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Não é necessário ser atleta para consumir creatina, prega lobby
Pesquisador defende suplemento até para idosos; uso exagerado pode prejudicar rins
JULIANA VINES
DE SÃO PAULO
Suplementos com creatina, composto que aumenta a
massa muscular, podem ser
usados por qualquer pessoa.
A opinião é do pesquisador em Ciências do Esporte
Melvin Williams, da Universidade Old Dominion, Virginia, Estados Unidos.
Ele estará no Brasil entre
os dias 20 e 27 para um simpósio promovido por uma
marca de suplementos.
"A substância é eficaz para
quem quer ou precisa ganhar
massa muscular. É indicada
até para idosos", disse Williams em entrevista à Folha.
De acordo com ele, estudos comprovam que a creatina ajuda a tratar distrofias
musculares. "Há muitos mitos sobre o suplemento."
A creatina é um composto
de aminoácidos presentes
em fibras musculares e sintetizado pelo corpo humano.
A venda da substância em
suplementos alimentares era
proibida pela Anvisa até abril
deste ano. A liberação veio
acompanhada de duas ressalvas: o produto deve ser
consumido apenas por atletas de alta performance e a
ingestão diária não deve ultrapassar três gramas.
"Atleta de alta performance é meio porcento da população. Eu indicaria para qualquer pessoa que está na academia e quer ganhar massa
muscular", afirma Turíbio
Leite de Barros Neto, médico
fisiologista da Unifesp, que
também vai participar do
simpósio patrocinado pela
fabricante de suplementos.
Para ele, tem-se uma ideia
errada do papel da creatina.
"Não é bomba, não é medicamento. Produzimos creatina
a partir da ingestão de carne,
mas nem sempre a dieta
atende a necessidade muscular da substância, por isso indico suplementação."
Mas ninguém discorda
que uso excessivo da creatina causa sobrecarga renal.
Pesquisa da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro
publicada na revista "História, Ciências e Saúde", da
Fiocruz, mostrou que a substância é uma das mais populares entre fisiculturistas.
"Eles acabam trocando a
comida por um suplemento,
quando muitas vezes apenas
uma dieta equilibrada seria
suficiente", diz a nutricionista Maria Cláudia Soares Carvalho, uma das autoras.
Para o educador físico Reinaldo Bassit, professor da
USP, mais perigoso do que
ultrapassar o limite de ingestão diária é consumir o suplemento sem saber sua origem
e a forma como é conservado.
"Há vários graus de pureza
do produto. É preciso saber
se só há creatina ou há também substâncias como a
creatinina, resultado da degradação da substância."
A creatinina pode ser tóxica. Exposição ao calor, à luz
ou umidade podem transformar a creatina em creatinina.
"É preciso saber a origem
do suplemento de acordo
com o lote e registro e checar
se ele foi armazenado corretamente. Caso contrário, não
vai fazer efeito", diz Bassit.
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