Vice-presidente executivo da WarnerMedia, Jim Meza questiona a confusão nas regras do setor de mídia e telecomunicações no Brasil e afirma que não deverá investir mais no país “até que essa incerteza seja resolvida”.
A WarnerMedia é o nome da Time Warner desde o ano passado, quando a produtora de entretenimento, que inclui marcas como a HBO e a CNN, foi adquirida pela AT&T, operadora de telefonia e TV paga, de marcas como a Sky.
A junção das duas foi aprovada no Brasil pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica, o Cade, mas a chamada Lei do SeAC ou da TV paga, de 2011, cria empecilhos para que uma mesma firma seja produtora e operadora.
Essa questão, da chamada propriedade cruzada, “é claramente uma em que estamos interessados”, diz Meza, que veio ao Brasil participar do Pay-TV Fórum, em São Paulo.
“A lei do SeAC foi aprovada oito anos atrás”, acrescenta ele. “O setor e a tecnologia no mundo mudaram dramaticamente desde então. Os consumidores estão cada vez mais acessando conteúdo diretamente das empresas de mídia através da internet. Leis e normas precisam correr atrás dessa mudança.”
A confusão nas regras afeta a principal aposta do grupo hoje no mundo, o serviço de streaming HBO Max, que será lançado no início do ano que vem nos Estados Unidos para concorrer diretamente com Netflix, Amazon Prime Video e o também estreante Disney+, que será lançado daqui a três meses.
Questionado sobre a eventual chegada desse novo serviço ao Brasil, Meza respondeu que, “por causa da incerteza regulatória existente no país, o investimento direto não é atraente no momento, para nós”.
Sem definição quanto ao direito de produzir e explorar conteúdo local, Meza declara que o grupo não deverá “acrescentar qualquer dinheiro ao investimento brasileiro” já realizado, em ativos como Sky e HBO, até a situação se tornar mais clara.
No momento, o setor vive um conflito de liminares, envolvendo agências governamentais e empresas, e o debate sobre a aguardada revisão das leis que o regulam começa sem foco ou coordenação.
Mesmo com incertezas, Meza enfatiza que as produções originais e o licenciamento de conteúdo não devem sofrer redução no país. “Você tem de lembrar que, independentemente de cotas, o conteúdo local é imensamente importante para o sucesso no Brasil”, justifica.
Vai listando séries brasileiras como “Pacto de Sangue” e “Rua Augusta”, no ano passado, e “Turma da Mônica” e “Irmãos Freitas”, neste ano, para mostrar que a WarnerMedia “apoia pesadamente o trabalho de produtores locais”, inclusive “gastando milhões de reais” com licenciamento.
Sobre o HBO Max, o executivo diz estar “muito interessado em levar versões locais do serviço ao redor do mundo e particularmente à América Latina, com o Brasil entre as dez maiores economias do mundo”, daí os investimentos já feitos na região.
“É evidente que o streaming está se tornando um jogo global e, para ser competitivo com os gigantes de tecnologia, você também precisa ter escala global”, acrescenta, lembrando que 60% dos assinantes da Netflix, por exemplo, estão hoje fora dos EUA.
Ele prevê para o Brasil, com a crescente concorrência em streaming, uma onda semelhante àquela que presenciou em seu país, onde o número total de séries saltou de 33 em 2014 para 160 no ano passado.
“A concorrência por produções locais vai se intensificar muito”, o que beneficiaria não só criadores de conteúdo no país, mas principalmente “os consumidores brasileiros”.
O movimento alcançou o grupo antes mesmo do lançamento do HBO Max. Meza menciona que quase metade da audiência do final da última temporada de “Game of Thrones” foi digital, apesar de ainda se
concentrar na plataforma de streaming reconhecidamente limitada da HBO hoje.
Ele enfatiza que há pouco a série “Chernobyl”, sobre o acidente da usina nuclear na Ucrânia, “quebrou todos os recordes da HBO com perto de 60% de sua audiência total vindo de plataformas digitais”.
Sem dar detalhes, Meza diz que as pesquisas mostram que chegar atrasado à onda não deve atrapalhar o HBO Max, porque elas indicam que os usuários se dispõem a assinar “vários serviços”, não se limitando a Netflix, Amazon ou Disney+.
“Nós enxergamos uma oportunidade na concorrência com uma base diferenciada, aproveitando as décadas de experiência com narrativas premiadas, como agora com as 191 indicações que
recebemos ao Emmy”, diz.
Meza não dá detalhes sobre o novo serviço, mas analistas veem o Disney+ como sua maior ameaça nos EUA, dado o catálogo que está sendo montado, com Marvel, por exemplo, contra a DC da Warner. Também o preço: US$ 6,99 já anunciados para o Disney+, contra US$ 16 especulados para o HBO Max.
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