O dicionário francês Le Robert adicionou, em sua edição online, o pronome "iel" para designar pessoas não binárias. A atitude gerou intenso debate na imprensa francesa, com muitas figuras políticas se posicionando a respeito dessa discussão. O termo é formado a partir a junção dos pronomes pessoais masculino e feminino —"il" e "elle", em francês.
Le Robert, um dos principais dicionários da França, afirmou em nota nesta quarta (17) que há algumas semanas adicionou o pronome na sua lista de palavras após seus pesquisadores terem observado um crescente uso do termo em meses recentes.
Em português, há pronomes neutros como "ile" e "dile" ou "elu" e "delu", ainda não dicionarizados e pouco usados no contexto cotidiano. Apesar disso, seu uso é mais frequente nas redes sociais, principalmente entre ativistas transgênero, e se espalha em produções da indústria do entretenimento.
Na língua inglesa, o termo correpondente é o pronome "they", usado para se referir a pessoas que não se identificam com os gêneros masculino e feminino. Muitas figuras públicas —a exemplo da vice-presidete americana Kamala Harris— especificam nas redes sociais os pronomes pessoais pelos quais elas preferem ser chamadas, mostrando solidariedade às pessoas não binárias.
O governo francês já se mostrou contra a ideia, e o ministro da Educação resistiu a tentativas de incorporar a lingugem inclusiva no currículo escolar.
"A escrita inclusiva não é o futuro da língua francesa", disse o ministro Jean-Michel Blanquet através de sua conta no Twitter, acrescentando que ele apoia o prostesto do parlamentar François Jolivet contra a ação do Le Robert.
Numa carta à Academia Farancesa, instituição que dempenha a função de guardiã da língua, Jolivet escreveu que a introdução das palavras "iel", "ielle", "iels" e "ielles" é precursora da ideologia "lacradora", que destruiriam os valores da cultura francesa.
"A campanha solitária do Le Robert é uma intromissão ideológica que mina nossa linguagem... Esse tipo de iniciativa mancha nossa língua e mais divide seus usuários do que os une", ele escreveu.
Charles Bimbenet, diretor do Le Robert, disse que dicionários incluem muitas palavras que refletem ideias ou tendências sem necessariamente subscrevê-las; e que, uma vez que a palavra "iel" é cada vez mais usada, é últil incluir o verbete.
"A missão do Robert é observar a evolução de uma língua francesa diversa e reportá-la. Definir as palavras que descrevem o mundo nos ajuda a compreendê-lo melhor", ele escreveu.
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