São Paulo, domingo, 18 de abril de 2010

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Site exibe ataque dos EUA a civis em Bagdá e incomoda governo

WikiLeaks, espécie de Wikipedia com arquivos vazados, provocou explicações públicas da Defesa

ANDREA MURTA
DE WASHINGTON

Um helicóptero Apache americano abre fogo contra o que pensa serem insurgentes em Bagdá. Corpos no chão, feridos se arrastam, soldados riem e dizem: "Olha só aqueles babacas mortos". Não sabiam que haviam acabado de matar um fotógrafo da agência Reuters. Nem que, três anos depois, o vídeo rodaria o mundo graças a um site cada vez mais incômodo aos círculos do poder.
O WikiLeaks (www.wikileaks.org), espécie de Wikipedia de arquivos vazados, divulgou no início do mês as imagens brutais feitas pelo helicóptero do ataque em julho de 2007, forçando até o secretário da Defesa dos EUA, Robert Gates, a se explicar. Os 39 minutos de "Assassinato Colateral" (17, em versão resumida) mostram que soldados não apenas mataram 12 pessoas, entre elas o fotógrafo Namir Noor-Eldeen, 22, e o seu motorista, Saeed Chmagh, 40, como feriram crianças ao atacar uma van que chegou para ajudar. Eldeen e Chmagh estavam desarmados, mas um dos homens do grupo levava um fuzil, indicam as imagens.
O site diz ter recebido o vídeo de um militar anônimo. A Reuters o pedia por via legal havia mais de dois anos, em vão.
O Pentágono admitiu que o vídeo é autêntico, e Gates foi confrontado pela imprensa devido ao WikiLeaks várias vezes nas últimas semanas. Inicialmente, afirmou que o material é "doloroso de assistir". Depois, lançou dúvidas sobre o site: "Esses vídeos mostram a situação através de um canudinho de refrigerante, sem contexto ou perspectiva". Ele não é o único a questionar o grupo, bloqueado na China desde 2007 e que tem recebido ataques de vários países. "Recebemos uma ameaça de processo por semana", disse ao jornal "El País" o porta-voz Daniel Schmitt.
O site se baseia na combinação de uma interface simples com tecnologias de criptografia avançadas. A ideia é divulgar material o mais amplamente possível com completo anonimato das fontes, que fazem uploads anônimos e protegidos. O WikiLeaks, porém, em geral não verifica a veracidade das informações. A checagem se baseia em revisões dos próprios usuários.
"Como descoberto pela Wikipedia, a sabedoria coletiva de uma comunidade informada de usuários garante disseminação rápida e precisa, checagens e análises", diz o site. "Além disso, vazamentos falsos já existem na mídia de massa, como visto no período que antecedeu a Guerra do Iraque."
O WikiLeaks venceu o prêmio de novas mídias da Anistia Internacional em 2009, mas analistas ainda não sabem ao certo como avaliar a proposta.
"Acho ótimo disseminar informações, mas também é importante verificar a veracidade e pesar benefícios para o público contra prejuízos potenciais que podem ser causados pela publicação. Não sei como agem quanto a isso", disse à Folha David Cullier, diretor da comissão pela liberdade de informação da Sociedade dos Jornalistas Profissionais dos EUA.
Os membros do WikiLeaks se mantêm discretos. A Folha enviou diversos e-mails, telefonou e deixou recados para contatos sugeridos pelo site, mas não obteve resposta.


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