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O dono da festa

"O Rei da Roleta" narra trajet�ria do mineiro Joaquim Rolla, que reformulou o Cassino da Urca, no Rio

Divulga��o
Joaquim Rolla, dono do cassino da Urca, em 1972
Joaquim Rolla, dono do cassino da Urca, em 1972

MARCO RODRIGO ALMEIDA
DE S�O PAULO

Nos anos 1930, um caipira vindo de Minas Gerais, de h�bitos broncos e fala truncada (trocava a letra "L" pela "R"), tornou-se um dos reis da noite carioca.

N�o s� isso: deu a ela ares de sofistica��o e profissionalismo at� ent�o in�ditos.

O tal mineiro era Joaquim Rolla (1899-1972), tema do livro "O Rei da Roleta", de Jo�o Perdig�o, 34, sobrinho-bisneto do biografado, e Euler Corradi, 36.

Joaquim Rolla chegou ao Rio em 1932. Na ent�o capital federal, durante um jogo de truco com amigos, ganhou uma porcentagem do Cassino da Urca. Em 1934 j� seria o �nico propriet�rio da famosa casa de jogos.

Os jogos foram proibidos no Brasil em 1928, mas, com Get�lio Vargas no poder, seriam legalizados em 1933.

Come�ava a� a fase �urea da jogatina nas noites do Rio de Janeiro. Naquele in�cio, por�m, comparado ao cassino do Copacabana Palace, o empreendimento de Rolla era, como bem definiu Ruy Castro, colunista da Folha, no livro "Carmen", "um est�bulo de t�o pobre".

"O Rei da Roleta" conta que a "decora��o era tosca, a ilumina��o rudimentar" e que Rolla, ao vistoriar o local, "lembrou-se dos bord�is mal-ajambrados que conhecera pelos rinc�es de Minas Gerais".

Rolla n�o entendia patavinas de cassinos e compreendeu que para salvar seu neg�cio precisava de ajuda.

Para isso, recrutou o cineasta Luiz (Lulu) de Barros para recriar a Urca. Barros contratou orquestras, reformulou a decora��o e uniformes das coristas, organizou bailes elegantes para atrair a elite carioca.

Principalmente, criou uma nova estrutura de palcos em plataformas m�veis, que eliminavam o intervalo entre os espet�culos -enquanto uma orquestra descia, outra subia, j� tocando, por um elevador.

Por sua vez, Rolla soube explorar o momento pol�tico favor�vel para incrementar sua atividade.

O Estado Novo de Get�lio Vargas tinha como meta incentivar o turismo e a m�sica brasileira -atividades obviamente relacionadas aos cassinos.

J� no plano internacional, era a �poca da Pol�tica da Boa Vizinhan�a do presidente Franklin Roosevelt. Nos esfor�os para difundir a cultura e o estilo de vida americano na Am�rica Latina, tornaram-se comuns as visitas de grandes nomes da m�sica dos EUA e de estrelas de Hollywood ao Brasil.

Muitas delas passaram pelos palcos da Urca. "No final dos anos 1930, a Urca j� era o principal cassino do Rio. Tinha a melhor estrutura e os melhores shows", diz Perdig�o.

Apesar disso, um cassino, � claro, vive principalmente do jogo, e Rolla levou uma punhalada quando ele foi novamente proibido, ap�s a queda de Get�lio, em 1946.

Al�m da Urca, Rolla tamb�m tinha cassinos em Niter�i e no interior de Minas. N�o chegou a ficar pobre -ganhou um bom dinheiro com a compra e venda de terrenos-, mas, at� o fim da vida, nenhum de seus projetos decolou.

Mas ele n�o viveu apenas entre cassinos -e o subt�tulo do livro, "A Incr�vel Vida de Joaquim Rolla", n�o � s� um golpe publicit�rio.

Come�ou a vida como tropeiro, em Minas. Depois foi vendedor de carne, construtor de estrada e dono de jornal em Belo Horizonte.

Na Revolu��o de 1930, montou um batalh�o de 700 homens para apoiar Get�lio. Mas em 1932 se envolveu com manifestantes que queriam depor Get�lio, foi preso e quase fuzilado.

Em 1962, um pavilh�o que construiu no Rio abrigou uma feira de tecnologia sovi�tica e foi alvo de um atentado anticomunista. Felizmente, a bomba foi encontrada antes de explodir.

"Cresci ouvindo essas hist�rias. Ele teve uma vida realmente fant�stica, mas ningu�m sabe quem ele foi. O livro quer resgatar a import�ncia dele", diz Perdig�o.

carmen miranda

A cantora firmou um contrato de exclusividade com o Cassino da Urca em 1936 e ajudou a consagrar a casa nas noites do Rio. Carmen recebia um sal�rio de 30 contos de r�is por m�s, alt�ssimo para a �poca.

jo�o de barro

Ap�s uma noite na qual perderam tudo nas roletas da Urca, ele e Alberto Ribeiro resolveram compor uma marchinha fanfarrona para espantar a tristeza. O resultado foi o cl�ssico "Cantoras de R�dio", grande sucesso de 1936.

josephine baker

Conhecida como V�nus Negra, ela aportou no Rio em 1939 para uma temporada de um m�s no cassino. A cantora e dan�arina, que costumava se apresentar com os seios � mostra, foi um dos grandes sucessos da Urca.

orson welles

O cineasta veio ao Brasil em fevereiro de 1942 rodar o document�rio "It's All True". Farrista, logo conheceu a Urca. Chegou a filmar no palco do cassino e foi anfitri�o do anivers�rio de Get�lio Vargas comemorado ali.

bing crosby

Quando soube que o ator e cantor viajava num navio que aportaria no Rio antes de chegar a Buenos Aires, Rolla foi ao cruzeiro com uma mala de dinheiro. De pileque, Crosby cantou na Urca "Please" e "It's Easy to Remember".

mario schenberg

Ap�s visita ao Cassino da Urca, o brasileiro e o russo George Gamow compararam a velocidade com que o dinheiro sumia nas roletas com a r�pida perda de energia das estrelas. O fen�meno ficou conhecido como Efeito Urca.

O REI DA ROLETA

AUTORES Jo�o Perdig�o e Euler Corradi
EDITORA Casa da Palavra
QUANTO R$ 49,90 (464 p�gs.)

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