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FRANÇA
Por ser militar, a força policial não poderia realizar
manifestações; atos reforçam crise do setor público no governo Jospin
Gendarmes exigem reajuste salarial em protestos inéditos
DO "THE INDEPENDENT", EM PARIS
Em um ato sem precedentes de
desafio a seu status militar, gendarmes se manifestaram nas ruas
de Paris anteontem pela primeira
vez, exigindo melhores salários e
condições de trabalho.
O protesto provocou um breve
confronto entre os gendarmes
-uniformizados e dirigindo carros, motocicletas e vans da Gendarmaria- e uma fileira das tropas de choque (CRS), portando
escudos, que pertencem a outra
força, a Police Nationale.
Não há empatia entre as duas, as
principais organizações policiais
francesas. A CRS se recusou a deixar seus "colegas" manifestantes
passarem pela avenida Grande
Armée até o Arco do Triunfo. Os
500 manifestantes uniformizados
tiveram de fazer um caminho diferente para a sede regional da
Gendarmaria, em Les Invalides.
Em teoria, os gendarmes, que
fazem parte do Exército francês,
não podem fazer greve, manifestações ou se sindicalizar. Os protestos de anteontem deram continuidade a eventos menores em cidades do interior durante a semana e são parte de uma série de desafios do setor público ao governo
de centro-esquerda de Lionel Jospin antes das eleições de 2002.
Elas também são um sintoma
de um problema maior nos pouco
convencionais sistemas policial e
judiciário da França, que levam
alguns analistas a pedir que todo o
aparato de investigações policiais
e jurídicas seja reconsiderado.
No mês passado, foram os
membros da Police Nationale -a
força administrada por civis que
opera em cidades e vilarejos-
que estavam pedindo melhores
salários, mais oficiais e a rejeição
de uma lei que limita os poderes
do Estado para prender pessoas
sem acusação. A maior parte dos
sindicatos policiais parece ter sido
"comprada" com um bônus mensal equivalente a R$ 245.
Os 100 mil gendarmes, que operam majoritariamente nas áreas
rurais, reclamam que são mais
mal remunerados do que a polícia, que tem jornada de trabalho
mais extensa e que atua num
mundo cada vez mais violento.
No sudoeste da França, nas últimas três semanas, houve três episódios em que atiraram em gendarmes, dos quais um morreu.
O salário inicial do gendarme é
o equivalente a R$ 2.450 por mês
(no Estado de São Paulo, o piso
dos policiais militares varia de R$
1.000 a R$ 1.150, dependendo do
número de habitantes da cidade).
Devido à regra militar que proíbe manifestações, os gendarmes
não participaram dos protestos
policiais na semana passada,
mandando em seu lugar suas mulheres, que usavam os quepes típicos da Gendarmaria.
Na semana passada, os gendarmes engoliram seu orgulho e sua
disciplina militar e encheram as
ruas de Paris, pela primeira vez na
história da França.
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