Cr�tica: Escritor S�rgio Rodrigues � h�bil em unir era de ouro do futebol e cultura pop
Luis Fernando Verissimo bateu bem o escanteio num breve coment�rio de quarta capa de "O Drible", de S�rgio Rodrigues. O romance n�o � exatamente sobre o futebol, mas, de uma maneira rara em nossa literatura, o futebol � um dos personagens centrais.
Futebol, Carnaval, praia e morro s�o os clich�s tupiniquins mais divulgados no exterior. E aqui tamb�m. Coitado do brasileiro que n�o gosta de nada disso.
Mas, enquanto o Carnaval, a praia e o morro j� participaram de filmes, novelas, livros e can��es memor�veis, o futebol estava custando a marcar presen�a na arte e na literatura.
Rafael Andrade/Folhapress | ||
O jornalista, pesquisador e escritor S�rgio Rodrigues posa para fotos em seu escrit�rio, no Rio |
Um �timo romance sobre o tema � o exc�ntrico "O Para�so � Bem Bacana", de Andr� Sant'Anna, lan�ado em 2006. Nessa narrativa bizarra sobre um jogador � beira da morte, o futebol � mais uma primitiva forma de combate e autodestrui��o do que um esporte contempor�neo.
Tamb�m vale conhecer o recente "O �ltimo Minuto", de Marcelo Backes, protagonizado pelo treinador casca-grossa Jo�o, o Vermelho.
Agora � a vez de o carioca S�rgio Rodrigues abrir as portas da percep��o para uma s�rie de padrinhos espirituais, entre eles os irm�os Nelson Rodrigues e Mario Filho, e fazer a bola rolar no gramado in�spito da fic��o.
Em "O Drible", tr�s destinos est�o entrela�ados numa trama de confronto e vingan�a: o destino de Neto; o de seu pai, o cronista esportivo Murilo Filho; e o de Peralvo, atacante com poderes m�gicos, mas promessa abortada do futebol brasileiro.
Murilo e Peralvo s�o conterr�neos. Mudaram-se da pequena Merequendu para o Rio, o primeiro para virar um dos principais cronistas esportivos do pa�s, o segundo predestinado a ser maior que Pel�. As coisas come�am a desandar quando Murilo conhece Elvira, com quem se casa.
Neto odeia o pai, com quem n�o fala h� mais de duas d�cadas. Responsabiliza-o pela morte tr�gica da m�e. Planeja vingan�a. No final da vida, Murilo, com s�rios problemas de sa�de, procura se reaproximar do filho.
Ao menos � isso o que o velho faz parecer. Mas tudo pode n�o passar de um drible de g�nio. Uma farsa.
S�rgio Rodrigues inicia e finaliza com o requinte da segunda pessoa do singular. No primeiro cap�tulo e no �ltimo, o narrador onisciente trata o protagonista por "voc�". Recurso sofisticado, que merecia ter sido mais utilizado.
O ficcionista � h�bil na constru��o cuidadosa da rela��o de rancor e desprezo entre pai e filho. � mais h�bil ainda na reconstru��o de dois momentos antag�nicos: a era de ouro de nosso futebol, paix�o de Murilo Filho, e a de nossa cultura pop, paix�o de Neto.
As p�ginas que narram o embate demon�aco entre Peralvo e Pel� est�o entre as melhores do romance.
Em literatura, o realismo, por mais eficiente que seja, � sempre redutor. Tivesse o livro inteiro incorporado a possess�o medi�nica, macuna�mica, e seria uma obra-prima.
LUIZ BRAS � autor de "Sozinho no Deserto Extremo" (Prumo).
O DRIBLE
AUTOR S�rgio Rodrigues
EDITORA Companhia das Letras
QUANTO R$ 38 (222 p�gs.)
AVALIA��O bom
Livraria da Folha
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