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borboleta
Maria Lenk, 92, nadadora e pioneira
Primeira sul-americana a disputar Olimpíada, em 1932, morre no Rio após passar mal em treino na piscina do Flamengo
Na ativa até o último dia, atleta fez história como difusora de estilo e é a única brasileira no Hall da Fama da federação internacional
FABIO GRIJÓ
MARIANA BASTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
SÉRGIO RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO
Maria Emma Hulda Lenk Zigler se aventurou nas águas
-ainda límpidas- do rio Tietê,
em 1925, aos 10. Aprendeu a nadar com o pai alemão, Paul, ex-ginasta, para se recuperar de
pneumonia. "Era uma maravilha, havia até peixinhos", dizia.
Com o tratamento, começou
uma história de pioneirismo no
esporte sul-americano que terminou ontem. Na piscina.
Lenk, 92, morreu no início da
tarde após ter desmaiado enquanto treinava na sede do Flamengo, no Leblon (zona sul do
Rio). O corpo continuará sendo
velado no clube até às 16h de
hoje. Será cremado amanhã.
Como fazia todos os dias da
semana, ela realizava uma sessão de treinos no Flamengo
-nadava 1.500 metros.
Lenk morreu no Hospital
Copa D'Or, em Copacabana,
zona sul do Rio. Ela passou mal
por volta das 10h, foi retirada
da piscina e medicada no clube.
Em seguida, foi levada de ambulância para o hospital.
Segundo boletim médico divulgado ontem, a nadadora
apresentava alteração do nível
de consciência, insuficiência
respiratória e quadro compatível com choque circulatório.
Exames complementares detectaram que Lenk sofreu um
rompimento da aorta torácica.
Em seguida, teve uma parada
cardíaca. Morreu às 13h.
Parentes da nadadora disseram que ela gostava de treinar
na praia do Leblon. Ela vivia só
num apartamento do bairro.
Seus dois filhos moravam nos
EUA. No ano passado, ela fraturou uma das pernas e ficou cinco meses sem entrar na água.
Nascida em São Paulo no dia
15 de janeiro de 1915, Lenk foi a
primeira mulher sul-americana a disputar a Olimpíada, em
Los Angeles-32. Com maiô emprestado de lã, competiu nos
100 m livre, 100 m costas e 200
m peito -nesta competição, alcançou as semifinais olímpicas.
Ela saiu do Rio um mês antes
dos Jogos, numa viagem de navio da Marinha Mercante até a
costa dos EUA. Era a única mulher ao lado dos 66 atletas brasileiros. Na embarcação, Lenk
treinava num tanque, amarrada por uma corda na cintura.
Em 36, nos Jogos de Berlim,
ao competir no estilo peito,
apresentou uma inovadora
braçada fora da água -na ocasião, adotada só por homens.
Ajudou, assim, a difundir o nado borboleta, oficializado em
Olimpíadas em Melbourne-56.
Em 39, bateu dois recordes
mundiais, no Rio: 200 m peito
(2min56s90) e 400 m peito
(6min15s80). Preparava-se para os Jogos de Tóquio-40, que
acabaram cancelados em conseqüência da 2� Guerra Mundial (1939-1945). "Foi uma
grande decepção", falava.
Ao deixar as competições, em
1942, auxiliou na fundação da
Escola Nacional de Educação
Física, da Universidade do Brasil, atual UFRJ (Universidade
Federal do Rio). Aposentada
como professora, retomou a
carreira como master. "Redescobri a natação", contava Lenk.
A brasileira entrou para o
Hall da Fama da Fina (Federação Internacional de Natação)
em 88. No mesmo ano, foi homenageada pela entidade com
o "Top Ten", por ser uma das
dez melhores atletas masters .
Em 2000, levou cinco medalhas de ouro no Mundial da categoria 85-90 anos: 100 m peito, 200 m livre, 200 m costas,
200 m medley e 400 m livre.
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