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LIVROS
BIOGRAFIA
Escritor concentra foco narrativo na descrição de batalhas militares
Alexandre Dumas não omite fascínio por imperador francês
GILBERTO FELISBERTO VASCONCELLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA
Filho de um general de Napoleão Bonaparte, o mestre do
romance histórico Alexandre Dumas (1802-1872) escreveu a biografia do célebre imperador francês sem elidir a simpatia e admiração pelo personagem, o qual
morreu em péssimas condições,
prisioneiro em Santa Helena nas
mãos dos ingleses, da "oligarquia
inglesa", como gostava de dizer
Napoleão.
O romancista conta que viu Napoleão apenas duas vezes na vida,
sentado no mesmo coche em viagem. O foco narrativo do livro se
concentra na descrição das batalhas militares, em que às vezes
avulta o elemento pitoresco: a galope em seu cavalo, em meio aos
gritos dos soldados e à música,
Napoleão "sempre dava ao começo de suas batalhas um ar de festa,
em contraste com a frieza dos
Exércitos inimigos".
O autor romanceia, o que não
quer dizer, no entanto, faltar com
a verdade; de resto, como dizia
Goethe, a verossimilhança às vezes é mais importante do que a
verdade.
Napoleão representou uma façanha européia extraordinária
(depois viria Hitler, embora abusando da comparação), uma façanha que teve implicações e desdobramentos no mundo inteiro, inclusive aqui no Brasil quando Junot invadiu Portugal, o que fez
com que a corte de dom João 6�
aportasse no Rio de Janeiro.
O romancista se fixa num detalhe sempre recorrente a respeito
do sono, das freqüentes e longas
insônias do famoso general, cuja
capacidade de comando era excepcional, e o fator decisivo nas
vitórias do Exército francês.
Dumas não foi o único escritor
fascinado por Napoleão. A não
ser René Chateaubriand que lhe
fez várias restrições, Napoleão
despertou admiração em Stendhal, Balzac, Dostoiévski e até
mesmo o filósofo Hegel, que o
considerou o criador do Estado,
espécie de "Deus revelado" aos
homens, embora o imperador
não tivesse chamado Hegel a Paris
em 1806 para tornar-se o filósofo e
o sábio do Estado universal.
Os filósofos e escritores padecem de inação, ao contrário do
que sucedeu com Napoleão, embora fosse um homem dado à leitura. Distanciados da ação, os intelectuais sonham, desde Platão,
em dar conselhos e dirigir a atividade dos políticos. Em sua paixão
pelo realizador Bonaparte, o romancista Alexandre Dumas não
fugiu à regra.
Gilberto Felisberto Vasconcellos é
professor de ciências sociais na Universidade Federal de Juiz de Fora (Minas Gerais) e autor do livro "A Salvação da Lavoura" (Casa Amarela)
Napoleão - Uma Biografia Literária
Autor: Alexandre Dumas
Tradução: André Telles
Editora: Jorge Zahar
Quanto: R$ 29,50 (240 págs.)
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