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POESIA
Cantora interpreta poemas no lançamento do livro 'Pequeno Oratório...' hoje no Rio
Bethânia lê obra de Neide Archanjo
ALVARO MACHADO
especial para a Folha
Portugueses de fino trato já afirmaram que Maria Bethânia lhes
revelou o espírito mais genuíno de
Fernando Pessoa -como nos
poemas ditos em seu último álbum, "Imitação da Vida".
Porém há um outro lado desse
interesse da intérprete por poesia
que poderá ser melhor conhecido
hoje, quando Bethânia comparece
à Biblioteca Nacional, no Rio, para
interpretar o "Pequeno Oratório
do Poeta para o Anjo", mais recente produção da poeta paulistana Neide Archanjo.
Esse recital, sob a batuta da diretora teatral Bia Lessa, marca o lançamento nacional do livro, que
chega ao leitor em embalagem requintada: acompanhado de CD no
qual Bethânia lê poemas e ilustrado pela pintora paulista Lucila Sartori.
Em São Paulo o lançamento será
no dia 17 de junho, no teatro Maria
Della Costa, com outras afinidades
eletivas da autora: Regina Duarte
será a intérprete, sob direção da
artista plástica Denise Millan.
Em ambos os eventos estarão expostos os quatro dípticos em óleo
sobre tela de Sartori, que acompanham a temática do livro com
"anunciações angélicas" em cores rebaixadas e folhas de ouro.
Atualmente radicada no Rio,
Neide Archanjo estreou em poesia
em 1964, com "Primeiros Ofícios
da Memória". Tem outros sete livros publicados em várias editoras, premiação da APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte)
em 80 e indicação para o prêmio
Jabuti em 95 ("Tudo é Sempre
Agora", ed. Maltese).
Assessora do Departamento Nacional do Livro, Neide Archanjo é
bastante atuante em mesas-redondas e apresentações de poesia em
todo o Brasil, dentro de um panorama recente que se configura
quase como um movimento informal de revitalização da produção e
amostragem poéticas.
Entusiasta do contato direto com
o público, que ela se refere como
"opção política", criou nos anos
69/70 os "Varais de Poesia" e o
movimento "Poesia na Praça",
com os poetas Ilka Brunhilde, José
Luís Archanjo, Álvaro de Farias e
outros.
Na feira hippie da Praça da República e em cafés do centro de São
Paulo pendurava-se e declamava
poemas sobre fatos acontecidos na
véspera.
Drummond
Archanjo pertence à vigorosa família poética feminina de Hilda
Hilst, Renata Pallotini, Mariajosé
de Carvalho, Dora Ferreira da Silva e outras autoras paulistas.
Carlos Drummond de Andrade,
que tinha por elas grande admiração, escreveu para Archanjo:
"Você alcança a justa e vibrante
expressão que deixa marca no leitor".
"Pequeno Oratório..." tem influência explícita de Rilke, que
com Jorge de Lima e Saint-John
Perse está entre os autores preferidos da poeta.
Conforme o plano original da
autora, o livro chega com o encarte
de CD, papel e ilustrações especiais, e por isso foi produzido de
forma independente.
"Pequeno Oratório..." terá uma
tiragem de 3.000 exemplares e distribuição comercial pela Tempo
(tel. 011/240-1027).
Os 16 poemas falam, segundo
Archanjo, sobre "a visitação, a
presença da musa, ou da beleza,
que é sempre 'pré-ante-perdida'.
O que fica é a poesia que relata essa
aparição e o clamor da perda".
Os títulos dos poemas são haicais
que, em sua sequência, configuram um poema em movimento.
Compõem-se de afirmações que
vão se metamorfoseando por meio
de seus contrários: "Era quimera/
e parecia ser o amor./ Era quimera."
Para a autora, "o êxtase da visitação é como um diamante bruto
que deve ser lapidado, ou revelado, em seus diversos prismas, até a
catarse do poema, da obra".
Livro: Pequeno Oratório do Poeta para o
Anjo, de Neide Archanjo (60 págs.)
Lançamento: hoje, às 18h, na Biblioteca
Nacional, Rio de Janeiro (av. Rio Branco,
219, tel. 021/262-8255)
Quanto: R$ 25, incluindo encarte com CD
Distribuição: Tempo (tel. 011/240-1027)
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