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Morre José Agrippino, autor de "PanAmérica"
Escritor, que faria 70 anos no dia 13, criou obra com influências pop e beat e dialogou com o tropicalismo
DA REPORTAGEM LOCAL
O escritor e cineasta José
Agrippino de Paula morreu anteontem, em Embu das Artes
(SP), vítima de infarto. Seu corpo foi enterrado ontem, em São
Paulo, no Cemitério da Lapa.
Agrippino completaria 70
anos no próximo dia 13.
Seu livro "PanAmérica", lançado em 1967, é considerado
uma obra única na literatura
brasileira, independente de
tradição, com características da
pop art, influências beat e antecipações do tropicalismo.
Nele, como diz a psicanalista
Miriam Chnaiderman, Agrippino "brinca com os arquétipos
da cultura pop", transformando ícones como Marilyn
Monroe, Marlon Brando, Cecil
B. de Mille e Che Guevara em
personagens de sua história.
O cantor e compositor Caetano Veloso narra sua relação
com Agrippino no livro "Verdade Tropical" (97), apresentando-o como alguém que dizia
preferir o iê-iê-iê à MPB, e os
filmes de 007 ao cinema francês. Em prefácio para a edição
mais recente de "PanAmérica",
feita em 2001 pela editora Papagaio, Caetano afirma: "Antes
do lançamento de qualquer
uma das canções tropicalistas,
tomei contato com "PanAmérica". O livro representava um
gesto de tal radicalidade -e indo em direções que me interessavam abordar no âmbito do
meu próprio trabalho- que,
como já relatei no livro de memórias "Verdade Tropical", quase inibiu por completo meus
movimentos".
Ao apresentar Agrippino como um escritor "paulista" e
próximo literariamente de Jorge Mautner, autor de "Deus da
Chuva e da Morte", de 1962,
Caetano diz: "Eu, que sou um
baiano do tempo em que se
crescia olhando exclusivamente para o Rio, preciso de São
Paulo como de um antídoto
contra um suave veneno. Assim
como, por razões semelhantes
embora opostas em suas aparências, a poesia concreta e a
USP me são referências essenciais, sem a literatura beat-paulista de Mautner e Agrippino eu
não posso seguir em frente".
Agrippino já havia publicado,
em 1965, o romance "Lugar Público", também reeditado pela
Papagaio. Editado pela Civilização Brasileira, foi saudado à
época por Carlos Heitor Cony
como um livro de tema "particularmente universal".
No cinema, realizou o média-metragem "Hitler Terceiro
Mundo" (70 min.), de 1968,
além de curtas. A obra é descrita por Lucilla Meirelles, curadora de sua obra cinematográfica, como uma "crítica alegórica à ditadura". "É um filme
anarquista, não-linear, em que
não existe protagonista", ela
diz, mas que mistura personagens como Hitler, um samurai
e referências de histórias em
quadrinhos.
Agrippino foi diagnosticado
como esquizofrênico em 1980,
e passou a morar em Embu das
Artes em seguida. "Ele foi coerente no modo como estava vivendo", diz Chnaiderman.
"Continuou do jeito dele e coerentemente se retirou em Embu", afirma a autora de "Passeios no Recanto Silvestre",
curta sobre o autor.
Ela apresenta Agrippino como um sujeito "doce e amigável", muito culto, e que falava
usando verbos no presente para tratar dos anos 60 e 70. "Ele
falava no presente da casa do
Caetano, dava endereços, tudo
como se fosse hoje. Como se o
tempo não tivesse passado."
Sérgio Pinto de Almeida, editor da Papagaio, diz que lançará
em breve um volume com contos de Agrippino. Seu "PanAmérica" acaba de ter os direitos
negociados para uma edição
francesa -a primeira vez que
será traduzido. Deve ser lançado no início do ano que vem,
pelas edições Léo Scheer.
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