Faleceu ontem, em sua casa na Califórnia, o ator e diretor norte-americano Alan Arkin. Tinha 89 anos e uma carreira que atravessou vários momentos do cinema nos EUA.
Nas primeiras notícias de sua morte, aqui ou no exterior, nove entre dez destacaram o Oscar de melhor ator coadjuvante conquistado por "A Pequena Miss Sunshine", de 2006.
O filme de Jonathan Dayton e Valerie Faris é mesmo simpático, e Arkin está sublime como o avô da pequena e então desconhecida Abigail Breslin.
Vencer o Oscar como melhor ator coadjuvante vale mais do que ser indicado como ator principal, mas é certo que as duas indicações que recebeu por essa categoria alavancaram sua carreira nos anos 1960.
Primeiro, com "Os Russos Estão Chegando! Os Russos Estão Chegando!", de 1966, comédia farsesca dirigida por Norman Jewison em que o ator interpreta um dos russos que desembarca numa pequena ilha no nordeste dos EUA e assusta a pacata cidadezinha local.
Depois com "Por Que Tem de Ser Assim?", longa de 1968 dirigido por Robert Ellis Miller e protagonizado por Arkin, num difícil papel de deficiente auditivo. Também no elenco, a jovem e talentosa Sondra Locke, futura esposa de Clint Eastwood, com quem atuou em belos filmes.
Nesses papeis, o ator parece ter encontrado o seu lugar, numa época que favorecia rostos comuns, sem o glamour da era dos estúdios. Ainda assim, não tinha porte para ser galã, tampouco comicidade o bastante para provocar gargalhadas na plateia.
O outro filme que protagonizou em 1968, o simpático "Inspetor Clouseau", de Bud Yorkin, é uma espécie de subproduto da série "Pantera Cor de Rosa", protagonizada por Peter Sellers.
Sem muita aptidão para o humor mais rasgado, encontrou um tipo de persona cômica, baseada em ironia, que se encaixava perfeitamente em um dos personagens mais importantes de sua carreira, o piloto de bombardeiro John Yossarian, de "Ardil 22", o filme mais politizado de Mike Nichols.
A loucura da guerra envolve esse personagem de tal modo que permite ao cineasta construir sua crítica sobre escombros satíricos que encontram no rosto do ator a perfeita expressão de perplexidade. É um filme melhor que o badalado "M.A.S.H.", e Arkin tem grande responsabilidade por este feito.
Em 1971, estreia na direção com "Pequenos Assassinatos", comédia bem estranha protagonizada por Elliott Gould, com Donald Sutherland como um pastor maluco. Como geralmente são os filmes dirigidos por atores, este tem como seu grande trunfo a maneira como o elenco foi escolhido.
Os créditos de direção de Arkin, contudo, não são muitos. Seus outros trabalhos são curtas, episódios de séries e um telefilme, além do segundo e último longa que dirigiu para cinema, a decepcionante comédia "Os Incendiários Estão Chegando", também protagonizada por ele.
Nos anos 1970, o ator se acostumou a brilhar em filmes menos ambiciosos artisticamente, como "O Último Don Juan", 1972, de Gene Saks, "Duas Ovelhas Negras", 1974, de Richard Rush, ou "Visões de Sherlock Holmes", 1976, de Herbert Ross.
Neste último, Arkin interpreta Sigmund Freud, com quem o famoso detetive começa a se consultar para se livrar de um vício em cocaína que está prejudicando o seu trabalho.
Nos anos seguintes, poucos longas que protagonizou merecem maior atenção: o agradável e limitado "Um Casamento de Alto Risco", 1979, de Arthur Hiller, e o curioso "O Grande Sonho de Simon", 1980, de Marshall Brickman.
Sem conseguir papéis importantes em filmes à altura de seu talento, entrou em declínio, refugiando-se, quando possível, em telefilmes e séries de TV.
Até que foi redescoberto como coadjuvante. Um ator veterano que soube se reinventar escolhendo papeis estratégicos em filmes realizados por diretores mais ambiciosos.
O primeiro deles foi "Edward Mãos de Tesoura", de 1990, um dos melhores filmes de Tim Burton. Logo em seguida vieram "Havana", 1990, de Sydney Pollack, e "O Sucesso a Qualquer Preço", 1992, de James Foley, em que faz parte de um elenco poderoso com um roteiro de David Mamet.
Novo período sem filmes marcantes, até que em 1997 brilhou como o embaixador americano sequestrado em "O Que é Isso, Companheiro?", de Bruno Barreto. No mesmo ano, teve um papel menor num filme superior, "Matador em Conflito", de George Armitage.
Daí em diante, trabalhou com alguma frequência, na TV ou no cinema, em obras de resultados diversos, o que é natural para qualquer ator.
Em 2013, recebeu nova indicação para ator coadjuvante, por "Argo", de Ben Affleck. Não foi premiado, mas o filme foi o principal vencedor da noite.
Com a consagração de seu único Oscar, vencido na cerimônia de 2007, teve um reconhecimento próximo ao que merecia. Foi um grande ator, que continuará vivendo por meio dos filmes.
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