São Paulo, sexta-feira, 06 de julho de 2007

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Morre José Agrippino, autor de "PanAmérica"

Escritor, que faria 70 anos no dia 13, criou obra com influências pop e beat e dialogou com o tropicalismo

DA REPORTAGEM LOCAL

O escritor e cineasta José Agrippino de Paula morreu anteontem, em Embu das Artes (SP), vítima de infarto. Seu corpo foi enterrado ontem, em São Paulo, no Cemitério da Lapa.
Agrippino completaria 70 anos no próximo dia 13.
Seu livro "PanAmérica", lançado em 1967, é considerado uma obra única na literatura brasileira, independente de tradição, com características da pop art, influências beat e antecipações do tropicalismo.
Nele, como diz a psicanalista Miriam Chnaiderman, Agrippino "brinca com os arquétipos da cultura pop", transformando ícones como Marilyn Monroe, Marlon Brando, Cecil B. de Mille e Che Guevara em personagens de sua história.
O cantor e compositor Caetano Veloso narra sua relação com Agrippino no livro "Verdade Tropical" (97), apresentando-o como alguém que dizia preferir o iê-iê-iê à MPB, e os filmes de 007 ao cinema francês. Em prefácio para a edição mais recente de "PanAmérica", feita em 2001 pela editora Papagaio, Caetano afirma: "Antes do lançamento de qualquer uma das canções tropicalistas, tomei contato com "PanAmérica". O livro representava um gesto de tal radicalidade -e indo em direções que me interessavam abordar no âmbito do meu próprio trabalho- que, como já relatei no livro de memórias "Verdade Tropical", quase inibiu por completo meus movimentos".
Ao apresentar Agrippino como um escritor "paulista" e próximo literariamente de Jorge Mautner, autor de "Deus da Chuva e da Morte", de 1962, Caetano diz: "Eu, que sou um baiano do tempo em que se crescia olhando exclusivamente para o Rio, preciso de São Paulo como de um antídoto contra um suave veneno. Assim como, por razões semelhantes embora opostas em suas aparências, a poesia concreta e a USP me são referências essenciais, sem a literatura beat-paulista de Mautner e Agrippino eu não posso seguir em frente".
Agrippino já havia publicado, em 1965, o romance "Lugar Público", também reeditado pela Papagaio. Editado pela Civilização Brasileira, foi saudado à época por Carlos Heitor Cony como um livro de tema "particularmente universal".
No cinema, realizou o média-metragem "Hitler Terceiro Mundo" (70 min.), de 1968, além de curtas. A obra é descrita por Lucilla Meirelles, curadora de sua obra cinematográfica, como uma "crítica alegórica à ditadura". "É um filme anarquista, não-linear, em que não existe protagonista", ela diz, mas que mistura personagens como Hitler, um samurai e referências de histórias em quadrinhos.
Agrippino foi diagnosticado como esquizofrênico em 1980, e passou a morar em Embu das Artes em seguida. "Ele foi coerente no modo como estava vivendo", diz Chnaiderman. "Continuou do jeito dele e coerentemente se retirou em Embu", afirma a autora de "Passeios no Recanto Silvestre", curta sobre o autor.
Ela apresenta Agrippino como um sujeito "doce e amigável", muito culto, e que falava usando verbos no presente para tratar dos anos 60 e 70. "Ele falava no presente da casa do Caetano, dava endereços, tudo como se fosse hoje. Como se o tempo não tivesse passado."
Sérgio Pinto de Almeida, editor da Papagaio, diz que lançará em breve um volume com contos de Agrippino. Seu "PanAmérica" acaba de ter os direitos negociados para uma edição francesa -a primeira vez que será traduzido. Deve ser lançado no início do ano que vem, pelas edições Léo Scheer.


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