São Paulo, domingo, 13 de maio de 2001

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FUTEBOL

Bicampeão mundial em 58 e 62, jogador de estilo elegante foi chamado de "Príncipe Etíope" por Nelson Rodrigues

Morre Didi, autor do 1� gol do Maracanã

Folha Imagem
Didi atuando como treinador em 1984


CESAR DE LIMA E SILVA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

MÁRIO MAGALHÃES
DA SUCURSAL DO RIO

Morreu ontem no Rio aos 72 anos de idade um dos maiores jogadores de futebol de todos os tempos, Waldir Pereira, o Didi.
Bicampeão mundial com a seleção brasileira em 1958 e 1962, ele foi um dos gênios da geração de Pelé e Garrincha. Celebrizou um chute com efeito na bola batizado como folha-seca. Meia de estilo clássico e elegante, era chamado de ""Príncipe Etíope" pelo dramaturgo Nelson Rodrigues.
Didi morreu às 9h30 de falência múltipla dos órgãos, decorrência de complicações provocadas por câncer, no Hospital Universitário Pedro Ernesto.
O ex-jogador foi internado em 25 de abril, com dores na barriga, sem saber que estava com câncer. Foi submetido a uma cirurgia de emergência três dias depois, devido a um quadro de obstrução intestinal, retirando a vesícula e parte do intestino. Em estágio avançado, a doença comprometia fígado, diafragma e colo. Desde anteontem, sedado, ele só respirava com a ajuda de aparelhos.
O velório começou às 15h50, na sede do Botafogo, em General Severiano. O enterro está marcado para hoje, às 13h, no cemitério São João Batista, no Rio.
A Confederação Brasileira de Futebol deve pagar os custos do enterro. Embora não fosse rico, Didi levava uma vida mais confortável do que muitos ex-jogadores. Morava com a mulher, Guiomar, no bairro da Ilha do Governador. Deixou quatro filhos.
Além das Copas de 58 e 62, Didi disputou também a de 54. Em 1950, ele marcou o primeiro gol do Maracanã. No ano passado, na comemoração do cinquentenário do estádio, registrou seus pés na calçada da fama.
Duas imagens marcarão Didi para sempre. A primeira, a folha-seca, era um chute com o lado externo do pé direito, em que a bola pegava efeito e descia repentinamente. A outra foi sua atitude após a Suécia fazer o primeiro gol contra o Brasil na final da Copa de 58. Didi pegou a bola com as mãos do fundo do gol e caminhou serenamente para o meio-campo, conversando com os colegas. O Brasil virou e ganhou por 5 a 2.
"Didi pegou a bola, teve tranquilidade", lembrou ontem o atual técnico do Flamengo, Mário Jorge Lobo Zagallo, ponta-esquerda da equipe que triunfou em 58 e 62. ""Foi um Didi pensante, com a cabeça tranquila e jogando o seu futebol majestoso."
"Didi era um craque extraordinário, um sujeito brincalhão, bem-humorado, nunca o vi triste ou zangado", afirmou o ex-zagueiro Hideraldo Luiz Bellini, capitão da seleção de 1958.
"O sonho dele era, agora, ensinar algum garoto a fazer a folha-seca. Didi reclamava que não via mais ninguém fazer", disse o presidente da Associação de Garantia ao Atleta Profissional, Nilo Chaves de Oliveira.
A morte de Didi coincide com uma das mais graves crises do futebol brasileiro. A técnica que teve nele um dos emblemas supremos foi substituída por um futebol menos vistoso.



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