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Ciclo destaca rigor de Leon Hirszman
"Deixa que Eu Falo" inaugura mostra sobre o cineasta, que marca o lançamento de seus filmes restaurados
COLUNISTA DA FOLHA
No cinema novo brasileiro, o
carioca Leon Hirszman (1937-87) representou, de certo modo, um contraponto de equilíbrio e lucidez ao delírio genial e
genioso de Glauber Rocha.
A parte mais diretamente política da obra do diretor, incluindo o documentário "ABC
da Greve" (1980) e o multipremiado "Eles Não Usam Black-Tie" (1981), poderá ser conferida de hoje a domingo na mostra
Leon Hirszman Ano 70, realizada na Cinemateca Brasileira
de São Paulo.
A retrospectiva, que é completada pelos curtas "Pedreira
de São Diogo" (1961), "Megalópolis" (1974) e "Ecologia"
(1974), marca também o lançamento da primeira caixa de
DVDs com os filmes restaurados do cineasta.
Nada mais apropriado do que
a escolha, para inaugurar hoje a
mostra, do documentário inédito "Deixa que Eu Falo".
O filme foi realizado pelo cineasta e montador Eduardo
Escorel, amigo de Leon Hirszman de longa data, colaborador
de seus principais filmes e
coordenador do processo de
restauração da sua obra, ao lado
do seu irmão, Lauro Escorel,
também cineasta e diretor de
fotografia.
Em "Deixa que Eu Falo" vemos em ação, como que num
presente contínuo, o empenho
estético e o rigor crítico de
Hirszman, autor sempre preocupado com o papel do artista
em um país desarticulado e injusto como o Brasil. Preciosos
depoimentos do cineasta, com
destaque para o áudio de uma
longa entrevista a Alex Viany,
cenas de filmagens e trechos de
suas obras compõem um retrato vivo e plural do cineasta em
momentos de criação, de reflexão e de ação política.
Nise da Silveira
Não por acaso, as imagens
que iniciam e terminam o documentário são de uma entrevista inédita da então octogenária psiquiatra Nise da Silveira (1905-99) ao cineasta.
Foram as últimas tomadas
realizadas por Hirszman, que
retratara o trabalho revolucionário da psiquiatra alagoana
com pacientes psicóticos no soberbo documentário "Imagens
do Inconsciente".
Assim como a psiquiatra,
Hirszman unia o rigor intelectual à imaginação e à paixão pelo drama humano. E, apesar de
todas as evidências em contrário, acreditava na salvação pela
arte.
(JGC)
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