Selva Almada retrata fam�lias quebradas em 'O Vento que Arrasa'
Quatro integrantes de fam�lias destro�adas se encontram numa oficina mec�nica, no meio do campo, no Chaco, no norte da Argentina.
Um pastor evang�lico e sua filha adolescente param em busca de reparo para o carro em que viajam. No local, encontram o mec�nico e um rapaz, que trata como filho.
Num espa�o de tempo que corresponde a um dia e meio, v�o interagir num cen�rio de desola��o e poucas certezas, al�m de confrontar seus medos e cren�as.
Lembran�as e "flashbacks" d�o as chaves para entender que cada um tem um passado que contradiz um pouco quem s�o no presente.
Adriano Vizoni/Folhapress | ||
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A escritora argentina Selva Almada, autora de 'O Vento que Arrasa' |
Essa � a trama de "O Vento que Arrasa", romance da argentina Selva Almada, 42, lan�ado pela Cosac Naify.
"Quis construir uma hist�ria sem m�es. E com fam�lias quebradas, mais parecidas �s que de fato existem nessa regi�o. H� mulheres que t�m de partir para buscar trabalho e sustentar os filhos, outras que s�o abandonadas e cujos filhos jamais sabem delas", diz Almada, em entrevista num hotel de S�o Paulo.
A autora nasceu em Entre R�os, uma prov�ncia pr�xima � de Buenos Aires, e de in�cio publicou contos que n�o tiveram muita proje��o nacional.
At� que, em 2012, a renomada cr�tica argentina Beatriz Sarlo topou com "O Vento que Arrasa" e escreveu, numa resenha publicada no jornal "Perfil": "De onde vem esse romance surpreendente?". Bastou para que o livro de Almada passasse a ser lido, resenhado e comentado no mercado editorial portenho.
"Creio que h� um novo momento na literatura argentina, em que a produ��o dedicada a retratar o interior do pa�s volta a ganhar espa�o", diz.
O pa�s vizinho teve uma rica produ��o, principalmente nos s�culos 19 e in�cio do 20, que tratava dos temas do campo, como nas obras de Ezequiel Mart�nez Estrada (1895-1964) ou Domingo Faustino Sarmiento (1811-88).
FEMINIC�DIO
"Isso foi at� os anos 1960/70. Depois, come�ou a prevalecer um tipo de romance mais urbano, produzido em Buenos Aires, que se relacionava um pouco com o que acontecia tamb�m em outras cidades latino-americanas", diz. "Agora vejo que h� uma retomada desses assuntos das prov�ncias e um inevit�vel di�logo com esses autores mais tradicionais."
Ela escreveu tamb�m o romance "Ladrilleros" (ed. Mar Dulce, importado) e um livro de n�o fic��o, "Chicas Muertas" (ed. Sudamericana, importado), em que investiga casos de mulheres assassinadas na regi�o em que cresceu. Ambos sem tradu��o no Brasil.
"Foram crimes muito marcantes para mim, porque eu era uma adolescente, e os adultos nos diziam que o perigo estava no exterior, nas pessoas que estavam fora de nossa casa. E a morte dessas mulheres contradizia isso, elas haviam sido mortas por familiares. Isso me marcou muito, e levei na cabe�a por anos. At� que resolvi estudar os casos, que foram pouco noticiados e estavam perdidos no passado", explica.
O livro saiu na Argentina num momento oportuno, quando come�aram as manifesta��es de rua contra os crimes contra mulheres. A maior delas reuniu 300 mil pessoas, em Buenos Aires.
"Me d�i ver que agora todos os candidatos presidenciais [a vota��o ocorre em 25 de outubro] est�o falando de feminic�dio e tentando trazer a bandeira para o lado deles, mas pelo menos virou um assunto da agenda pol�tica", diz. "Isso � bom."
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