Cr�tico liter�rio Antonio Candido morre em S�o Paulo aos 98 anos
O cr�tico liter�rio, ensa�sta, professor e soci�logo Antonio Candido morreu na madrugada desta sexta-feira (12), aos 98 anos, no hospital Albert Einstein, em S�o Paulo.
Candido estava internado desde s�bado, depois de ter uma "crise g�strica", diz Laura Escorel, neta que morava com ele havia quatro anos.
"Estamos em paz, ele esteve l�cido at� o fim e n�o sofreu", diz.
O vel�rio come�ou �s 9h e vai at� �s 17h desta sexta (12), no hospital Albert Einstein do Morumbi. No s�bado (13), o corpo ser� cremado em uma cerim�nia s� para familiares e amigos pr�ximos. Ele deixou orienta��es para que suas cinzas sejam misturadas �s de sua mulher, Gilda de Mello e Souza, morta em 2005. Depois, as cinzas do casal ficar�o em um jardim.
TRAJET�RIA SINGULAR
Em 1996, chamado a celebrar a mem�ria do escritor e professor Paulo Emilio Salles Gomes (1916-1977) em um evento da Universidade de S�o Paulo (USP), Antonio Candido de Mello e Souza disse que o amigo era dessas pessoas que "Deus faz e quebra a forma, pelo conjunto de qualidades interessantes e originais". A frase poderia ricochetear no espelho, ajudando a definir tamb�m seu pr�prio autor.
Como cr�tico liter�rio (sua forma preferida de se apresentar), professor universit�rio, conferencista e intelectual de posi��es pol�ticas assumidas em p�blico com destemor, autor de livros, ensaios e artigos para a imprensa, Antonio Candido percorreu uma trajet�ria singular que o transformou em refer�ncia de independ�ncia de pensamento e de integridade moral para diversas gera��es de alunos, disc�pulos, leitores e admiradores.
Nascido no Rio de Janeiro, em 24 de julho de 1918, Candido se mudou aos tr�s anos para Santa Rita de C�ssia (MG). Aprendeu as mat�rias do antigo prim�rio com a m�e, Clarisse Tolentino de Mello e Souza. Foi s� aos 11 anos, quando passou a morar em Po�os de Caldas (MG), que entrou na escola para fazer o antigo gin�sio, conclu�do em S�o Jo�o da Boa Vista (SP). Veio para S�o Paulo em 1936 e, nos dois anos seguintes, fez o curso complementar do extinto Col�gio Universit�rio —esp�cie de escola preparat�ria— da USP.
Em 1939, ingressou na Faculdade de Direito da USP (que viria a abandonar no quinto ano, antes da conclus�o) como esp�cie de compensa��o exigida pelo pai, o m�dico Aristides Candido de Mello e Souza, para que fizesse, conforme seu desejo, o curso de Ci�ncias Sociais na antiga Faculdade de Filosofia da mesma universidade (atual Faculdade de Filosofia,Letras e Ci�ncias Humanas - FFLCH). Nessa unidade, assumiria em 1942 o cargo de professor assistente de sociologia.
Tinha in�cio uma carreira universit�ria brilhante. Em 1945, com a tese "Introdu��o ao M�todo Cr�tico de S�lvio Romero", tornou-se livre-docente em Literatura Brasileira pela USP. Em 1954, recebeu o t�tulo de doutor em Ci�ncias Sociais com a tese "Os Parceiros do Rio Bonito". E, em 1960, assumiu o cargo de professor de Teoria Liter�ria e Literatura Comparada na FFLCH. Aposentado da institui��o em 1978, continuou a orientar disserta��es e teses de p�s-gradua��o.
Em 1958, Candido assumiu o cargo de professor de Teoria Liter�ria na Faculdade de Filosofia de Assis, hoje pertencente � Universidade Estadual Paulista (Unesp), onde passou dois anos. De 1976 a 1978, coordenou o Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). No exterior, lecionou na Universidade de Paris, de 1964 a 1966, e na Universidade Yale, em 1968.
A carreira de cr�tico liter�rio na imprensa teve in�cio em 1943, quando come�ou a escrever para a "Folha da Manh�", que deu origem � Folha de S.Paulo. Ainda nos anos 1940, foi cr�tico do "Di�rio de S�o Paulo". E, em 1956, fez o projeto do "Suplemento Liter�rio" de "O Estado de S. Paulo", que ajudou a modernizar o jornalismo cultural brasileiro.
Candido foi tamb�m um dos fundadores da lend�ria revista cultural "Clima", que publicou apenas 16 n�meros, entre 1941 e 1944, mas que revelou um grupo de intelectuais de atua��o marcante no cen�rio cultural e universit�rio paulista: Salles Gomes, D�cio de Almeida Prado, Lourival Gomes Machado, Ruy Coelho e Gilda de Moraes Rocha, com quem Candido se casou em 1943, quando ela adotou o nome Gilda de Mello e Souza. O casal teve tr�s filhas: Ana Luisa, Laura e Marina. Gilda morreu em 2005.
A milit�ncia pol�tica de Candido come�ou ainda na juventude, como integrante da Frente de Resist�ncia contra a ditadura do Estado Novo. Em 1942, ele participou da cria��o do Grupo Radical de A��o Popular. Tr�s anos depois, ajudou a fundar a Uni�o Democr�tica Socialista. Logo em seguida, aderiu – ao lado de S�rgio Buarque de Holanda, um de seus grandes amigos – � Esquerda Democr�tica, que daria origem em 1947 ao Partido Socialista Brasileiro, pelo qual Candido foi candidato a deputado estadual em 1950. Teve pouco mais de 500 votos.
Em 1966, ao voltar da temporada em Paris, manifestou seu apoio ao MDB. Em 1977, assinou o Manifesto dos Intelectuais, que pedia o fim da censura. E, em 1980, participou da funda��o do PT. "Confesso que por toda a minha vida, mesmo nos momentos mais agudos, nunca fui capaz de perder a preocupa��o com os fatores sociais e pol�ticos, que obcecaram a minha gera��o como uma esp�cie de memento e quase de remorso", disse em entrevista � revista acad�mica "Trans-form-a��o", em 1975. Antonio Candido reunia, como se v�, "um conjunto de qualidades interessantes e originais".
Candido deixa tr�s filhas, Laura de Mello e Souza, Ana Luisa Escorel e Marina de Mello e Souza.
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