínsecos a esse mundo, mas precisa haver uma razão para inseri-los na história", diz Condal, o roteirista.

Ele escreve os episódios de "A Casa do Dragão" se baseando no livro "Fogo e Sangue", publicado no Brasil pela editora Suma. A obra é de George R. R. Martin, o criador deste universo fictício.

O escritor não esteve envolvido com a nova temporada de "A Casa de Dragão", porém. Condal diz que ele anda ocupado escrevendo "vários livros e outras séries de TV".

Martin, que tem 75 anos, está há anos prometendo concluir "As Crônicas de Gelo e Fogo", a série de livros que deu origem a "Game of Thrones". Ela teve o quinto volume publicado em 2011, mas ainda há dois livros planejados.

Martin é tido como um dos nomes mais relevantes da fantasia contemporânea. Um de seus méritos foi criar uma história em que é difícil definir quem é bom ou mau, o que fez a série despertar amores e ódios por seus personagens nada maniqueístas.

"Somos criaturas complexas", diz Steve Toussaint, ator que dá vida a Corlys, lorde dos Velaryon, aliados da protagonista Rhaenyra. "Existem políticos que eu não suporto ouvir discursarem, mas que com certeza são adoráveis entre seus amigos. Nos cabe tentar retratar isso de forma fiel, porque é como o mundo opera."

Se nos tempos de "Game of Thrones" os fãs se dividiam entre torcer para alguns poucos mocinhos, em "A Casa do Dragão" é mais difícil decidir se é a madrasta ou a entrada quem merece prosperar. A HBO se aproveitou disso para divulgar a série ao criar vídeos em que as bandeiras dos exércitos das personagens foram colocadas digitalmente em pontos turísticos de vários países.

Um dos escolhidos foi o bondinho do Pão de Açúcar, no Rio de Janeiro, que segura a bandeira verde da família de Alicent, enquanto o Castelo de Chapultepec, na Cidade do México, foi coberto com o símbolo preto de Rhaenyra.

Essa ambiguidade inflama até o elenco, caso de Fabien Frankel e Matt Smith, que dão vida a Daemon Targaryen e Criston Cole, que ocupam lados opostos na série. "As pessoas existem na ambiguidade que permeia o mundo. Essas figuras não são boas nem más, não são diferentes nem indiferentes. Elas são tudo ao mesmo tempo, e isso é ser humano", diz Frankel.

A Casa do Dragão - 2ª temproada

  • Quando Neste domingo, dia 16, na HBO e na plataforma de streaming Max
  • Autoria Ryan Condal e George R. R. Martin
  • Elenco Emma D'Arcy, Olivia Cooke e Matt Smith
  • Produção EUA, 2024
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