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Kogut cria `lugar nenhum' em videoinstalação
JOSÉ GERALDO COUTO
especial para a Folha
O Instituto Cultural Itaú (ICI)
inaugura amanhã mais uma invenção da cineasta e videomaker
carioca Sandra Kogut: a videoinstalação ``landSCAPE'', uma espécie de caverna cujas paredes internas são revestidas por 140 monitores de TV ligados.
Até 29 de março o ICI estará exibindo, além da videoinstalação,
uma retrospectiva de trabalhos da
artista, incluindo os vídeos ``Parabolic People'' e ``Videocabines São
Caixas Pretas'', o curta-metragem
``Lá e Cá'' e três programas da série ``Brasil Legal''.
O evento dá início a uma programação permanente do ICI na área
da arte eletrônica. De acordo com
Lucas Bambozzi, que ao lado de
Lúcia Koch faz a curadoria dessa
programação, o próximo evento
previsto é um encontro entre os cineastas e videomakers Carlos Nader e Kiko Goffman, com exposições e debates.
Para viabilizar a montagem da
videoinstalação ``landSCAPE'',
que faz parte do projeto ``Ambiente'', do ICI, Sandra Kogut recebeu
do instituto R$ 24 mil.
Da França, onde estava preparando seu próximo curta-metragem, encomendado pela TV francesa, Sandra Kogut falou por telefone à Folha sobre seu trabalho.
Ela chega a São Paulo amanhã para
a inauguração da videoinstalação
``landSCAPE''.
Folha - Como é a videoinstalação
``landSCAPE''? O que é exibido nos
monitores?
Sandra Kogut - Nada. Todas as
TVs estão fora do ar. É como se
fosse uma caixa, no escuro, recoberta de TVs fora do ar. Você entra
nessa grande caixa como quem entra numa caverna de paredes irregulares, porque os aparelhos de
TV são dispostos de modo assimétrico.
Folha - E o que acontece?
Kogut - O visitante aciona projetores escondidos no meio dos
monitores, e imagens são projetadas sobre o seu corpo. Para ver essas imagens, você tem de olhar para você mesmo, ou para quem está
com você.
São, basicamente, pequenos textos que definem lugares imaginários. Tirei esses textos do ``Dicionário de Lugares Imaginários'',
uma antologia de excertos de vários autores.
Esse lugar é lugar nenhum. É como se você estivesse dentro da
imagem.
É como se você tivesse todas as
imagens ao mesmo tempo, o que
equivale a nenhuma imagem.
Folha - Você é mais conhecida
como videomaker, diretora de TV e
cineasta. Faz tempo que você faz
videoinstalação?
Kogut - Faz. A primeira foi há
dez anos. Eu já fazia vídeo, mas estava muito mais próxima das artes
plásticas do que da narrativa de tipo cinematográfico. Fiz uma exposição grande no Rio em 88, com
várias instalações. As pessoas ficaram meio perplexas, porque na
época era uma novidade.
Folha - Você diz que ``landSCAPE'' forma uma trilogia com o vídeo ``Parabolic People'' e o filme
``Lá e Cá''. Por quê?
Kogut - Nos três, há a mesma
idéia de um ``lugar nenhum''. No
``Parabolic People'', era a cabine
que eu instalava na rua e na qual os
transeuntes entravam para falar à
câmera.
No ``Lá e Cá'' (inspirado em
conto de Aníbal Machado), é o
momento da personagem, suspensa entre dois mundos: o do subúrbio, onde ela mora, e o da zona
sul, para onde ela quer ir.
Folha - O que você está fazendo
agora?
Kogut - Estou fazendo um curta de 26 minutos para uma TV
francesa. Eles viram o ``Lá e Cá'' e
me encomendaram um curta.
Eu posso fazer o que quiser, com
uma única condição: de que seja
nos Pirineus, entre a França e a Espanha.
Passei duas semanas na região,
estudando locações. Logo terei de
voltar para lá e filmar. Tenho que
entregar o filme até julho.
Folha - Você já fez vídeo, TV, cinema, instalação. Em que meio se
sente mais à vontade? Ou a intenção é mesmo borrar as fronteiras
entre eles?
Kogut - Escolher é impossível
para mim. Dependendo do momento, ou do projeto, tem um dos
meios que vai se prestar melhor,
ou então uma mistura deles. Não é
uma questão de procurar um caminho, é tudo misturado desde o
começo. Talvez isso seja uma situação típica de nossa época.
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