Lauro C�sar Muniz estreia novela e critica roteiristas da Globo
Enquanto a Record est� "com mais tes�o", a Globo "comete um erro grave", diz Lauro C�sar Muniz, 74, autor de novelas globais cl�ssicas, como "Roda de Fogo" e "O Salvador da P�tria".
Em busca da classe C (que hoje representa 54% da popula��o), a Globo estaria, na vis�o dele, produzindo tramas popularescas e subestimando seu p�blico-alvo. "Por que esses caras [a nova classe m�dia] s�o inferiores? Tenho a impress�o de que buscam uma dramaturgia mais arrojada", afirma.
No dia 10, o dramaturgo estreia na Record "M�scaras".
JOGO DE M�SCARAS
Muniz define como "policialesco" o folhetim parcialmente ambientado em um transatl�ntico onde "pessoas viajam com outra identidade". A trama ter� ainda um grupo ultrarradical da direita americana que quer comprar parte do Brasil.
Com elenco liderado por Paloma Duarte, Dado Dolabella e outros ex-globais, a novela remete at� a Antonioni e seu "Profiss�o: Rep�rter" (1975), segundo Muniz. No filme, um jornalista assume a identidade de um morto.
Fabio Braga - 23.mar.12/Folhapress | ||
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O dramaturgo, Lauro Cesar Muniz, 74, autor de "M�scaras", nova novela da Record. |
Para o autor, a novela ilustra uma "ambi��o" da Record que n�o se v� mais na Globo -de onde saiu brigado, ap�s "geladeira" de cinco anos (o adeus foi com a miniss�rie "Aquarela do Brasil", em 2000). "M�scaras" seria uma contrapartida a produ��es como "Fina Estampa", "a pior de Aguinaldo Silva, muito pouco arrojada para aquilo que ele pr�prio fez antes".
Muniz acredita que os autores da Globo est�o "acomodados", contando "hist�rias da carochinha, inclusive com certo preconceito" -vide o mordomo Cr�, de "Fina Estampa". "� uma del�cia esse personagem, mas � preconceituoso. O bobo da corte que diverte a burguesia."
Cr� foi, justamente, o grande retorno de Marcelo Serrado ao casting global. Ele e Gabriel Braga Nunes voltaram por cima depois de temporada na Record.
Os desfalques "doeram". Muniz acha que o canal deve fortalecer um "star system" para valorizar sua trupe. "Os paparazzi raramente correm atr�s de atores da Record."
Ele tamb�m tem ressalvas ao gerenciamento do canal paulista. "Os que fizeram a Record s�o ligados � Igreja Universal. A estrutura da igreja � evidentemente aplicada � emissora. O defeito � que tudo fica mais lento. A qualidade � que se cumpre direitinho o que se promete."
Confira a entrevista completa.
Folha - De onde vem seu encanto com m�scaras? N�o � um objeto comum de se colecionar [Muniz tem m�scaras romana, pr�-colombiana, grega etc. em casa].
Lauro C�sar Muniz - J� era um t�tulo que eu tinha na cabe�a h� muito tempo. Antes [o nome da novela] era "Navegantes", mas era muito fraco.
De onde surgiu a ideia da trama?
Essa ideia vem de longe. A coisa da troca de identidades � batida, mas fascinante. H� muitos filmes que vi sobre isso. [Tem] "Profiss�o Rep�rter", do Antonioni, sobre um cara que troca de identidade e depois sofre as consequ�ncias da pessoa que substituiu.
Como os dilemas abordados por Antonioni aparecem na novela?
Passei em frente ao porto do Rio e vi aquele navio enorme, de 15 andares. Era praticamente um pr�dio. Fiquei pensando: a� dentro tem muitas hist�rias boas. Depois fiz um tour e saquei que todas as pessoas, quando pegam o navio, se despedem do seu cotidiano e ficam fascinadas pela ideia de uma aventura.
A ideia come�ou a crescer: pessoas que viajam numa outra identidade, que n�o s�o o que s�o no dia a dia do continente.
Com isso, fiquei fabulando, at� que veio uma ideia mais completa de fazer uma hist�ria de troca de identidade dupla.
Fiz um personagem positivo, o her�i, virar um vil�o, e um vil�o virar um her�i. O her�i veste a m�scara do vil�o, o vil�o a do her�i.
Essa dupla troca me propicia uma trama policial interessante. Da� nasceu a novela.
Voc� poderia detalhar como seria essa troca?
� uma hist�ria muito complicada. Uma trama policialesca bem urdida e com implica��es de v�rias naturezas. N�o sou um bom contador de hist�ria oral [risos], prefiro escrever.
Voc� acha que o p�blico tem abertura maior para essas vers�es mais complexas de her�i e vil�o, que j� vimos em "A Favorita" [novela de Jo�o Emanuel Carneiro, exibida em 2008 na Globo]?
Acontece muito do her�i e do vil�o se confundirem, e � isso que estou procurando.
Essa coisa do manique�smo --bem de um lado, mal do outro--, esquem�tico demais, isso � uma bobagem.
Estou querendo fugir disso a� para criar uma ess�ncia, poeque n�o existe essa identidade �nica. Pessoa � uma s�rie de coisas. Tem vezes que ela � um vil�o, ou pode ser um her�i. � uma coisa que a novela pode estudar e aprofundar.
Mas n�o s� esses dois personagens. Muitos personagens usam outros tipos de m�scara. Por exemplo, a prostitura de luxo, Giselle Iti�, que evidentemente usa m�scaras. Muda de nome para se defender tamb�m. Serve o cliente da maneira que o cliente quer, se fantasia se o cliente quiser. E n�o quer ser a prostituta durante o dia, quando vai ao supermercado. Quer ser ela mesma. �s vezes consegue, �s vezes n�o.
H� muitos outros tipos de m�scara. O pol�tico que usa um laranja e faz o trabalho por tr�s, para n�o aparecer. O pr�prio laranja � uma m�scara. Consegui, na novela, criar um painel de m�scaras sociais.
Tamb�m liguei isso a uma liga��o com os Estados Unidos para fazer um contraponto do que foi nossa rela��o com o pa�s no passado e o que � hoje.
Estados Unidos? Como assim?
T�nhamos uma postura de colonizado. Cinematograficamente, em literatura, culturalmente, de todas as formas.
E de repente o Brasil foi emergindo, ficando mais livre desse v�nculo t�o forte com os EUA. Fomos nos distanciando, somos n�s, temos uma cara, uma m�scara.
Ent�o fiz um jogo pol�tico entre um grupo ultrarradical de direita, que tem sede em Dallas, Texas, e que tenta comandar um grupo brasileiro para se apossar de um territ�rio grande do Brasil para produzir biodiesel, que � uma coisa que os americanos est�o procurando.
Peguei o biodiesel de prop�sito, por ser um exemplo bom de superioridade � produ��o americana. Esse grupo de extrema-direita tem inten��o de comprar um ou muitos latif�ndios no Mato Grosso do Sul, que � regi�o n�o totalmente desenvolvida ainda.
Esse grupo americano come�a a comprar atrav�s de laranjas --mascarados-- muitas terras. E s�o sempre inc�gnitos, figuras que n�o aparecem claramente. Aparece s� um americano, mas � um soldado raso da corpora��o.
A novela � passada onde?
No Rio, mas essa coisa se reflete no Mato Grosso do Sul, o personagem central tem origem l�, � fazendeiro.
Fiz [a hist�ria] baseado numa s�rie de coisas que li a respeito de ocupa��o de terras no Brasil, na Amaz�nia, em jornais.
A hist�ria � policial, na verdade, e tem um substrato pol�tico-social. E tamb�m � um ano muito interessante, em que Obama [presidente dos EUA] vai se colocar em xeque. E tem uma direita americana fazendo todo um trabalho de derrubada do Obama. Isso tudo, na novela, vou discutir. Voc� vai ver! J� fiz quase 40 cap�tulos, t� dando certo.
Ser�o quantos cap�tulos no total?
Me falaram em 200, pode ser at� que ultrapasse isso.
Voc� � um defensor de novelas mais curtas.
Voc� est� cert�ssima. Sou um cara que t� fazendo h� anos campanhas por novelas curtas, de 120, 140 cap�tulos.
N�o fizemos porque todo mundo acha que o ponto de equil�brio de uma novela � o cap�tulo cem, que ela vai lucrar...
Mas n�o � verdade, se voc� fizer mais curta, com menos personagens, cenografia, locu��es, diretores. A� o ponto de equil�brio recua para por volta de 60 cap�tulos. Temos que p�r isso em pr�tica. Tentei v�rias vezes na Globo, n�o consegui. Fui barrado. "Voc� para com esse assunto!"
No entanto, estou sentindo uma acolhida agora. N�o s� na Record, com quem eu dialogo. T� sentindo que as novelas da Globo est�o encurtando. N�o porque eu estou falando, mas porque a coisa est� no ar.
Uma novela longa, de 200 cap�tulos, est� na contram�o do mundo de hoje, que � muito din�mico. A internet fez a nossa leitura ficar uma coisa de raios: voc� consulta uma coisa aqui, vai para outra ali, volta para a coisa antiga. N�o tem aquela leitura do livro, que � da esquerda para a direita, linha por linha.
N�o podemos ficar nos arrastando, fazendo novelas cheias de barriga --barriga � quando a novela perde o interesse--, sem ter compatibilidade com esse mundo t�o din�mico que a gente est� vivendo.
Por falar nesse mundo, TV aberta � quase sempre a mais reativa, reino da linguagem mais tradicional.
Penso muito [em transm�dia]. Temos que tomar cuidado para n�o transformar a linguagem da telenovela de uma hora para outra. At� tentei no passado fazer coisas mais arrojadas do que fa�o hoje. Fiz novelas com tr�s �pocas simult�neas, "Espelho M�gico", que misturava fic��o com realidade... Tudo a Globo me permitiu fazer no hor�rio das oito, que � severo.
Acho que temos que entender melhor essa leitura do mundo atual, com participa��o forte da interatividade, para formular uma nova dramaturgia. Mas n�o cabe a mim, cabe a um jovem. Eu estou impregnado ainda de uma dramaturgia mais convencional, de conflitos, cl�max, salto de qualidade.
Jovem que esteja vivenciando essa din�mica toda dos tempos de hoje pode criar uma nova linguagem. N�o uma linguagem simplificada de "Voc� Decide". Temos que pensar em alguma coisa muito mais complexa. Mas nem o cinema internacional chegou a isso ainda. Tem algumas tentativas, como "A Origem".
Um sonho dentro de um sonho dentro de um sonho...
Essa estrutura � complexa demais, mas acaba ficando simples, se voc� souber fazer.
"M�scaras � sua terceira novela na Record. Como v� sua evolu��o na emissora? E o amadurecimento e investimento da Record nas novelas?
Come�ou muito pobre. Quando fiz "Cidad�o Brasileiro" [2006], n�o t�nhamos condi��o nenhuma, toda cidade cenogr�fica era apenas uma pra�a. N�o t�nhamos computa��o gr�fica, os est�dios eram pequenos.
Hoje, n�o. Bastantes est�dios de �tima qualidade, um quadro de luz fant�stico, c�meras de �ltima gera��o. Tecnologicamente falando, est� perfeita a Record.
Do ponto de vista do conte�do, estamos mais arrojados do que a Globo. A Globo est� cometendo um erro grave: est� acreditando que essa classe C emergente, que apareceu depois dos oito anos do Lula...
Acho que h� um equ�voco muito grande. Essa classe C nada mais s�o do que os descendentes de uma classe D/E que houve no passado, que assistia a TV em preto e branco, colocando palhinha de a�o na ponta da antena pra melhorar um pouquinho a imagem.
Assistiam �s nossas novelas na Globo na d�cada de 70, 80, com grande aplauso. E eram novelas de muito melhor qualidade, muito mais arrojadas.
Por que recuar agora? Os descendentes dessa mesma classe atingiram 54%, segundo as �ltimas estat�sticas. Por que esses caras s�o inferiores e t�m uma percep��o de tem�tica de outro n�vel? N�o, ao contr�rio, tenho impress�o de que evolu�ram tamb�m nisso. Est�o querendo uma dramaturgia melhor, mais arrojada.
Voc� pode dar um exemplo do que seria uma tem�tica pouco arrojada na Globo?
"Fina Estampa" � muito pouco arrojada para aquilo que o pr�prio Aguinaldo Silva fez antes.
Ele fez excelentes novelas, e essa � a pior do Aguinaldo. Faz ainda sucesso, porque n�o tem outra coisa pra ver, ent�o � isso mesmo.
Em contrapartida, n�s da Record estamos trabalhando num n�vel mais ambicioso. Eu com essa "M�scaras" talvez esteja at� me excedendo. N�o faz mal, � uma tentativa.
O "Vidas Opostas" � uma novela muito boa tamb�m, que botou o dedo na ferida, que falou com verdade sobre o morro, a favela.
Enquanto que a Globo est� contando hist�rias da carochinha, inclusive com um certo preconceito at�, em rela��o a homossexualismo. A caricatura do homossexual � sempre uma forma preconceituosa. � um retrocesso ao trabalho feito pela telenovela ao longo do anos, quando a gente mostrou que h� uma possibilidade de voc� emergir os homossexuais como um grupo de pessoas absolutamente normais. Temos que aceitar passivamente, tirando aquele r�tulo terr�vel de doentes, de desvio, aquela bobageira toda que as religi�es colocaram.
Como a Record trata os homossexuais?
Muito bem. Nas novelas todas em que apareceram, h� personagens que s�o apresentados com dignidade, normalidade.
Mas sem beijo gay.
Esse beijo gay � uma monumental bobagem. Mais importante � demonstrar o afeto entre duas pessoas do mesmo sexo. Isso que conta. O beijo � esc�ndalo pouco. A gente j� est� cansado de ver esse beijo na parte das fotografias nas p�ginas dos jornais.
Mas tem beijo heterossexual nas novelas.
Acho que � a �ltima barreira que temos que derrubar, mas n�o vai acrescentar nada. A hora que fizer o beijo gay, como fez o SBT, vai chegar � conclus�o que n�o � nada, se a psicologia dos personagens n�o estiver aprofundada, tentando entender os reais problemas que esses novos humanos apresentam.
Eles adquiriram um status muito bom. Agora vem uma novela como essa ["Fina Estampa"]. � uma del�cia esse personagen, Cr� [mordomo interpretado por Marcelo Serrado], mas � preconceituoso ao meu ver. Ele vira sempre o palha�o, o bobo da corte. Quando tem que fazer rir, o bobo da corte aparece e diverte a burguesia. Acho que � um p�ssimo exemplo, de comunica��o f�cil e preconceituosa.
Tanto o Marcelo Serrado quanto o Gabriel Braga Nunes s�o gratos ao senhor. Mas, depois de temporada na Record, sa�ram de volta para a Globo. Como voc� se sentiu em rela��o a isso?
A Globo tem uma coisa chamada "star system". Acredita nisso. A Record tem uma estrutura muito diferente, ainda n�o entendeu o que � "star system". N�o conseguiu ainda projetar seus atores.
Est� come�ando agora. Nas chamadas da novela, por exemplo, agora est�o valorizando bastante o nome dos seus atores. Veja bem, a Record vem de uma estrutura de uma religi�o, de uma igreja.
A estrutura de uma igreja enquanto institui��o � r�gida. Semelhante � estrutura militar. Isso em qualquer religi�o, na cat�lica � assim tamb�m, mais ainda. � uma estrutura � qual eles est�o vinculados, dif�cil para eles ver outra possibilidade.
Por isso o "star system" fica um pouco abalado, porque o que importa � a Record em primeiro lugar. Seus v�rios componentes ficam um pouco abafados. Se voc� ver, voc� n�o destaca nenhum grande profissional, a menos que seja um ator de ponta. Os outros ficam meio esquecidos, n�o participam da fofoca. Os paparazzi raramente correm atr�s dos atores da Record.
� bobagem a gente querer bancar a avestruz e enfiar a cara. O "star system" nos ajuda e muito. As pessoas acompanham as fofocas dos grandes nomes da TV. E a Record est� abrindo agora. Parece que caiu uma ficha, todo mundo entendeu que star system � importante, sim, que vamos alimentar isso. Que as novelas t�m de ter um tempo certo, no hor�rio certo.
A t�tica da Record, em outros tempos, do "Poder Paralelo", "Cidad�o Brasileiro", os hor�rios das novelas oscilavam. � uma estrat�gia de guerrilha que eles faziam: vamos ver de que forma a gente pega a Globo. Se a Globo tem um futebol ruim na quarta-feira, vamos entrar no hor�rio do futebol um pouco antes. Depois, mudava completamente o hor�rio da novela em fun��o de tentar pegar os momentos fracos de programa��o da Globo.
Isso acabou. A Record agora tem um painel de programa��o s�lido, vai cumprir os hor�rios, atingiu a maturidade.
Voc� n�o respondeu sobre o Marcelo e o Gabriel. Doeu eles sa�rem?
Doeu, claro. Nossa, eram �timos atores. Em "Poder Paralelo" carregaram a novela. Marcelo era o protagonista, e o Gabriel, o antagonista. De repente, a gente ficou sem dois grandes atores. Mas estamos lan�ando outros. Agora vamos lan�ar Fernando Pav�o, que j� tinha feito "Sans�o e Dalila", uma miniss�rie b�blica. Voc� pode at� discordar da tem�tica, mas eles fizeram bem feito. Fernando fez o papel do Sans�o com dignidade.
Com isso, n�s estamos formando outra vez novo elenco. A Paloma [Duarte], n�o, j� � uma atriz da casa, minha atriz preferida na faixa de idade dela. Espero que ela nunca saia da Record. E o Gabriel talvez at� volte. Sou amigo dele, converso com ele de vez em quando. Ele n�o diz que vai voltar, mas sinto ele com saudades de algumas coisas.
Conversei com Rodrigo Faro no final do ano, e ele sentia muito isso: medo de sair da Globo e ir para a Record, que era a n�2. Existe ainda resist�ncia em ir para a Record?
Existe, mas acho que com o tempo isso acaba. Acho que a Record vai crescer em audi�ncia. Est� fazendo novelas de boa qualidade. Tecnologicamente, cresceu bastante. Podemos, sim, atingir um n�vel bom. N�o � agora, ainda, mais uns quatro e cinco anos e d� para competir.
E voc�s est�o "namorando" algu�m, de outra emissora ou do cinema?
Estamos sempre namorando algu�m. Gostaria de fazer novela com Wagner Moura. Mas tamb�m a Globo gostaria. Talvez seja o grande ator do momento.
J� conversei com v�rios. Vera Fischer, S�nia Braga. Isso em outros tempos. Agora n�s estamos empenhados em fazer nosso elenco aparecer.
Voc�s t�m uma meta de audi�ncia?
O sonho � chegar a 20 pontos, mas � sempre remoto. Para chegar a 20, � preciso que a Globo d� bem baixo --para o n�vel da Globo. Nesse hor�rio das 20, significaria a Globo dar 20 tamb�m, o SBT n�o dar nada... � muito dif�cil. A meta da minha novela � 15. J� est� muito bom. A atual d� 12. Uma m�dia boa, mas tem de ser superada.
Acho que tem um preconceito muito grande em rela��o � Record. A m�dia n�o abre suas primeiras p�ginas para a Record. Um site importante como o da UOL: raramente a Record est� na primeira p�gina. E a Globo est� todo dia, com as maiores bobagens. Qualquer bobagenzinha com o personagem da Christiane Torloni aparece. A Record n�o conseguiu isso ainda. Talvez por causa da origem da Igreja Universal. Ou um trabalho muito bem feito da Globo de minar a Record.
Voc� est� aqui porque eu fui da Globo, fiz quase toda a minha carreira de TV na Globo, sou pioneiro da Globo. Isso tamb�m a Record sabe e divulga.
Como � a estrutura religiosa na pr�tica, para quem trabalha l�?
N�o estou fazendo uma cr�tica negativa. Estou dizendo que � assim.
Uma estrutura em que se obedece a uma hierarquia fielmente. Ningu�m passa na frente de ningu�m. Os que fizeram a Record s�o todos ligados � Igreja Universal do Reino de Deus. Os bispos, os pastores.
Com isso, tem uma estrutura da igreja evidentemente aplicada � emissora. O que � muito diferente da Globo.
Na Globo voc� sente que a coisa � mais relaxada. Voc� pode falar com qualquer pessoa, a qualquer momento. Cruza no corredor com o "big boss" da Globo, j� troca um assunto, passa por cima de outro. N�o tem import�ncia nenhuma.
Na Record voc� sente que tem uma import�ncia. Porque ali tem uma organiza��o, um organograma compacto e bem feito.
Visitei muitos pa�ses socialistas no tempo em que havia ainda socialismo na Uni�o Sovi�tica. Entendi aquilo l� como uma sociedade tamb�m bastante hier�rquica e militarizada --n�o no sentido de repress�o (que tamb�m havia), mas no sentido de solidez. Muito diferente de um pa�s capitalista, onde a gente navega mais f�cil, mais � vontade. N�o tem que seguir certos caminhos para atingir um ponto.
Uma empresa que est� se apoiando em estrutura religiosa tem tamb�m a rigidez socialista. � tudo muito burocratizado, isso impede um pouco a velocidade do processo.
O defeito � que tudo fica mais lento. A qualidade � que se cumpre direitinho tudo o que se promete. Voc� n�o � tra�do. Uma palavra dada � uma palavra dada, a coisa acontece. A palavra dada na Globo pode virar fuma�a se aparecer uma novidade de �ltimo momento.
D� para comparar a Record a China e a Globo aos EUA? A gente n�o tem muita no��o do que acontece na China.
Voc� conhece o Florisbal [Ot�vio Florisbal, diretor-geral da Globo]? E o Honorilton Gon�alves [bispo que � vice-presidente da Record]? Pe�a uma entrevista com ele. O Florisbal voc� vai ter acesso facilmente. Com o Honorilton o acesso vai ser bem mais dif�cil. At� meu acesso a ele � pequeno, e eu sou uma pessoa muito benquista na Record.
Uma vez perguntei para o Florisbal se poder�amos ver uma mocinha evang�lica na novela da Globo. Ter�amos cat�lica na Record?
Tem um personagem cat�lico na minha novela. Perguntei: posso fazer com que o juiz, o personagem do Cecil Thir�, seja abertamente cat�lico? "Pode."
Consultei, sim, da mesma que, se eu estivesse na Globo, consultaria sobre um personagem que � um pastor evang�lico. N�o sei se a Globo autorizaria. Acho que sim.
N�o tive problema nenhum de ter personagem cat�lico. O que eles n�o gostam, e eu entendo perfeitamente, � que se deboche. Se voc� pega um padre e debocha, a Record n�o vai gostar. Se pegar um pastor e debochar, a Record n�o vai gostar. Se tratar religi�o com seriedade e respeito n�o haver� problema. Se mostrar que o padre � rid�culo, trope�a numa casca de banana e cai de perna pra cima, a� eles v�o se chatear.
A Record ainda faz uma certa m�mica do "padr�o Globo de qualidade" ou busca um caminho novo?
A Globo tamb�m n�o nasceu sozinha. � produto do que se fez na TV Excelsior. A TV Excelsior, de certa forma, tamb�m aprimorou um trabalho feito na Tupi.
� claro que a Globo influencia na Record. Eu sou da Globo, o In�cio Coqueiro, que � o diretor, � da Globo, o elenco passou pela Globo... � claro que tem um mimetismo.
O que quis salientar � que n�s da Record estamos com mais tes�o, mas �lan, mais vontade de fazer as coisas. A gente tem uma meta: vamos subir a audi�ncia. A gente vestiu a camisa. � bom para todo mundo: para o mercado, para acabar com o monop�lio. � um discurso bem antigo, mas � bom. N�s estamos com essa ambi��o.
Os autores da Globo est�o muito acomodados, cansados, com pregui�a. Eu sei porque eu sa� de l�. Sinto uma apatia. E faz a mesma hist�ria mais uma vez.
O SBT faz algum ru�do na disputa das novelas?
Nenhum. SBT s� tem feito bobagem, infelizmente. Um autor que poderia fazer alguma coisa �til: Tiago Santiago, que saiu da Record. Posso discordar da maneira que ele v� a teledramaturgia... N�s brigamos muito. Ele queria me submeter � maneira de ele ver a dramaturgia. N�o pode, eu tenho 20 e tantas novelas nas costas.
A� ele foi para o SBT e est� fazendo a mesma coisa l�, mas sem sucesso nenhum. A estrutura da emissora n�o ajuda, n�o valoriza a telenovela.
Acho que a Record entendeu que a novela � muito mais importante do que os realities s� agora. Eles eram capazes de prejudicar uma novela como "Poder Paralelo" por causa de "A Fazenda". Hoje n�o fazem mais isso. Parece que entenderam que a coluna que sustenta a programa��o, o centro de gravidade da grade de programa��o, � a telenovela.
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