Quando Taylor Swift anunciou seu penúltimo álbum, “Lover”, ela apareceu contracenando com Brendon Urie —vocalista do Panic! at The Disco— num clipe colorido e megalomaníaco, da música “ME!”. Para o álbum anterior, “Reputation”, apresentou a persona vingativa em “Look What You Made Me Do”, encarnando uma espécie de zumbi num cemitério e ostentando ouro numa banheira.
Os dois trabalhos mais recentes da cantora não renderam o quanto ela queria. Ainda que tenham sido bem recebidos pela crítica, não tiveram o desempenho de vendas à altura do histórico da cantora, uma das grandes estrelas da música atual.
Além disso, falharam em ganhar prêmios no Grammy, algo que —sabemos, graças ao documentário recente “Miss Americana”— tem uma importância ainda maior para Swift.
Talvez por isso seu novo disco, “Folklore”, chegou aos serviços de streaming menos de 24 horas depois de ter sido anunciado. Na verdade, a falta de alarde não está só no esquema de divulgação, mas também na capa —uma imagem da cantora, distante, em preto e branco, numa floresta— e no conteúdo musical.
Apesar do nome, “Folklore” não é um disco de folk, mas um conjunto de canções soturnas e reflexivas, calcadas em pianos ou violões e arranjos melódicos de cordas. De toda forma, é o trabalho com o menor apelo pop de toda a carreira da cantora.
“Estou bem, interessada em novas coisas”, ela canta em “The 1”, a primeira faixa . A frase é tanto um anúncio quanto um alento. Swift está cantando sobre tudo o que sempre cantou —relacionamentos, num estilo que funciona como a versão musical de uma comédia romântica—, agora com um olhar mais maduro e seguro.
Em faixas como “Mirrorball”, sua voz é manipulada em harmonias viajadas e suaves, enquanto ela se apresenta crente num amor que já parece perdido –“posso mudar tudo sobre mim para me encaixar/ você não é como os comuns”.
Ela medita sobre destino e desfechos e tenta entender as mudanças com uma postura mais serena. Em “Folklore”, o término não parece ser um dia de sofrimento intenso, e sim semanas de uma dor que pode ser controlada, mas que visita com frequência os pensamentos da cantora.
A grande novidade, no entanto, está na produção. Em vez do nome do momento da indústria do pop, como Jack Antonoff —com quem trabalhou em seus três últimos discos e aparece em só seis faixas no novo trabalho—, ela apostou em artistas consagrados do indie folk. A principal presença é Aaron Dessner, guitarrista da banda The National que, a distância, atuou como cocompositor ou coprodutor em 11 das 13 faixas do álbum.
Dessner é conhecido pelas texturas sombrias e sonoridade espaçada, uma abordagem que transparece em “Folklore”. Ao longo das 16 faixas, Swift soa como nunca antes. Ela aparece com uma voz incomumente limpa, e o piano e violões que sempre a acompanharam agora soam esparsos e distantes, com arranjos delicados que crescem e se multiplicam acompanhando o drama das músicas.
O disco dispensa tanto as batidas quanto os arranjos eletrônicos, que abundavam em “Reputation”, de 2017, e apareciam ainda com destaque em “Lover”, do ano passado. Esteticamente, “Folklore” lembra tanto “Morning Phase”, disco de 2014 de Beck que ganhou o Grammy de álbum do ano, quanto “For Emma, Forever Ago”, de 2007, do cantor e produtor Bon Iver.
Não à toa, Bon Iver é a única participação do álbum, na faixa “Exile”. Um dos pontos altos de “Folklore”, a música é um dueto —no melhor estilo “Shallow”— em que Iver faz um vocal estranhamente grave enquanto a dupla canta o fim de um relacionamento de diferentes perspectivas.
Apesar de "Folklore" soar deslocado em relação aos últimos discos de Swift, os fãs antigos vão reconhecer a cantora tanto no estilo de composição quanto nas melodias vocais. A melancolia e a desilusão amorosa remete à primeira fase da cantora, de quando uma Swift adolescente despontava e ganhava o mainstream no fim da década de 2000.
Na prática, “Folklore” não é um disco despretensioso, mas as pretensões de Swift mudaram. Em vez de singles com a cara do que atualmente habita o topo da parada da Billboard, ela se aprofunda naquilo que sempre foram suas virtudes —suas letras e sua abordagem pessoal para temas românticos.
De certa forma, em “Folklore”, Swift parece ter desistido de buscar no mundo pop o próximo passo de sua carreira. Agora, ela procura a originalidade na própria intimidade —um caminho que parecia natural depois de “1989”, de 2014, e de “Red”, de 2012, mas que ficou de lado nos últimos discos.
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