Em 1969, depois de jogar futebol num campo em São Cristovão, Paulinho da Viola foi abordado por João Araújo, então presidente da gravadora RGE, que disse estar aberto a propostas de novos discos. Na Portela desde 1964, o cantor pensou que pudesse ser interessante reunir os compositores veteranos da escola para gravar em estúdio.
Essa história, iniciada num vestiário no Rio, será celebrada nesta sexta (17) em São Paulo, com o show que reúne Paulinho e a Velha Guarda da Portela, assim batizado esse grupo de bambas do samba. Seguindo uma tendência forte de unir artistas, o rapper paulistano Criolo aceitou o convite de subir ao palco com eles.
O disco "Portela Passado de Glória", lançado em 1970, foi o resultado das gravações em dois dias, num estúdio pequeno em Botafogo. "Eu tinha um gravador grande, de fita, e gravei uns 26 ou 27 sambas com aqueles que foram lá", conta Paulinho à Folha.
Entre as 14 faixas que entraram no LP estão composições de Alberto Lonato, Ventura, Manacéa, Mijinha, Alvaiade e Fernando Santana, entre outros. A música que dá título ao disco é de Monarco, que na época ainda não tinha idade para entrar "oficialmente" na Velha Guarda.
Hoje, Monarco é o comandante do sempre renovado grupo, que depois gravaria outros discos, sem a participação de Paulinho. O show de sexta comemora os 95 anos da Portela e os 85 anos de Monarco. Para completar, também celebra o aniversário de um dos maiores compositores da escola, Candeia (1935-1978).
Em 1972 a Velha Guarda passou a existir como um grupo de verdade. "Ele foi o mote para que outras escolas de samba criassem cada uma a sua Velha Guarda", diz Paulinho.
Naquele ano, os compositores fizeram um show histórico no teatro da Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo, na celebração dos 50 anos da Semana de Arte Moderna. No projeto estava Elifas Andreato, que depois faria as capas dos discos de Paulinho e é o diretor artístico do show de sexta.
O convite a Criolo vem depois que, no ano passado, o rapper lançou um álbum de sambas autorais, "Espiral de Ilusão". "Foi um sonho antigo, mas as canções são recentes. Passei alguns dias meio que em transe. Esses sambas todos vieram e tive a sorte de ter perto de mim Ricardo Rabelo, com seu cavaco valente. Eu ia cantando, e ele foi indo atrás."
As quase 30 composições podem remeter à primeira infância de Criolo, que morava em favela de barracos de madeira. "O samba era muito forte ali, predominante. Não sei falar a você os nomes dos cantores, nem os títulos das músicas, mas sei que o ritmo me visitava ali na quebrada, até os meus oito anos. Depois mudamos de favela, aí com casa de alvenaria, o que travava um pouco o som. Mas nos barracos de madeira o som vazava."
A reunião de Paulinho, 75, e Criolo, 42, é mais uma das muitas colaborações que têm alimentado o mercado de shows no país nos últimos meses. No caso deles, com a motivação de uma celebração de gênero. Às vezes, é só um recurso para aumentar o público das apresentações numa época de crise.
A lista de shows divididos vai desde projetos mais segmentados, como Ivan Lins exercitando seu lado mais jazzístico ao lado de Gilson Peranzzetta, a encontros de artistas de extrema popularidade, como a turnê de Zeca Pagodinho e Maria Bethânia.
Próximas parcerias
17.ago
Ivan Lins & Gilson Peranzzetta, no Tupi or Not Tupi
24 a 26.ago
Mart'Nália & Paulinho Moska, no Sesc Ipiranga
26.ago
Fernanda Takai, Roberto Menescal & Marcos Valle, no Sesc Santana
6.set
Thiaguinho, Turma do Pagode, Sorriso Maroto & Pixote, no Espaço das Américas
21.set
Zeca Pagodinho & Marcelo D2, no Espaço das Américas
28.set
Beth Carvalho & Fundo de Quintal, no Credicard Hall
8.dez
Maria Bethânia & Zeca Pagodinho, no Credicard Hall
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