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Site exibe ataque dos EUA a civis em Bagdá e incomoda governo
WikiLeaks, espécie de Wikipedia com arquivos vazados, provocou explicações públicas da Defesa
ANDREA MURTA
DE WASHINGTON
Um helicóptero Apache americano abre fogo contra o que
pensa serem insurgentes em
Bagdá. Corpos no chão, feridos
se arrastam, soldados riem e dizem: "Olha só aqueles babacas
mortos". Não sabiam que haviam acabado de matar um fotógrafo da agência Reuters.
Nem que, três anos depois, o vídeo rodaria o mundo graças a
um site cada vez mais incômodo aos círculos do poder.
O WikiLeaks (www.wikileaks.org), espécie de Wikipedia de
arquivos vazados, divulgou no
início do mês as imagens brutais feitas pelo helicóptero do
ataque em julho de 2007, forçando até o secretário da Defesa dos EUA, Robert Gates, a se
explicar. Os 39 minutos de "Assassinato Colateral" (17, em
versão resumida) mostram que
soldados não apenas mataram
12 pessoas, entre elas o fotógrafo Namir Noor-Eldeen, 22, e o
seu motorista, Saeed Chmagh,
40, como feriram crianças ao
atacar uma van que chegou para ajudar. Eldeen e Chmagh estavam desarmados, mas um
dos homens do grupo levava
um fuzil, indicam as imagens.
O site diz ter recebido o vídeo
de um militar anônimo. A Reuters o pedia por via legal havia
mais de dois anos, em vão.
O Pentágono admitiu que o
vídeo é autêntico, e Gates foi
confrontado pela imprensa devido ao WikiLeaks várias vezes
nas últimas semanas. Inicialmente, afirmou que o material
é "doloroso de assistir". Depois,
lançou dúvidas sobre o site:
"Esses vídeos mostram a situação através de um canudinho
de refrigerante, sem contexto
ou perspectiva". Ele não é o
único a questionar o grupo, bloqueado na China desde 2007 e
que tem recebido ataques de
vários países. "Recebemos uma
ameaça de processo por semana", disse ao jornal "El País" o
porta-voz Daniel Schmitt.
O site se baseia na combinação de uma interface simples
com tecnologias de criptografia
avançadas. A ideia é divulgar
material o mais amplamente
possível com completo anonimato das fontes, que fazem
uploads anônimos e protegidos. O WikiLeaks, porém, em
geral não verifica a veracidade
das informações. A checagem
se baseia em revisões dos próprios usuários.
"Como descoberto pela Wikipedia, a sabedoria coletiva de
uma comunidade informada de
usuários garante disseminação
rápida e precisa, checagens e
análises", diz o site. "Além disso, vazamentos falsos já existem na mídia de massa, como
visto no período que antecedeu
a Guerra do Iraque."
O WikiLeaks venceu o prêmio de novas mídias da Anistia
Internacional em 2009, mas
analistas ainda não sabem ao
certo como avaliar a proposta.
"Acho ótimo disseminar informações, mas também é importante verificar a veracidade
e pesar benefícios para o público contra prejuízos potenciais
que podem ser causados pela
publicação. Não sei como agem
quanto a isso", disse à Folha
David Cullier, diretor da comissão pela liberdade de informação da Sociedade dos Jornalistas Profissionais dos EUA.
Os membros do WikiLeaks
se mantêm discretos. A Folha
enviou diversos e-mails, telefonou e deixou recados para contatos sugeridos pelo site, mas
não obteve resposta.
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