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Lula será recebido por líder supremo do Irã em visita
Encontro com aiatolá é honraria reservada só a aliados próximos do regime islâmico
"O presidente Lula é um grande amigo do Irã, é normal que seja recebido pelo nosso líder supremo", diz diretor de agência estatal
SAMY ADGHIRNI
ENVIADO ESPECIAL A ISTAMBUL
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva será recebido durante sua visita ao Irã, nos próximos dias 16 e 17, pelo líder supremo, aiatolá Ali Khamenei,
uma honra reservada aos aliados mais próximos do regime,
como o venezuelano Hugo
Chávez e o chefe do grupo palestino Hamas, Khaled Meshal.
"O presidente Lula é um
grande amigo do Irã, é normal
que seja recebido pelo nosso líder supremo", disse à Folha
por telefone Ali Akbar Javanfekr, ex-chefe de comunicação
do presidente Mahmoud Ahmadinejad e atual diretor da
principal agência de notícias
estatal do país, a Irna.
O líder supremo, máxima autoridade política e religiosa do
Irã, detém a palavra final sobre
todos os assuntos iranianos,
em especial as questões estratégicas como o programa nuclear, que Teerã diz ter intenções pacíficas. Khamenei, 70,
aparece raramente em público
e só o mais alto escalão do governo tem acesso a ele.
O Brasil espera aproveitar o
encontro com o líder supremo
para reforçar uma proposta em
debate na ONU para que o urânio do Irã seja enriquecido em
outro país antes de ser devolvido a Teerã. A fórmula evitaria
que os iranianos mantivessem
estoques suficientes para fabricar uma bomba atômica.
A oferta tem apoio da Turquia, que ocupa, ao lado do Brasil, cadeira rotativa do Conselho de Segurança da ONU, e se
ofereceu para ser depositária
do urânio iraniano. Lula cogita
fazer breve escala em Istambul
após a visita ao Irã para reportar aos aliados turcos o teor das
conversas em Teerã.
Ontem, um porta-voz da
Chancelaria iraniana disse que
as recentes conversas com Brasil e Turquia produziram "uma
nova fórmula que poderia pavimentar o caminho para o entendimento".
Desde que a proposta da
AIEA foi apresentada em meados do ano passado, porém, o
Irã tem alternado uma retórica
em que abre caminho a um
acordo com a sistemática recusa a pontos considerados fundamentais pelas potências ocidentais -que a troca aconteça
fora do Irã e que não se dê de
maneira simultânea.
Com a dificuldade para um
acordo, EUA, Reino Unido e
França fazem pressão para que
o Conselho de Segurança imponha uma quarta rodada de
sanções econômicas e financeiras ao Irã, que até a China e a
Rússia, tradicionais aliadas de
Teerã, já aceitaram discutir.
Aliado fiel
Independentemente do resultado da mediação brasileira,
o espaço aberto na reclusa
agenda de Khamenei é uma demonstração de apreço a Lula,
visto em Teerã como um aliado
fiel que resiste a todas as pressões do Ocidente para punir e
encurralar o Irã por causa de
seu programa nuclear.
O governo iraniano avalia
que Lula é um líder independente e corajoso por defender
que todos os países signatários
do Tratado de Não Proliferação
Nuclear, incluindo o Irã, desfrutem de seu direito de enriquecer urânio para fins médicos ou produção de energia.
A posição brasileira está resumida em uma frase repetida
à exaustão por Lula: "Defendo
para o Irã o mesmo que para o
Brasil".
Críticos dizem que o presidente brasileiro é ingênuo ao
acreditar nas intenções pacíficas do programa nuclear iraniano e que é incabível o apoio a
um regime acusado de violações de direitos humanos -a
Folha revelou na segunda que
Lula não pretende se reunir
com dissidentes iranianos.
O jornalista SAMY ADGHIRNI viajou a convite
do governo turco
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