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Contemporâneo do cinema novo, diretor fez obra oposta ao movimento
Morre Walter Hugo Khouri, o cineasta da contracorrente
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
O cineasta Walter Hugo Khouri
morreu na madrugada de ontem,
aos 74 anos, vítima de um infarto,
em sua casa, em São Paulo.
Autor de 27 filmes, Khouri foi
velado na Cinemateca Brasileira,
que suspendeu suas atividades. O
enterro estava previsto para as 9h
de hoje, no cemitério São Paulo.
A carreira de Khouri foi marcada pela controvérsia com o movimento do cinema novo, nos anos
60, do qual foi contemporâneo,
mas discordante.
Enquanto os cineastas cinemanovistas buscavam rompimento
de linguagem, quebrando cânones estilísticos e assumindo engajamento político, Khouri retomava tradição clássica e industrial representada pelas produções da
Vera Cruz. Com o irmão William
Khouri, chegou a assumir a gerência do acervo dos estúdios.
"Khouri tem a importância de
ser uma referência contemporânea ao cinema novo, mas alternativa a ele. Talvez a personalidade
cinematográfica própria e consistente que construiu ao longo do
tempo tenha sido ofuscada justamente por surgir no mesmo momento em que aparecia o cinema
novo", diz o cineasta André Klotzel, que estudou a obra de Khouri
em curso com o crítico Paulo
Emílio Salles Gomes, na Escola de
Comunicações e Artes, na USP.
O crítico Jean-Claude Bernardet
é exemplo desse embate. "Minhas
relações com Khouri foram bastante tensas, porque eu estava
mais ligado ao cinema novo, e ele
considerava que as pessoas do cinema novo eram seus inimigos e
poderiam transformá-lo em vítima", afirma.
Mas crítico e cineasta conviveram e travaram inúmeras discussões sobre cinema, frequentemente ambientadas num bar na
rua Dom José Gaspar, como lembra Bernardet. Khouri também
recebeu o crítico em alguns de
seus sets de filmagem.
"Devo a ele parte da minha
aprendizagem. E mesmo não sendo pessoalmente grande admirador de sua obra, considero "Noite
Vazia" um filme indiscutivelmente importante", afirma Bernardet.
Realizado em 1964 e estrelado
por Norma Bengell e Odete Lara,
"Noite Vazia" é um expoente na
filmografia de Khouri. Filmado
em preto-e-branco, narra a perambulação de dois homens (Gabriele Tinti, Mário Benvenutti)
numa única noite paulistana, em
que saem em busca de prazer. Os
dois encontrarão a companhia de
Bengell e Lara.
"Ele tinha um viés de filmar o
mal-estar da burguesia paulista",
afirma Alain Fresnot, que ganhou
de Khouri seu primeiro emprego.
"Junto com [a cineasta] Ana Carolina, fiz a continuidade de "As
Amorosas", em 1967. Eu tinha 16
anos", diz Fresnot.
Notório por acolher e apresentar jovens profissionais, Khouri
foi também o primeiro a escalar a
apresentadora Xuxa Meneghel
num longa -"Amor, Estranho
Amor" (1982). O filme acabou
sendo alvo de disputa judicial. A
apresentadora requereu a interdição de suas exibições.
O cineasta Sérgio Bianchi afirma que "Khouri não parecia ter ficado muito machucado pelas mágoas daquela época [refere-se às
disputas com os cinemanovistas]
e conseguiu produzir quilos de filmes, o que é uma glória".
De acordo com a família de
Khouri, o cineasta atravessava
processo depressivo nos últimos
tempos. O infarto o atingiu às 5h,
quando tentava ir do quarto à sala
de seu apartamento.
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