A caravana de Chico Buarque, 73, chega a São Paulo nesta quinta (1º), um semestre após o lançamento do elogiado álbum que motiva a turnê já testemunhada em Belo Horizonte e no Rio. Assim, ele quebra um hiato de seis anos sem shows solo na capital paulista.
Trata-se de uma apresentação bem costurada, executada por músicos veteranos que esbanjam sinergia, ainda que em um “ensaio só no osso”, descrição que o próprio cantor e compositor deu à noite de preparativos que a Folha acompanhou na terça (27).
Além da íntegra de “Caravanas” –são nove faixas, duas delas tiradas da gaveta, até então nunca gravadas pelo cantor–, o repertório inclui 19 composições de outros álbuns e de artistas que Chico homenageia.
O set list numeroso não alonga a duração do show, que transcorre em cerca de uma hora e meia de sambas (logo na abertura com a dobradinha “Minha Embaixada Chegou” e “Mambembe”), boleros (“Casualmente”) e blues (“Blues para Bia”).
A fluidez resulta da direção artística do maestro Luiz Claudio Ramos, parceiro musical de Chico desde a turnê de “Paratodos”, em 1994. Em uma alfaiataria musical zelosa, Ramos buscou arranjos que conectassem faixas de períodos tão distintos.
“Muitas pessoas acham que é uma coisa puramente técnica, mas há um lado criativo mesmo, de conceber frases que complementem a música”, diz Ramos.
Para ele, a fórmula é “a mesma de sempre”. “Procurei fazer arranjos diferentes dos originais. Não é no sentido de renovar, é de fazer diferente, porque o que é novo e o que é velho é relativo”, diz, sintetizando a obra de um artista que vocalizou juventudes no passado e persiste em traduzir cenários contemporâneos.
Em “As Caravanas”, por exemplo, o compositor de “Construção” compara a questão de refugiados muçulmanos ao cotidiano de moradores da favela do Jacarezinho que vão ao Jardim de Alá, divisa entre os bairros de Ipanema e Leblon.
Incisivo, Chico declama estrofes de “Partido Alto” como deixa para uma resposta àqueles que costumam mandá-lo “para Cuba”.
Canta, então, em português e espanhol, “Iolanda”, do cubano Pablo Milanés, e “Casualmente”, bolero composto com o contrabaixista Jorge Helder, inicialmente para integrar um álbum da cubana Omara Portuondo.
Trupe
Com Ramos, que se reveza no violão e na guitarra, a banda que acompanha Chico é formada por sete multi-instrumentistas experientes e velhos conhecidos no palco. O grupo foi formado na época do musical “Chico e Caetano” e da turnê “Francisco”, em 1987.
“[Nas turnês] é sempre aquela festa, Chico sempre proporciona um ambiente agradável, afetivo e fraternal. Somos uma família já, quase”, resume Ramos.
Nos bastidores, Helder ganha o posto de humorista da trupe –no ensaio, ele dança e gesticula imitando trejeitos de artistas sertanejos– e o percussionista Chico Batera é o Zangado [alusão ao anão rabugento da Branca de Neve].
Já Marcelo Bernardes é tido como o mais zen entre todos. Segundo relatos de seus colegas, o saxofonista e flautista sofreu um sequestro relâmpago às vésperas da estreia da nova turnê.
Fisgado por um anúncio de venda de carro, que na verdade tratava-se de um golpe, ele acabou passando dez horas sob o poder de bandidos, mas, quando solto, compareceu ao final do ensaio.
Há, no entanto, um componente chave ausente desta química musical: o baterista Wilson das Neves, morto em agosto, vítima de câncer.
É a ele que o show é dedicado, e Chico faz o anúncio com um chapéu Panamá e passinhos de samba. “O mais difícil é a saudade”, diz Ramos. “Das Neves era uma pessoa muito especial.”
A caravana seguirá para Recife e Salvador, e deve passar por mais praças, com datas ainda a serem confirmadas.
CHICO BUARQUE - CARAVANAS
QUANDO de 1º/3 a 22/4 (de qui. a dom.), em SP; de 3 a 6/5, em Recife; de 17 a 20/5, em Salvador.
ONDE Tom Brasil, r. Bragança Paulista, 1.281, São Paulo; Teatro Guararapes, av. Prof. Andrade Bezerra, s/nº, Recife; Teatro Castro Alves, praça Dois de Julho, s/nº, Salvador.
QUANTO de R$ 240 a R$ 490 em ingressorapido.com.br e bilheteriavirtual.com.br
CLASSIFICAÇÃO 14 anos (São Paulo)
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