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VÔLEI
Técnico que se demitiu na segunda-feira diz que Fernanda Venturini armou complô e incentivou atletas a debandarem
Seleção feminina foi "hospício", diz Motta
MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma ação deliberada das jogadoras, influenciadas diretamente
por Fernanda Venturini. Segundo
o técnico demissionário Marco
Aurélio Motta, foi esse o principal
motivo da crise que o fez deixar a
seleção feminina de vôlei.
"Esses dois anos foram um inferno, um hospício", disse Motta.
O ex-treinador do Brasil diz que
a levantadora agiu nos bastidores
e deu declarações à imprensa a
fim de interferir em seu trabalho.
"Eu sempre gostei mais de ver a
Fernanda jogando do que falando. O que sei é que ela não pode
fazer isso com o voleibol e com a
minha carreira. Uma coisa tão sistemática me assusta", afirmou ele.
Procurada pela Folha, a levantadora disse que considera descabidas as declarações de Motta.
"Pelo que ele falou, eu virei a superpoderosa. Eu tinha grandes
amigas naquele time, sempre torci pelo bem da seleção."
A novela que levou à saída de
Motta pode ser dividida em três
capítulos, segundo o técnico.
Os problemas apareceram antes
mesmo de seu trabalho começar e
atingiram o auge quando ele mexeu no grupo anterior.
Antes de sua primeira convocação, Motta diz que procurou Bernardinho para cuidar da transição. Não foi atendido: "Tenho o
extrato com as ligações que fiz".
O comandante da seleção masculina diz que não foi procurado.
O segundo ato aconteceu após a
primeira convocação, em 2001.
Motta afirma ter sido recebido
com afronta -em sua primeira
equipe estavam 10 das 12 atletas
de Bernardinho, atual técnico do
masculino e marido de Fernanda.
"Era como se a seleção fosse
uma propriedade privada", disse.
As divergências internas começaram logo no primeiro ano de
trabalho, quando Motta cortou a
líbero Ricarda. A jogadora saiu dizendo que havia pedido dispensa.
A partir daí, começaram a pipocar críticas das atletas. As principais queixas eram o fato de Motta
ser também o preparador físico e
o excesso de lesões nas jogadoras.
"Eu tenho um laudo do clube
[Rexona] mostrando que o joelho
da Walewska estava como no ano
anterior, e ela reclamava", disse.
Em 2002, Motta passou a fazer
uma renovação no grupo, mesclando experientes com novatas.
Começava o derradeiro capítulo.
Gota d'água
O corte de Elisângela por indisciplina antes da Volley Masters,
em junho, teria sido a gota d'água.
Na Suíça, Érika, Walewska, Raquel e Fofão pediram dispensa.
Virna deixaria o time depois.
Segundo Motta, elas voltaram
ao Brasil e foram à casa de Fernanda Venturini. No dia seguinte,
se reuniram na confederação para
explicar o motivo da debandada.
"Elas saíram do país orientadas.
A Érika alegou que era um problema de metodologia de treinamento. Acho que ela nem sabe o
que é metodologia", disse Motta.
As rebeladas admitem que não
gostaram do corte. "O caso poderia ter sido resolvido com conversa, sem radicalismo", disse Fofão.
Segundo Motta, na Suíça, as
atletas racharam o grupo. "Elas
começaram a tirar onda com as
mais novas, coisas do tipo "vai na
bola que você não pega mesmo"."
Com a debandada, teriam aumentado as críticas de Fernanda.
"Tenho 25 matérias dela falando
mal de mim", afirmou Motta.
Sem as titulares, o ex-treinador
amargou o sétimo lugar no Mundial-2002. Neste ano, mesmo com
a volta de Virna e Raquel, foi apenas sétimo no Grand Prix.
Motta e sua comissão técnica
creditaram o mau desempenho
também às pressões externas.
Jogadoras que ficaram na seleção e não quiseram se identificar
dizem que o clima foi prejudicado
pelas atitudes das rebeladas. Mas
que, após a crise, o grupo se fechou. Algumas chegaram a temer
represálias na volta aos clubes.
Desde junho, as rebeladas se esquivaram quando o assunto era o
motivo da debandada. Motta diz
que nunca soube o porquê. Passada a crise, elas resolveram falar.
"Eu sentei com ele e expliquei.
Eu não sou mais uma juvenil,
queria continuar um trabalho forte, em busca de resultado. Mas ele
tinha na cabeça a idéia de que estávamos sendo influenciadas e
não quis escutar", disse Fofão.
"O Marco tentou zerar uma coisa que estava dando certo. Foi
uma mudança muito radical",
afirmou Walewska.
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