O Maglore sobressai no pop rock nacional desse fim de década: frequenta grandes festivais, como o Lollapalooza (2016), tem agenda de shows movimentada e soma milhões de ouvintes em serviços de streaming, como Spotify e Deezer.
Ao lado de nomes como Boogarins, O Terno, Letrux e Liniker e os Caramelows, o grupo é frequentemente apontado como a próxima grande coisa na jovem safra de rock e MPB.
Mas Teago Oliveira, nome e rosto à frente da banda baiana, ainda se lembra da penúria que sucedeu a mudança para São Paulo, há sete anos, quando ele e amigos deixaram as vidas em Salvador em busca do sonho de viver do rock.
“A gente não conseguia shows e, quando agendava, ganhava R$ 30 cada um; teve um mês que passei inteiro comendo lentilha”, recorda-se.
Associada à prosperidade, a leguminosa não explica o bom momento tanto quanto a consistência de “Todas as Bandeiras” (2017), cujo lançamento em vinil é o mote de apresentação da banda nesta sexta (15), às 21h, no Auditório Ibirapuera.
Produzido por Rafael Ramos e Leonardo Marques, o disco aprofunda a mescla de rock, MPB e indie que marca a sonoridade do conjunto.
Das letras de Teago, 32, despontam conflitos da maturidade, como na oposição entre “dor de amor e contas pra vencer” de “Clonazepam 2mg”.
Também o inspiram temas que concentram o debate, como a identidade de gênero e a ascensão de artistas gays, negros, mulheres, periféricos.
O objetivo, diz o compositor, não foi levantar bandeiras, mas tentar compreendê-las.
“É saudável ver figuras antes excluídas conquistarem espaços que antes eram exclusivos de bandas de rock de homens brancos, como a nossa.”
Na sonoridade, o álbum incensa “Mind Games” (1973), de John Lennon, e “Galos de Briga” (1976), de João Bosco, que frequentaram a discografia da banda durante a produção.
Também ressoam influências do indie e do folk atuais, como Connan Mockasin, Devendra Banhart e Mac DeMarco.
À semelhança das referências, Teago se diz discípulo de refrões melodiosos, mas significativos. “Adoro ser chamado de pop; meu sonho é ser popular com as canções mais maduras possíveis.”
A depender das críticas, ele e os colegas estão no caminho certo. Resenhistas foram uníssonos em apontar evolução e consistência no quarto álbum, com tantas virtudes quanto o anterior, “III” (2015), mas menos pontos baixos.
Em um ambiente financeiramente frágil como o do rock autoral, o músico celebra que ele e os colegas Lelo Brandão (guitarra e teclados), Felipe Dieder (bateria) e Lucas Oliveira (baixo) consigam hoje viver da banda, embora distantes da fortuna ou do estrelato.
Principal compositor, Teago ainda reforça o orçamento com direitos autorais, como os da música “Ai Ai”, que em 2017 integrou a trilha da novela juvenil “Malhação - Viva a Diferença”, da Rede Globo.
Ficou no passado, portanto, o tempo de “acordar e chorar por meia hora com medo de ter de voltar pra Salvador de mãos vazias”, como descreve, mas não cessaram as aflições.
Afinal, a aproximação dos dez anos de banda faz surgirem novas dúvidas no horizonte: até onde vai o que o músico chama de “prazo de validade criativo”?
Ele mesmo responde: “Enquanto houver substrato artístico, a gente vai em frente, mas não vejo mais quatro discos da Maglore.”
Para Teago, o futuro deve incluir um trabalho solo, há muito adiado, e composições para outros artistas, seara na qual precisará encarar o desafio de compor por encomenda, e não só por inspiração.
Ele recentemente alimentou Erasmo Carlos com a canção “Não Existe Saudade no Cosmos”, um destaque do trabalho mais recente do veterano, “Amor É Isso” (2018).
Também forneceu composições para duas cantoras cujas identidades não pode revelar —condição imposta pelos produtores que o conectaram às artistas.
Se o que virá ainda não está claro, o que não deve acontecer já está cristalino para Teago: repetir fórmulas que deram certo, de olho em um maior potencial de sucesso e dinheiro, não é uma opção.
“A arte não pode vir da mentira, o público saca; se o artista mentir, vai se dar mal.”
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