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OPINIÃO ECONÔMICA
O PSDB e a
política monetária
LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA
Diante do descalabro ético
do PT e de uma política monetária equivocada, que impede o
desenvolvimento não obstante a
situação internacional favorável,
o PSDB aparece nas pesquisas
eleitorais como o provável vencedor das próximas eleições, mas
não oferece alternativa de política
econômica ao país, a partir do
pressuposto de que a política atual
é mera continuação da política do
governo FHC. De fato, se a política
econômica se limitasse à política
fiscal, como o ministro da Fazenda insiste em sugerir, haveria continuidade. Em relação à política
de juros e de câmbio, porém, argumentarei que a continuidade é
apenas aparente.
A doença macroeconômica no
Brasil, entre 1980 e 1994, foi a inflação; a partir de então, é a alta
taxa de juros. É ela que debilita as
finanças do Estado, transfere cerca de 8% do PIB dos pobres para
os ricos, obstaculiza os investimentos, pressiona a taxa de câmbio (o preço do dólar) para baixo,
promovendo mais cedo ou mais
tarde crise de balanço de pagamentos, e mantém a economia semi-estagnada.
A consciência desse fato, porém,
é recente, de forma que o governo
FHC não teve oportunidade de se
aproveitar dela para mudar a política monetária. Nos quatro primeiros anos, os críticos mais consistentes da política econômica
preocuparam-se apenas com o
problema mais visível -o da
apreciação da taxa de câmbio.
Depois que, no início de seu segundo turno, em janeiro de 1999, o
presidente decidiu pela flutuação
e depreciação do câmbio, todas as
atenções voltaram-se para a inflação (que, aliás, afinal, não cresceu
tanto quanto muitos temiam).
Foi só em 2002 que começou o
verdadeiro debate sobre os juros.
O gatilho foi um trabalho que escrevi então com Yoshiaki Nakano,
"Uma Estratégia de Crescimento
com Estabilidade", no qual mostramos que, diferentemente da
crença convencional, não era o
risco Brasil que explicava essas altas taxas nem era a política convencional de superávit primário
que nos faria sair da armadilha
dos juros altos e do câmbio baixo.
Foi um debate nacional envolvendo todos os macroeconomistas relevantes no Brasil, mas Fernando
Henrique, às voltas com uma segunda crise de balanço de pagamentos, não teve nem tempo nem
condições para absorver essa crítica e mudar a política monetária.
Entretanto, não tenho dúvida
de que, se o PSDB tivesse vencido
as eleições em 2002, não teria mudado a política monetária. Teria
mantido o ajuste fiscal, mas perceberia a profunda irracionalidade
da política monetária e mudaria
cautelosa mas seguramente a política de juros. Afinal, essa política
visa apenas gerar juros para rentistas e câmbio valorizado para
empresas multinacionais enviarem lucros para o exterior. Fernando Henrique não teria dificuldade em apoiar a nova política,
que, afinal, completaria a estabilização que ele iniciara com o Plano
Real.
Sei que a mudança atemorizaria as mesmas pessoas que, no
tempo da alta inflação, diziam
que não havia solução para ela.
Sei que ela seria combatida por
aqueles que se acovardam diante
do poder dos interessados externos e internos. Sei que o medo infundado de que volte a inflação
continua a ser a arma que mantém a política monetária refém
desses grupos. Sei que a tentação
de não mudar é grande, porque a
partir de 2003 a economia brasileira beneficiou-se do câmbio alto
e de condições particularmente favoráveis do mercado internacional para aumentar as exportações. É bom lembrar, porém, que o
câmbio depreciado não mais existe e que as condições favoráveis
podem desaparecer a qualquer
instante.
Não tenho por que duvidar do
compromisso dos líderes do PSDB
com a estabilidade macroeconômica e o desenvolvimento do Brasil. E surge agora uma nova oportunidade. A presidência do PSDB
está ocupada por um político de
alto nível como é Tasso Jereissati.
Tem sólida formação econômica
e, diante da profunda heterodoxia
(apenas aparente ortodoxia) da
política de juros atual, para a qual
não existe nenhuma justificativa
racional, ele tem condições de promover a revisão da posição do
partido sobre o assunto.
A única justificativa para o status quo é a dificuldade de mudar.
Entretanto, uma estratégia competentemente definida de redução
da taxa de juros apresenta riscos
modestos, muito menores do que
os envolvidos em mantê-la. Essa
estratégia certamente exigirá o
aprofundamento do ajuste fiscal,
mas esse ajuste não será, como se
alega, para baixar a taxa de juros
em um futuro longínquo nem, como na verdade é, para manter a
relação dívida/PIB constante e os
credores sossegados, mas para efetivamente reduzir a taxa básica
do Banco Central. E não se falará
em, "primeiro", fazer o ajuste para depois baixar os juros: as duas
medidas, às quais necessariamente se somarão mudanças institucionais relacionadas com a política monetária e de indexação de
preços públicos, deverão ser implementadas ao mesmo tempo.
Luiz Carlos Bresser-Pereira, 71, professor da Fundação Getúlio Vargas, ex-ministro da Fazenda, da Reforma do Estado, e da Ciência e Tecnologia, é autor de "Desenvolvimento e Crise no Brasil:
1930-2002".
Internet: www.bresserpereira.org.br
E-mail -
[email protected]
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