Pesquisadores desenvolvem algoritmo capaz de prever sucessos de vendas
Aqui vai uma f�rmula de sucesso para pesquisas e estudos contempor�neos: pegue o conceito de megadados e aplique ao que quer que voc� esteja estudando. Talvez n�o seja propriamente �til ao seu objeto, mas certamente vai chamar aten��o.
Os pesquisadores Jodie Archer e Matthew L. Jockers passaram quatro anos para desenvolver um algoritmo que pudesse identificar livros que seriam um sucesso de vendas.
O resultado de seu trabalho est� no livro "The Bestseller Code: Anatomy of the Blockbuster Novel" [O c�digo do bestseller: a anatomia de um romance de sucesso, St. Martin's Press, 256 p�gs, 26 d�lares], publicado nos EUA no dia 20/09 e sem previs�o de chegada ao Brasil.
Archer veio do mercado editorial. Trabalhou como editora na Penguin e como chefe de pesquisa da divis�o de livros digitais da Apple e fez doutorado em literatura de l�ngua inglesa na Universidade de Stanford, onde estudou justamente os best-sellers.
J� Jockers � professor de literatura da Universidade de Nebraska, onde dirige o Nebraska Literary Lab, laborat�rio dedicado a usar abordagens quantitativas e computacionais para o estudo de textos.
A ambi��o deles era treinar computadores para fazerem exatamente o que os avaliadores de editoras comerciais tentam h� d�cadas: prever quais entre aqueles originais enviados por autores desesperados t�m potencial de serem a pr�xima capa onipresente nos metr�s da cidade.
Para isso, eles fizeram com que os computadores fossem capazes de mapear um enredo, identificar o come�o e o fim de uma senten�a, os personagens, os temas e as partes do discurso e usaram algoritmos de classifica��o para isolar as caracter�sticas mais comuns em best-sellers.
"Ao analisar um livro por computador voc� tem acesso a informa��es que simplesmente n�o poderia reunir usando m�todos qualitativos tradicionais de leitura atenta e s�ntese humana", diz Jockers � Folha. "N�o se trata de substituir a avalia��o humana, mas de acrescentar dados a ela."
Chegaram a um total de 2.799 caracter�sticas que estariam fortemente associadas ao sucesso de vendas de uma obra. Por fim, analisaram 20 mil volumes de fic��o que figuraram na lista de mais vendidos do "New York Times" nos �ltimos 30 anos e dizem ter chegado a um c�digo que prev� best-sellers com uma efic�cia de 80%.
Para divulgar o livro, a editora americana lan�ou uma promo��o exc�ntrica: um sorteio no qual aspirantes ao estrelato liter�rio podiam enviar seus originais para serem analisados segundo o c�digo.
INTIMIDADE SIM, SEXO N�O
Conclus�es da pesquisa: o p�blico quer ler sobre hero�nas jovens e fortes que sejam levemente desajustadas; prefere cenas de intimidade �s de sexo propriamente dito; e adora contra��es verbais.
O autor candidato a best-seller deve evitar pontos de exclama��o e deve preferir personagens cachorros do que gatos; deve falar sobre casamentos, mortes, funerais, impostos, armas, escolas, crian�as, m�es e tecnologias vagamente amea�adoras; mas n�o sobre sexo, drogas e rock'n'roll; corpos humanos s� devem ser descritos exaustivamente em cenas de crime ou em contextos de dor; as pessoas se interessam mais pela descri��o de um mercado de a��es do que de um rosto humano.
Tamb�m deve evitar o excesso de assuntos: devem ser tr�s ou quatro temas centrais do livro, que ocupem ao menos 30% de suas p�ginas; o ritmo deve ser regular; o narrador deve ser uma voz de autoridade; finais tristes est�o liberados. E seja vago: a palavra "coisa" tem uma incid�ncia seis vezes maior em best-sellers do que em n�o best-sellers.
N�o surpreendentemente, a linguagem simples e direta � a favorita. Frases curtas e autores que v�m da publicidade ou do jornalismo t�m mais chances. O leitor mainstream quer um texto transparente, quer ter a impress�o de que teve um entendimento total da obra, sem lacunas.
A estrutura em tr�s atos –que divide a hist�ria entre apresenta��o dos personagens e do universo ficcional, conflito e resolu��o– � a favorita.
C�RCULO PERFEITO
Quer ler um romance perfeito segundo os algoritmos? V� de "O C�rculo", de Dave Eggers, um livro que ironicamente traz uma profunda desconfian�a em rela��o a esse tipo de uso da tecnologia. Para os autores de "The Bestseller Code", Eggers vem seguindo quase todas as regras.
O c�digo fala mais sobre o grande p�blico americano do que sobre as obras. A inten��o dos pesquisadores n�o era estabelecer o m�rito art�stico, mas sim mostrar o que h� em comum entre os livros mais vendidos naquele mercado.
Empresas de leitores digitais, como Amazon e Apple, t�m coletado informa��es importantes sobre os h�bitos de leitura de seus clientes. Em que p�gina as pessoas abandonaram um livro, a velocidade m�dia de leitura, quais palavras acharam necess�rio buscar no dicion�rio, quais trechos foram grifados ou comentados.
Em pa�ses em que o mercado editorial � mais forte (e voraz) esses dados j� est�o sendo usados. H� empresas, por exemplo, que prestam consultoria a editoras fazendo pesquisas em que um determinado grupo recebe uma pr�via de livro digital e tem seus dados de leitura coletados, uma vez que as pr�prias Amazon e Apple n�o fornecem esse tipo de informa��o.
"O que a nossa pesquisa tenta � munir leitores, escritores e pesquisadores dessa esp�cie de dado. O que d� para fazer com isso? Praticamente qualquer coisa. Voc� pode usar para escrever um livro de maior impacto ou apenas como curiosidade", diz Jockers.
No Brasil, n�o h� not�cias de que esses m�todos venham sendo usados. O que as editoras j� fazem � usar algoritmos na outra ponta: a da venda, tentando influenciar sites de busca a mostrarem seus livros quando a pessoa procura por determinado tema.
Para Andr� Conti, editor da Companhia das Letras, h� uma quest�o de volume. "Al�m de n�o termos acesso a esses dados, � preciso ver que nos Estados Unidos o leitor de livro digital corresponde a 20% do mercado. Aqui, s� a 4%, ent�o seria complicado usar isso para inferir muita coisa", diz.
Conti, no entanto, admite dar uma olhada no Kindle para saber quais trechos de um livro foram mais grifados, j� que essa informa��o � p�blica. "Nunca usei isso para nada pr�tico, mas � interessante ver o que os leitores consideraram impactante", diz.
A an�lise de dados tende a desempenhar um papel cada vez mais relevante na produ��o e divulga��o de obras comerciais. Assim como a Netflix j� produz seriados com base em informa��es sobre o que as pessoas t�m assistido, editoras podem come�ar a fazer o mesmo com livros.
O �nico por�m � que esses dados revelam apenas o que j� est� acontecendo, enquanto um autor grande de verdade � aquele que consegue elaborar algo difuso. � por isso que o poeta franc�s Arthur Rimbaud dizia que o artista era o "or�culo da modernidade", porque ele adiantava o que ainda n�o havia acontecido.
Mas, para Rimbaud, o poeta se fazia "vidente por um longo, imenso e pensado desregramento de todos os sentidos" –n�o exatamente por algoritmos.
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