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Durkheim desvendou a sociologia do suicídio
Antes que Albert Camus definisse, nos anos
40, o suicídio como o "único problema filosófico realmente sério", o tema foi investigado
em uma das obras capitais da moderna teoria social. O livro "O Suicídio" (1897, publicado no Brasil pela ed. Martins Fontes), do francês Émile Durkheim, é considerado fundamental para a consolidação da sociologia como ciência. Isso se deve ao pioneirismo da
obra sob pelo menos dois aspectos: o uso de
métodos de observação empírica, especialmente a estatística, e a ousadia de explicar
como "fato social", externo aos indivíduos,
um fenômeno -o ato de matar-se- geralmente atribuído ao arbítrio pessoal e a causas psicológicas. Além de mostrar que a predisposição suicida varia segundo fatores como credo religioso, gênero e estado civil, Durkheim (1858-1917) destacou três tipos de
suicídio: o egoísta, o altruísta e o anômico. O
suicídio egoísta, afim ao estereótipo do sujeito solitário, desalentado e que "não vê mais
sentido em viver", deriva, segundo o sociólogo francês, da baixa integração do indivíduo
a laços grupais e valores compartilhados. O
suicídio altruísta, ao contrário, não decorre
do isolamento, mas sim de uma identificação
com o grupo tão intensa que põe em segundo
plano a existência individual, daí a possibilidade do "auto-sacrifício" a causas ou a pressões coletivas. Já o suicídio anômico -de
"anomia", ausência de regras- seria típico
de sociedades em crise ou em transição histórica radical, como no Ocidente após as revoluções francesa e industrial. Nesse contexto,
diz Durkheim, a falta de "coesão moral", de
valores e instituições estáveis, acentuaria a
suscetibilidade das pessoas ao suicídio.
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