Ecos de Trump conduzem Matt Damon em 'Suburbicon', dirigido por Clooney
Quando "Suburbicon: Bem-Vindos ao Para�so", que estreia nesta quinta (21), come�ou a ser filmado, imaginar Donald Trump na Casa Branca era somente uma excentricidade da direita americana.
Mas o longa, dirigido por George Clooney, parecia j� concebido para criticar um pa�s que ganharia for�a sob Trump: uma sociedade moralista que gosta de se vender como algo superior, mas esconde preconceitos e viol�ncias.
"� incr�vel que o roteiro tenha sido escrito nos anos 1980", surpreende-se Matt Damon, o protagonista, ao lan�ar o filme no Festival de Veneza, em setembro.
Ele se refere ao script que inspirou o roteiro reelaborado por Clooney, de autoria dos irm�os Joel e Ethan Coen (de "Onde os Fracos N�o T�m Vez").
Iniciantes � �poca, os Coen preferiram engavetar o material. "Voc� pode perceber a presen�a deles no filme. Olhando a carreira dos Coen voc� nota tra�os desse script em v�rias obras que fizeram depois, como 'Fargo'", diz Damon.
"Suburbicon" aborda crimes familiares e tem aquele olhar corrosivo sobre os EUA t�pico de filmes dirigidos pelos Coen. A trama se passa nos anos 1950, em um sub�rbio ic�nico do "american way of life". Pac�fico, casas confort�veis e pessoas invariavelmente "felizes" —na apar�ncia, claro.
Uma fam�lia negra se muda para l�, mas � recebida logo com intoler�ncia pelos vizinhos. Em paralelo, os personagens de Damon e Julianne Moore se envolvem em um brutal homic�dio em fam�lia.
"Vendo o que se passa no pa�s agora, � preciso falar de racismo. � hora de falarmos sobre privil�gio branco. Temos no filme um sujeito branco matando pessoas e andando com a roupa cheia de sangue, e ningu�m faz nada", diz Damon sobre seu personagem.
"O filme mostra o que est� sob o verniz de uma sociedade aparentemente perfeita. Muitos de n�s -eu inclusive- �ramos ing�nuos o bastante para achar que j� super�vamos a quest�o do racismo, mas n�o. � preciso voltar a isso, ao pecado original da escravid�o", completa o ator.
AMADURECIMENTO
O pai de fam�lia "certinho" vivido por Damon, embora capaz de atrocidades, tem ares c�micos, como aqueles vil�es de "cartoon" para quem tudo parece dar errado.
O personagem, diz, tenta constantemente manter o controle da situa��o, mas sem sucesso. Ele apanha, at� literalmente, dos contratempos.
"Ele apaixona-se pela personagem de Julianne Moore por isso: por ela deixar que ele tenha essa impress�o de que domina tudo", afirma Damon.
A amizade entre o ator de 47 anos e o diretor George Clooney, 56, vem de anos. Quem j� viu os dois juntos no mesmo set est� habituado ao clima de pegadinhas rec�procas entre os dois gal�s-menin�es.
"Sei que George mandava apertarem minha cal�a escondido para, a cada semana, eu achar que estava cada vez mais gordo", conta Damon. "Mas desta vez, como ele dirigiu o filme, teve menos tempo pra brincadeiras. Sinto que amadurecemos [risos]."
Ou nem tanto: ao mencionar o motivo de Clooney t�-lo escolhido para o papel, o Damon brincalh�o logo reaparece. "Tenho certas fotos comprometedoras de George, ele sabe disso. Garantem emprego para o resto da minha vida!"
A entrevista � Folha retoma o tom mais sisudo quando o tema Trump ressurge.
Damon lamenta que o republicano tenha sido eleito, mas n�o se diz frustrado como o fato de o eleitorado n�o ter votado como defendia Hollywood, que se manifestou em peso contra o hoje presidente.
"O cinema n�o est� a� para mudar o mundo. � antes uma ferramenta de gera��o de empatia, que ajuda o p�blico a entrar da vida de outra pessoa. Contamos hist�rias como modo de alcan�ar o outro.
E, como � a principal forma tecnol�gica que temos de narrar hist�rias, � importante us�-la para esse fim", afirma.
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