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Atriz mexicana reclama da
discriminação em Hollywood e
quer mudar imagem de 'caliente'
Salma Hayek quer sepultar "latina sexy"
ELAINE GUERINI
da Reportagem Local
Passada a fase do deslumbramento, Salma Hayek, 28, começa a
sentir as limitações de uma estrela
latina em Hollywood. Apontada
como a mexicana mais famosa da
indústria depois de Dolores del
Rio, a atriz não quer ficar restrita
aos papéis "calientes".
"Fiquei com essa imagem porque só me chamam para interpretar mulher sexy", disse a atriz em
entrevista à Folha, por telefone, de
Los Angeles. Sua mais recente personagem, em "E Agora, Meu
Amor?", que estréia no Brasil em
novembro, é uma fotógrafa mexicana que seduz um executivo nova-iorquino em Las Vegas.
"A vantagem é que nessa história a garota mexicana é a protagonista, o que raramente acontece.
Os latinos ainda são discriminados", afirma a atriz, que filma
atualmente "The Velocity of
Gary", uma produção independente dirigida por Dan Ireland.
Em dezembro, Salma inicia as
filmagens da biografia da pintora
Frida Kahlo (1907-1954). O trabalho também marca a sua estréia
como produtora. "Mais uma mexicana para a minha galeria. Mas
essa merece." Leia a seguir, os
principais trechos da entrevista.
Folha - Qual a principal desvantagem da estrela latina?
Salma Hayek - Hollywood te
encaixa no grupo dos latinos. Mesmo assim, eu e outras atrizes, como Sônia Braga, não temos a mesma oportunidade. Se você tem
sangue latino, mas nasce em Miami ou Nova York, eles te consideram americana. Do contrário, você fica para segundo plano.
Infelizmente Hollywood não vê a
alma das pessoas. Eles só se importam com a aparência e com o sotaque. Eu tenho a atitude certa, mas
o sotaque errado.
Folha - Acha que, no seu caso, o
preconceito se agrava por você ter
sido estrela de novela mexicana?
Salma - Acho que não. A maneira de trabalhar no México é
bem diferente da dos EUA. Mas foi
uma experiência extraordinária.
Meu sucesso aconteceu de uma
hora para outra e eu tive de carregar algumas novelas nas costas
("Teresa" e "Nuevo Amanecer"). Eu atuava usando ponto
eletrônico e conseguia fazer tudo
muito rápido e bem feito.
Folha - É verdade que você não
passou no primeiro teste para "E
Agora, Meu Amor?"?
Salma - É. Quando o projeto
surgiu, há uns quatro anos, eu ainda não havia feito quase nada nos
EUA e ninguém me considerou
para o papel. Mas tive sorte, o filme acabou demorando para sair.
Quando o projeto foi retomado
no ano passado, fui aprovada. Fiquei feliz porque achava que seria
uma boa oportunidade para mostrar meu lado cômico e, quem sabe, amenizar a imagem sexy, já
que a minha personagem passa
boa parte da história grávida. Mas
não deu certo. Logo nas primeiras
críticas, disseram que eu continuava sexy. Será que ninguém reparou na minha barriga?
Folha - Como você lida com os
estereótipos na hora de interpretar uma mexicana?
Salma - Em "E Agora, Meu
Amor?" não dá para evitá-los,
porque é uma comédia. Mas faço
questão de evitar a caricatura, minha personagem é bem real.
Desse universo dos estereótipos
mexicanos, o filme usa apenas os
positivos. Mostra a forte relação
entre os membros da mesma família. Seria pior se os mexicanos da
história fossem pobres e se os maridos batessem nas mulheres.
Folha - Por que você recusou o
papel-título em "Selena" (que ficou com Jennifer Lopez)?
Salma - Ela tinha acabado de
morrer (a cantora foi assassinada
pelo fundador de seu fã-clube).
Não concordo com essa postura.
Alguém morre, vai para o noticiário e já pensam em fazer dinheiro
em cima. Prefiro o papel de Frida
Kahlo. Acho importante retratar o
período em que ela viveu, sua visão do mundo e seu trabalho. Nesse caso, não há nada de mórbido.
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