Neto do pol�tico e jornalista Carlos Lacerda refaz trajet�ria da fam�lia em romance
Entre as poucas lembran�as que o escritor Rodrigo Lacerda, 44, guarda do av�, o jornalista e pol�tico Carlos Lacerda (1914-1977), est� a de seu enterro, no cemit�rio de S�o Jo�o Batista, no Rio.
Aos oito anos, sem nunca ter visto o av� em atividade, Rodrigo espantou-se com o tumulto de lacerdistas na cerim�nia f�nebre. N�o fazia ideia das paix�es causadas por Carlos, que teve direitos pol�ticos cassados pela ditadura antes de o neto nascer.
Cr�tica: Obra sobre Carlos Lacerda faz bons retratos, mas falha em narra��o
A imagem ficou num canto da mem�ria do autor at� 2010, quando, convidado pela "Ilustr�ssima", na Folha, a descrever o momento, criou o conto "Pol�tica", narrado pelo defunto, � moda "Mem�rias P�stumas de Br�s Cubas", de Machado de Assis.
Acervo UH - 24.mar.1968/Folhapress | ||
Carlos Lacerda em com�cio em S�o Caetano (SP), em 1968 |
O texto gerou um convite da Companhia das Letras para o escritor fazer um retrato biogr�fico do av�, figura inflamada que, dos anos 1930 aos 1960, rompeu com esquerda e direita, passando de comunista a anticomunista e de articulador do golpe de 64 a um de seus grandes cr�ticos.
"A Rep�blica das Abelhas" chega agora �s livrarias, no ano que antecede o centen�rio de Carlos Lacerda. O t�tulo se refere a um "frenesi em volta da colmeia", met�fora sobre os v�rios grupos pol�ticos de olho no poder na primeira metade do s�culo 20.
Em 520 p�ginas, Carlos Lacerda relembra o av�, o juiz Sebasti�o; o pai, o deputado federal Maur�cio; os tios, Paulo e Fernando, comunistas; e sua pr�pria trajet�ria, na qual se destaca a oposi��o ferina a Get�lio Vargas (1882-1954).
HIST�RIA SEM RIGOR
Rodrigo leu tudo sobre Carlos, incluindo a imensa biografia feita pelo americano John Watson Foster Dulles, cartas, discursos e sua produ��o liter�ria --o pol�tico escreveu pe�as, contos e mem�rias; foi tradutor e editor.
Por "falta de op��o melhor", chama o resultado de romance hist�rico. "Tem biografia e � romance, mas n�o s�; � hist�ria, mas sem rigor."
O livro � narrado em primeira pessoa. "O distanciamento de um historiador era imposs�vel, j� que sou neto. Tentei tirar partido disso", diz Rodrigo, premiado por romances como "Outra Vida".
Essa op��o o deixou livre para recorrer a uma vis�o parcial, impregnada pelas cren�as do av�. Mas o olhar p�s-morte traz um pol�tico mais comedido do que aquele que ficou famoso pela veem�ncia. "� ele fora do jogo lembrando o campeonato", explica.
A reflex�o ficcional p�stuma permitiu ao autor incluir conclus�es pr�prias, como a de que a ruptura do Partido Comunista do Brasil com Lacerda, em 1939, teve a ver com uma estrat�gia dos dirigentes para queimar seu tio Fernando, que media for�as com Lu�s Carlos Prestes.
Leitores sentir�o falta de duas passagens not�rias da vida do pol�tico: sua atua��o como governador da Guanabara (1960-1965) e sua liga��o com o golpe de 64. H� um plano da editora de publicar um segundo livro. Rodrigo n�o se compromete.
"A ess�ncia da vis�o de meu av� se consolida at� os anos 1950. Com isso, deixei de fora o melhor e o pior da vida pol�tica dele. Pode ser que continue, mas, por ora, voltarei a outros trabalhos."
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