“Viva a liberdade de expressão!” Foi com essas palavras que a atriz Fernanda Montenegro saiu do palco do Theatro Municipal nesta segunda (18), após uma leitura dramática de “Nelson Rodrigues Por Ele Mesmo”, adaptação do livro de mesmo nome em que pinça trechos de entrevistas do dramaturgo.
Num discurso improvisado após aplausos de pé que duraram quatro minutos, Fernanda declarou que a obra de Rodrigues, que era rechaçado por ambas a esquerda e a direita, é uma prova de que a arte podia unir o país.
“Precisamos sair da radicalização”, disse. “O teatro tem todas as posições políticas, todos os caminhos. Mas precisamos levar isso para fora do teatro.”
A leitura, que encerrou o projeto Teatro no Municipal, com apresentações de espetáculos ao preço popular de R$ 5, lotou o teatro.
Os 1.400 ingressos se esgotaram em seis horas, segundo a organização. Já a fila para comprá-los durou dez horas, rodeando duas vezes o quarteirão do Municipal.
Cerca de 60 pessoas que não conseguiram ingressos se enfileiravam na lateral da escada antes do espetáculo, queixando-se da falta de organização do Municipal.
Eles reclamavam de informações contraditórias por parte da equipe do teatro. Segundo eles, enquanto alguns funcionários haviam dito que restavam alguns ingressos, outros pediam que eles fossem embora.
Quase no início da sessão, às 20h, a organização liberou a entrada, gratuita, de cerca de metade dos integrantes da fila. Ao lado, cambistas ofereciam o ingresso por até R$ 300.
Hugo Possolo, diretor do Municipal, afirmou que a organização foi surpreendida pela demanda do público. Ao término do espetáculo, pediu desculpas à plateia.
Questionados sobre o que os motivara a enfrentar a fila, tanto aqueles que tinham conseguido bilhetes quanto os mal-sucedidos tinham a mesma resposta. “É a Fernanda Montenegro!”, afirmavam.
Quatro estudantes da Universidade Federal do ABC (UFABC) contavam que tinham chegado às 7h para assistir à Fernanda. Três deles nunca tinham ido ao Municipal.
Aparecida de Oliveira, 49, também fez sua iniciação no teatro, acompanhando uma aposentada de 93 anos que preferiu não se identificar. “Só de ver a Fernanda vai ser ótimo.”
O espetáculo, que começou com 20 minutos de atraso, foi antecedido por aplausos de pé por quase um minuto quando Fernanda entrou em cena.
Esta é a terceira vez que a atriz se apresenta no palco em menos de dois meses.
No início de outubro, ela leu partes de sua autobiografia recém-lançada pela Companhia das Letras como parte do Festival Mário de Andrade. Ao lado de Zé Celso, afirmou que “sistema nenhum vai nos calar”, em resposta aos recentes episódios de censura. No mesmo mês, viu o público cantar parabéns para ela ao acompanhar o diretor Karim Aïnouz e o produtor Rodrigo Teixeira na estreia do filme “A Vida Invisível”, na Mostra de Cinema de São Paulo.
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