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FOLHATEEN EXPLICA
O candidato Le Pen supera a esquerda com propostas fascistas
O avanço da extrema-direita nas eleições na França
ALCINO LEITE NETO
DE PARIS
No último dia 21, um domingo de sol, a
França foi às urnas com preguiça e desinteresse para eleger, entre 16 candidatos, os
dois nomes que se enfrentariam no segundo
turno das eleições presidenciais.
Todas as pesquisas apontavam que o atual
presidente Jacques Chirac (direita), que tentava a reeleição, e o primeiro-ministro Lionel
Jospin (esquerda) seriam os vencedores e se
enfrentariam na segunda rodada.
Na noite do mesmo domingo, o país levou
um choque: os franceses haviam escolhido
Chirac, sim, mas também, pela primeira vez
para o segundo turno, um candidato de extrema-direita -Jean-Marie Le Pen, 74, líder do
partido Frente Nacional (FN).
Os resultados provocaram um dos maiores
traumas políticos e sociais no país nos últimos
50 anos. A França é o berço dos direitos do
homem e da democracia moderna. Os franceses se consideram os guardiães da liberdade e
da tolerância no mundo.
O programa político de Le Pen é racista, xenófobo e neofascista. Ele prega a volta dos
imigrantes para seus locais de origem. Detesta
a União Européia e o euro. Defende uma
França voltada para si mesma, contra a globalização. É a favor da pena de morte, do recrudescimento da ordem, da autoridade e da vigilância. Diz que o assassinato de 6 milhões de
judeus é um detalhe da Segunda Guerra.
Não foi só isso que aconteceu nessas eleições. Elas tiveram também a maior taxa de
abstenção até hoje na França (27,6% dos 40
milhões de eleitores), onde votar não é obrigatório. Além disso, tanto a esquerda quanto
a direita que estavam no governo foram severamente julgadas e ficaram com um número
baixíssimo de votos. Chirac entrou para o segundo turno, mas com desonrosos 19,8% (Le
Pen ficou com 17%). Derrotado, Jospin (16%)
anunciou sua aposentadoria política.
Os franceses ainda tentam entender o que
ocorreu. É certo que a quantidade de candidatos dispersou os votos. É também fato que os
eleitores resolveram protestar contra os seus
governantes, votando em partidos menores
(a extrema-esquerda também avançou eleitoralmente). É ainda correto dizer que muita
gente se absteve porque achou que a política
era uma repetição chata.
Agora, diante do confronto com Le Pen, a
maioria dos franceses está pregando o "voto
útil" em Chirac, a única maneira de conter a
extrema-direita e a ameaça que ela representa. As eleições foram ruins para a imagem da
França, mas deverão ser benéficas no futuro
para a reconstrução da política e da responsabilidade civil no país.
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