"Retratos Fantasmas", de Kleber Mendonça Filho, foi escolhido para representar o Brasil na disputa por uma vaga na categoria de melhor filme internacional no Oscar do ano que vem. O anúncio foi feito nesta terça pela Academia Brasileira de Cinema e Artes Audiovisuais.
O documentário do cineasta pernambucano é como uma colcha de retalhos que costura sua própria filmografia enquanto tece a história dos cinemas de rua de Recife, cidade natal de Mendonça. A sala do seu apartamento em Recife, cenário de outros longas do diretor, como "Eletrodomésticas" e "O Som Ao Redor", volta a aparecer no filme, por exemplo.
"Retratos Fantasmas" disputou a vaga com 28 longas, dos quais cinco foram finalistas —"Estranho Caminho", de Guto Parente, "Noites Alienígenas", de Sergio de Carvalho, "Nosso Sonho - A História de Claudinho e Buchecha", de Eduardo Albergaria, "Pedágio", de Carolina Markowicz, e "Urubus", de Claudio Borrelli.
Esta é a segunda vez que um documentário é escolhido pela comissão para representar o Brasil na disputa pelo prêmio. A primeira ocasião foi para a premiação de 2021, há três anos, com o filme "Babenco - Alguém Tem que Ouvir o Coração e Dizer: Parou", produção de Bárbara Paz sobre o cineasta Héctor Babenco.
O filme marca também a segunda ocasião em que Kleber Mendonça Filho representa o país na disputa pelo prêmio. Seu longa-metragem de estreia, "O Som ao Redor", de 2012, foi escolhido pela comissão no ano seguinte para o posto. A produção acabou de fora do Oscar daquele ano.
Depois disso, o diretor teve produções envolvidas em dois anos tumultuados para a comissão. Em 2016, o segundo longa de Mendonça Filho, "Aquarius", era o favorito para representar o país, mas foi desbancado por "Pequeno Segredo", de David Schurmann, que também não materializou indicação no prêmio da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas.
Na época, a escolha feita pelo Ministério da Cultura —então responsável pela formação da comissão— recebeu duras críticas, em especial por "Aquarius" ter sido considerado um sucesso de bilheteria e "Pequeno Segredo" ser escolhido sem uma data de estreia no circuito.
O próprio diretor comentou o caso na ocasião. Ele disse que a seleção de "Pequeno Segredo" era uma retaliação do governo de Michel Temer ao seu filme, devido a uma manifestação do cineasta e da equipe contra o impeachment de Dilma Rousseff na estreia da produção no Festival de Cannes.
Já a outra ocasião em que Mendonça Filho ficou no quase como representante brasileiro no Oscar foi em 2019. Naquele ano, a comissão preferiu inscrever "A Vida Invisível", de Karim Aïnouz, ao invés de "Bacurau", com direção do cineasta e de Juliano Dornelles.
A escolha dividiu o público, mas dessa vez pelos holofotes dados aos dois projetos. Enquanto "A Vida Invisível" tinha vencido a mostra paralela Um Certo Olhar de Cannes, "Bacurau" havia levado o prêmio do júri na mesma edição do festival. A seleção do longa de Aïnouz, se especulou naquele ano, se deu pelo acordo de distribuição internacional que a produção tinha com a Amazon —o que também não resultou em uma indicação ao país.
O Brasil não é lembrado na categoria de filme internacional do Oscar desde 1999, quando "Central do Brasil", de Walter Salles, foi indicado ao prêmio e perdeu para "A Vida é Bela". Depois disso, o país chegou a ser pré-selecionado para a edição de 2008 com "O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias", de Cao Hamburguer, mas não voltou à categoria desde então.
"Retratos Fantasmas" agora deve passar pelo circuito de festivais americano, com uma exibição de estreia no país no Festival de Nova York em 9 de outubro. A organização do evento anuncia que Kleber Mendonça Filho participará com um debate após a primeira sessão.
A cerimônia do Oscar 2024 está marcada para 10 de março, e o anúncio dos finalistas que vão concorrer ao prêmio deve acontecer em janeiro.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.