Na lista de mais vendidos no mês de março publicada pelo site especializado em mercado editorial PublishNews, na categoria ficção, estão livros como "Torto Arado", de Itamar Vieira Júnior, e "Os Sete Maridos de Evelyn Hugo", de Taylor Jenkins Reid. Só que, entre os 20, aparecem alguns quadrinhos japoneses, como os volumes de número um, 22 e 23 de "Demon Slayer", de Koyoharu Gotouge, e o primeiro de "My Hero Academia", Kohei Horikoshi.
Esses são alguns dos responsáveis pela nova onda de mangás, que ganhou os holofotes em 2020, mas se consolidou em 2021. E a demonstração veio com a notícia da compra de 70% da editora JBC —especializada no gênero— pelo grupo Companhia das Letras. Entre os títulos que a editora adquirida possui, está o já citado "My Hero Academia", em que a coleção já comercializou mais de 600 mil exemplares. Além disso, há no catálogo obras famosas, como "Death Note", "Sakura Cardcaptor" e "Akira".
"Nosso interesse editorial pelos mangás já existe há algum tempo e foi se sedimentando à medida que o mercado dessa categoria veio crescendo no mundo todo nos últimos anos", destaca o diretor-executivo do grupo, Matinas Suzuki Jr.
A compra representa bem uma retomada do mercado de mangás, que parecia ter se transformado em um nicho nos últimos anos. O Google Trends, ferramenta que mede as pesquisas no Google, mostra que a última vez que o termo mangá esteve tão em alta foi em janeiro de 2014. E o principal responsável por esse novo sucesso do gênero foram os animês, suas adaptações em animação.
"Com a internet e a ascensão dos streamings, o consumo de conteúdo asiático se tornou natural. Essa aproximação de conteúdos ajudou o crescimento e popularização dos mangás nas gerações mais novas, deixando de ser apenas um nicho e se tornando algo cada vez mais globalizado", conta a analisa de marketing de mangás da editora Panini, Camila Fernandes.
A editora publica o título de maior sucesso do mercado atualmente, "Demon Slayer", além de outros destaques recentes, como "Ataque dos Titãs", de Hajime Isayama, e "Chainsaw Man", de Tatsuki Fujimoto, que está no top 20 de mais vendidos do ano em ficção na PublishNews.
Os mangás apareceram no Brasil junto com o crescimento da imigração japonesa, a partir da metade do século 20. Foi nesse período que essas obras começaram a fazer sucesso no Japão, com Osamu Tezuka —autor de incontáveis obras, tais como "Astro Boy", "A Princesa e o Cavaleiro" e "Dororo".
Porém, apenas no fim dos anos 1990 e no início dos anos 2000 os quadrinhos nipônicos ganharam destaque pelo Brasil, com a ascensão de diversas editoras, como a JBC (em 1992) e a Conrad (fundada em 1993). Além disso, a popularização na TV aberta fez obras como "Cavaleiros do Zodíaco" e "Dragon Ball" ganharem espaço nas estantes.
No entanto, os mangás pareceram ir perdendo força no país aos poucos. Em 2011, a Conrad anunciou que não publicaria mais "One Piece" nem "Dragon Ball", por exemplo. Os sinais de sobrevida apareceram após o início da pandemia.
Uma pesquisa da Associação Nacional de Livrarias com a plataforma Growth from Knowledge mostra que o gênero "HQ/comics/mangás" passou de quinto lugar em 2019 para segundo lugar em 2020 entre os livros mais vendidos do país.
Em 2021, quatro mangás apareceram na lista de mais vendidos do ano em ficção no PublishNews. Entre eles, dois volumes de "Demon Slayer", um de "My Hero Academia" e uma edição especial de "Naruto".
Com a boa fase editorial, cada vez mais edições especiais aparecem no mercado. Sucessos dos anos 2000 internacionalmente, "Death Note", "Soul Eater" e, mais recentemente, "One Piece", ganharam edições de colecionador. Além disso, editoras menores também apostam nesse tipo de produto especial para atrair o público, como a NewPOP (nascida em 2007) e a Pipoca e Nanquim (iniciada em 2017).
As opções são diversas, até porque os mangás digitalmente também têm ganhado espaço.
"A tendência é que as ofertas dos digitais, tanto formato ebook quanto no simulpub (em que capítulos são publicados digitalmente ao mesmo tempo em que no Japão), cresça cada vez mais", completa a diretora geral da JBC, Marina Shoji.
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