São Paulo, sexta, 2 de outubro de 1998

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TENDÊNCIAS/DEBATES

Os 70 anos do Opus Dei


A mensagem do Opus Dei tem conexão direta com as fontes, com os primórdios do cristianismo


IVES GANDRA DA SILVA MARTINS

Há 70 anos, o bem-aventurado Josemaría Escrivá, enquanto fazia um retiro espiritual em Madri, recebeu a inspiração de fundar o Opus Dei. Era 2 de outubro de 1928. Escrivá, formado em direito e ordenado sacerdote em 1925, contava na altura 26 anos.
Para que nascia essa instituição, integrada organicamente por leigos -homens e mulheres, solteiros e casados- e sacerdotes, que constitui a primeira prelazia pessoal da Igreja Católica? A resposta é simples: para promover, entre fiéis cristãos de todas as condições, uma vida plenamente coerente com a fé no meio do mundo, contribuindo, assim, para a evangelização de todos os ambientes da sociedade.
É essencial ao Opus Dei o empenho em viver e difundir esse ideal de vida cristã no exercício da profissão e dos deveres cotidianos em geral. Esse empenho, que leva, entre outras coisas, a realizar um trabalho amorosamente bem-feito, responsável, acabado, digno de ser oferecido a Deus, traduz-se no desejo de servir os concidadãos e contribuir para o progresso da sociedade.
O espírito do Opus Dei não está separado da vida, da realidade. Pelo contrário: funde-se, como afirmava seu fundador, com as realidades mais correntes do cotidiano. Para dizê-lo com as próprias palavras do beato Escrivá, "não duvidem: qualquer modo de evasão das honestas realidades diárias é, para os homens e mulheres do mundo, coisa oposta à vontade de Deus (...). Deus os chama a servi-lo em (e a partir das) tarefas civis, materiais, seculares da vida humana. Deus nos espera, a cada dia, no laboratório, na sala de operações de um hospital, no quartel, na cátedra universitária, na fábrica, na oficina, no campo, no seio do lar e em todo o imenso panorama do trabalho (...). Quando um cristão desempenha com amor a mais intranscendente das ações diárias, está desempenhando algo de onde transborda a transcendência de Deus" ("Questões Atuais do Cristianismo", números 114 e 116).
Dentro dessa perspectiva é que o fundador do Opus Dei afirmava: "Essas crises mundiais são crises de santos. Deus quer um punhado de homens seus em cada atividade humana" ("Caminho", n� 301).
Na época da fundação, tal visão do papel do leigo e, especificamente, do papel santificador do trabalho profissional era inovadora: muitos católicos criam que a santidade era possível só nos conventos, fora do ruído do mundo. O bem-aventurado Escrivá teve a percepção de que todos os homens e mulheres, de qualquer condição social, são chamados à santidade; não há cristãos de primeira e segunda classe, mas apenas cidadãos do reino de Deus.
Com razão, o fundador tomava muitas vezes como referencial do Opus Dei a vida dos primeiros cristãos. Todos eram cidadãos comuns, conhecidos por suas profissões: Paulo era um fazedor de tendas, Pedro e outros apóstolos, pescadores, e o próprio Cristo era lembrado como carpinteiro e filho de carpinteiro.
A mensagem do Opus Dei tem, pois, conexão direta com as fontes, com os primórdios do cristianismo. O ofício que cada um desempenha pode e deve ser caminho de santidade, sempre que seja realizado como ensinava monsenhor Escrivá: "Com perfeição humana (competência profissional) e perfeição cristã (por amor à vontade de Deus e a serviço dos homens)" ("Questões Atuais do Cristianismo", n� 10).
É assim que, na vida dos fiéis da prelazia do Opus Dei, a amizade com Deus, as ocupações temporais e o empenho evangelizador se fundem harmoniosamente numa sólida e simples unidade de vida, expressão cunhada pelo fundador com a qual resumia grande parte da sua mensagem.
Ao longo de 70 anos, o Opus Dei espalhou-se por 80 países, levando o espírito cristão aos mais diversos ambientes em que os cristãos comuns vivem e trabalham: ao grande campo da educação, do ensino, à imensa gama das profissões intelectuais e manuais, à vida familiar, incentivando homens e mulheres a ser bons cristãos e bons cidadãos a serviço de Deus, da família, da sociedade e dos autênticos valores.
Nesses 70 anos, o Opus Dei tem feito muito pela igreja e pela humanidade em todos os continentes. Hoje, em todo o mundo, os 80 mil fiéis do Opus Dei, com seus colaboradores e amigos, comemoram a efeméride. E eu não poderia deixar, como velho colaborador e amigo da Folha, de trazer por suas páginas meu depoimento pessoal sobre essa instituição, juntando os meus votos de que continue a realizar seu fecundo trabalho, para auxiliar a conformar um mundo melhor no futuro.


Ives Gandra da Silva Martins, 63, advogado tributarista, professor emérito das universidades Mackenzie e Paulista e da Escola de Comando do Estado-Maior do Exército, é presidente da Academia Internacional de Direito e Economia e do Conselho de Estudos Jurídicos da Federação do Comércio do Estado de São Paulo.




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