São Paulo, Sexta-feira, 02 de Julho de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

DESEMPREGO E MORTE
Aumento incidiu principalmente sobre homens na faixa dos 40 e 50 anos que foram demitidos
Suicídio no Japão sobe 35% com crise

das agências internacionais


A polícia japonesa informou ontem que 32.863 pessoas se mataram no país em 1998. Isso significa um aumento de 35% na taxa de suicídios em relação a 97.
Homens oficialmente desempregados representam quase a metade do total de suicidas, 15.266.
A Agência de Coordenação e Gerenciamento do Japão anunciou na última segunda-feira que 2,07 milhões de homens estavam sem emprego no mês de maio.
Esse foi o maior número de desempregados masculinos registrado no país desde que os atuais métodos de apuração foram adotados, no ano de 1953.
Apesar disso, o percentual total de desempregados no país caiu de 4,8% para 4,6% no mesmo mês.
O aumento de suicídios incidiu principalmente nas pessoas mais atingidas pela reestruturação econômica japonesa e pelos cortes nas folhas de pagamento que vêm acontecendo nos últimos anos por causa da crise financeira mundial.
Houve mais do que o dobro de suicídio de homens em relação ao de mulheres japonesas no ano passado. Dos mais de 32 mil suicidas, 23.013 eram homens e 9.850 eram mulheres.
Levando-se em conta apenas as pessoas na faixa dos 50 anos, o aumento da taxa de suicídios foi de 45,7%, chegando a um total de 7.898 suicidas no período. Na faixa dos 40 anos, o aumento no ano de 1998 foi de 27,6%.
Essas faixas etárias estão entre as mais atingidas pela crise. Nessas idades, o japonês atinge os postos médios do mercado de trabalho.
Certos cargos gerenciais e de direção estão sendo reformulados ou extintos nas empresas, e a recolocação no mercado é dificultada por causa da retração da economia.

Tradição cultural
O suicídio é uma tradição no Japão. Pode ser utilizado como um meio de escapar da vergonha e de salvar os entes queridos de embaraços ou de perdas financeiras.
Em suas origens no Japão, o suicídio era um ato ritualístico para aquele que não conseguia cumprir seus deveres com os superiores.
"Atualmente, o suicídio não é mais visto como um ato elevado, como originalmente era", afirma o doutorando em história na Unesp e monge budista Francisco Handa. "Mas não é visto como pecado", completa, referindo-se ao conceito judaico-cristão que considera que apenas Deus pode tirar a vida humana.
Para ele, o mais importante na sociedade japonesa é o coletivo, em detrimento do indivíduo. "Ritualisticamente, é um ato para a sociedade, não individual."
A grande pressão social no Japão seria fundamental para a morte escolhida por essas pessoas.


Colaborou Rodrigo Uchôa


Texto Anterior: Crise: Hugo Chávez pede a dissolução do Congresso na Venezuela
Próximo Texto: Saiba mais sobre suicídio no Japão
Índice

Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.