Crise democr�tica � fruto da ind�stria cultural, diz escritor Am�s Oz
George Etheredge/The New York Times | ||
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O escritor Am�s Oz posa para retrato em Nova York |
Hitler e St�lin n�o esperavam, � claro, mas deram um presente � humanidade: o medo do fanatismo e da viol�ncia. Por mais de 50 anos, o mundo viveu com tal medo. Agora, a data de validade desse "presente" chegou.
Quem diz � Am�s Oz, uma das principais vozes da literatura israelense. Contundente analista pol�tico, ele fala nesta segunda-feira (26), em S�o Paulo, no ciclo de confer�ncias Fronteiras do Pensamento.
O autor, que neste ano chegou � final do Man Booker International Prize, um dos principais pr�mios liter�rios do mundo, tamb�m lan�a no pa�s "Mais de uma Luz", volume com tr�s ensaios. Em um deles, Oz rev� e amplia "Como Curar um Fan�tico", um de seus textos cl�ssicos.
"H� muitas diferen�as [desde a publica��o do texto original]. Vivemos uma crise muito profunda do sistema democr�tico. As caracter�sticas que algu�m precisa ter para ser eleito s�o quase o oposto daquelas necess�rias para se liderar uma na��o", diz o autor israelense.
O problema, argumenta, � que a pol�tica misturou-se �s concep��es da ind�stria do entretenimento. Esse seria o motivo da ascens�o de candidatos extremistas –eles s�o os "mais divertidos", diz Oz.
"H� uma gera��o inteira de jovens, no mundo todo, que veem mais programas sat�ricos na TV do que o notici�rio. E esse � o �nico contato direto deles com a pol�tica."
O escritor v�, no s�culo 21, uma confirma��o do pensamento do fil�sofo alem�o Theodor Adorno (1903-1969), que via na ind�stria cultural uma amea�a � democracia.
"Em certo sentido, ele foi um profeta. Adorno viu crises que s� se materializaram agora", afirma Oz.
O resultado, ent�o, seria o crescimento do fanatismo –forma de pensamento dedicada n�o s� a exterminar o outro fisicamente, mas em matar a diferen�a entre pessoas.
Para ele, a s�rie de manifesta��es que come�aram com a Primavera �rabe e se espalharam pelo mundo –gerando a cren�a no surgimento de uma nova democracia, em especial nos pa�ses �rabes– foi interpretada de forma errada:
"N�o houve Primavera �rabe. Foi um inverno isl�mico. Muitos achavam que ia se repetir no mundo �rabe o que houve nos pa�ses do bloco socialista. A hist�ria n�o se repete. Nesses locais, h� um tipo de opress�o totalmente diferente."
Mas de onde surge o fanatismo? Para Oz, quanto mais complexas se tornam os dilemas da sociedade, mais haver� quem queira respostas f�ceis. O fan�tico, nesse sentido, � aquele que oferece a reden��o em duas frases.
Por isso, afirma, a curiosidade e a imagina��o podem ser um ant�doto: as duas, afinal, alimentam-se da diferen�a entre os humanos.
Para ele, a degrada��o causada pela ind�stria do entretenimento tamb�m afeta a produ��o art�stica. As pessoas estariam mais interessadas em formas baratas de divers�o do que na "arte s�ria".
"� uma infantiliza��o da ra�a humana. Adultos sofrem lavagem cerebral da ind�stria cultural para virar criancinhas, porque as criancinhas s�o melhores consumidores."
Seria a hora de uma literatura pol�tica, ent�o?
"N�o escrevo fic��o para enviar mensagens ideol�gicas. Seria um desperd�cio. Quando quero fazer isso, por exemplo, escrevo um artigo dizendo para o governo [israelense] ir para o diabo que o carregue. Mas eles leem e, por algum motivo que n�o entendo, n�o v�o."
MAIS DE UMA LUZ
AUTOR Amos Oz
TRADU��O Paulo Geiger
EDITORA Companhia das Letras
QUANTO R$ 34,90 (136 p�gs.)
FRONTEIRAS DO PENSAMENTO
QUANDO Nesta segunda (26), 20h30, no Teatro Santander, Av. Pres. Juscelino Kubitschek, 2041, tel. (11) 4003-1022
QUANTO R$ 2.886, na plateia, e R$ 1.688, no balc�o. Os valores se referem ao pacote completo para oito confer�ncias, mas os ingressos est�o esgotados. � poss�vel entrar em uma lista de espera, ligando para o tel. (11) 4020-2050 (n�o s�o vendidos ingressos para confer�ncias individuais).
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