Cr�tica
Com rimas sint�ticas e pol�ticas, Criolo se arrisca no samba em CD
Keiny Andrade/Folhapress | ||
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O cantor Criolo durante show no Lollapalooza de 2017 |
Criolo nunca escondeu seu amor pelo samba. Ap�s composi��es como "Linha de Frente" e "Fermento Pra Massa", o rapper paulistano exp�s de vez a veia sambista em "Espiral de Ilus�o", seu quarto trabalho de est�dio.
O disco � uma carta de amor ao g�nero que consagrou Cartola, Martinho da Vila e Jamel�o, influ�ncias presentes nas dez can��es espalhadas em pouco mais de meia hora.
A rela��o entre rap e samba remete a projetos solo de Marcelo D2, mas em "Espiral de Ilus�o" n�o h� flerte ou mescla de sonoridades. � um disco de samba.
A proposta surge j� nos primeiros acordes de cavaquinho de "L� Vem Voc�", os quais poderiam tranquilamente anteceder a um vocal de Jorge Arag�o ou Arlindo Cruz.
O rap se expressa de formas muito al�m da musicalidade. Em "Menino Mimado", carro-chefe e um dos pontos altos do �lbum, Criolo exibe sua capacidade de rimador cuidadoso, sint�tico e pol�tico. Trechos como "Meus meninos s�o o que voc� teceu/Em resist�ncia ao mundo que Deus deu" provam que ele continua afiado na poesia e capaz de dizer muito com pouco.
O rap tamb�m aparece na habilidade de cronista, o mantendo como um dos porta-vozes mais interessantes da rotina dos guetos, fun��o cumprida muito bem pelo samba.
Em "Filha do Maneco", sobre a paix�o pela filha de um poderoso traficante, ou "Cal�ada", o storytelling est� ali, desta vez ecoando unicamente sob competentes arranjos baseados em viol�es de sete cordas, pandeiros, cu�cas e instrumentos de sopro.
O vocal de Criolo � econ�mico e sem extravag�ncias, o que funciona para o conte�do dos versos que ele canta.
Em "Boca Fofa", can��o de esc�rnio a fofoqueiros e mentirosos, seus cacoetes remetem a Moraes Moreira na �poca dos Novos Baianos, e na bela faixa-t�tulo, Criolo empresta um eu l�rico feminino, � la Chico, em "Atr�s da Porta", para falar de um desamor.
Bebendo muito da fonte do samba de roda do rec�ncavo baiano, a �ltima faixa "Cria de Favela" � a �nica em que � poss�vel dizer que o cantor imprime uma esp�cie de "flow" (encaixe dos versos nas batidas) e atinge notas mais altas.
N�o se trata de um divisor de �guas ("N� Na Orelha") ou de um manifesto pol�tico-m�stico ("Convoque Seu Buda").
"Espiral de Ilus�o" � a despretensiosa e elegante realiza��o de um sonho do MC que abdicou por ora do cargo de maquinista do trem do rap nacional na d�cada. Posto que ele, queira ou n�o, conquistou.
Criolo possui cancha e base de f�s para se aventurar, como Mano Brown se jogou nas pistas em "Boogie Naipe" (2016). O caminho pavimentado por eles, em colabora��o com nomes como Sabotage e Emicida, permitiu que o rap chegasse a esse n�vel de liberdade art�stica em 2017.
"Espiral de Ilus�o" deve agradar f�s de samba e fazer os de rap mais radicais torcerem o nariz. �, sem d�vidas, para f�s de Criolo
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