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TERRA DE PINGÜIM
Na ilha Deception, batismo antártico é feito em águas que, aquecidas pelo magma, sobem à superfície
Vulcão garante banho de mar quente
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA NA ANTÁRTIDA
Quando se adentra a península
da Antártida, as paisagens revelam-se surpreendentes. O cenário
é cativante, e o viajante se depara
com uma sinfonia de vida em que
não cabe comentário, só admiração. Some-se a isso o longo período de luz solar que há no verão
nessas latitudes. Nos meses de janeiro e fevereiro, a noite só é presente no relógio -à meia-noite, o
horizonte ainda está iluminado
pelos raios do sol. A madrugada
começa avermelhada e termina
amarela, em pouquíssimas horas.
Quem precisa de escuridão para
dormir deve arrumar as cortinas.
Se mesmo assim o sono não vingar, as calmas águas antárticas
podem ajudar a difícil tarefa de
cair nos braços de Morfeu. No
mar não há ondas nem marolas, e
tem-se a sensação de que o barco
não está navegando. Os canais
tranqüilos viram espelhos-d'água
e, ao olhar de ponta-cabeça, as
paisagens são iguais, tanto a verdadeira quanto a refletida.
O barco navega em silêncio total
pelos canais Errera, Danco e Cuverville; passa-se ao longo da ilha
Rongé e de Neko Harbour e penetra-se o canal Lemaire. Há, entretanto, um lugar inesquecível: baía
Paradise. Ali há icebergs, gigantescas montanhas cobertas de gelo, paredões de neve, geleiras, dezenas de pingüins pulando nas
águas, gaivotas, petréis, skuas e
pombas antárticas, que brincam
com as correntes quentes de ar
que o navio deixa; encontra-se
ainda alguma baleia finn, a mais
vista por esses lugares, ou alguma
orca, que nos deixa absortos e
imóveis nas varandas do barco.
Outro momento memorável é a
visita à ilha Deception. Tudo aqui
causa surpresa, começando pelo
único vulcão ativo do mundo em
cuja cratera se pode entrar navegando. Sua última erupção foi em
1970 e destruiu completamente a
base chilena Pedro Aguirre Cerda.
Hoje é possível "apreciar" parte
dos estragos que a erupção produziu caminhando na praia da
baía Whaler, onde há pequenos
navios e um trator coberto por
mais de um metro de cinzas vulcânicas -o cemitério do lugar
simplesmente ficou submerso nelas. Mas o marcante dessa visita é
o batismo antártico: um bom banho de praia em pleno pólo Sul.
Não acredita? As fotos não mentem. A explicação dessa inverossímil experiência é simples: o magma está em total atividade. Isso
faz que essa massa incandescente
no fundo esquente as águas que
emergem até a superfície.
Na praia da baía de Whaler, basta fazer um buraco: ele se enche de
água do mar bem quentinha. Em
outro lugar, na baía do Telefone,
nem é preciso cavar. Basta entrar
no mar, em pontos onde há traços
de fumaça. As águas estão deliciosamente mornas.
Há vários passeios e paradas interessantes. Na base ucraniana de
Vernadsky, além do golinho de
vodca, podem-se comprar "matriushkas" de pingüim feitas pelo
pessoal da base nos longos invernos, enviar postais com carimbo
que prova sua estadia na Antártida e, claro, caminhar nas redondezas, onde pingüins-de-papua e
adelie descansam.
Em Port Lockroy, uma base inglesa virou museu. Essa é uma
viagem ao passado, já que tudo ali
é dos anos 50 e 60, dos talheres ao
fogão, do rádio às fotos de Doris
Day na sala. Na viagem de volta,
cruza-se o mítico mar de Drake,
famoso por suas revoltas águas.
Os estabilizadores de barcos neutralizam o mau humor do Drake.
O navio ancora em Ushuaia, na Argentina.
(JAIME BÓRQUEZ)
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