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NATUREZA
Região vive expectativa de receber investimentos no momento em que enfrenta a pior falta de chuva dos últimos 27 anos
Seca e fogo mudam paisagem do Pantanal
FABIANO MAISONNAVE
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CORUMBÁ (MS)
O Pantanal está vivendo o momento mais importante de sua
história. Na expectativa de receber um volume recorde de investimentos, a região atravessa a pior
seca dos últimos 27 anos. Um
agravante é que a região está registrando uma série de focos de
incêndio, em sua maioria provocados por fazendeiros da região.
Desde o início do ano foram registrados cerca de 3.630 focos na
área específica do Pantanal -conhecida como planície pantaneira. Boa parte deles no mês de
agosto. Os focos ainda devem
continuar até meados de setembro, quando deve voltar a chover.
Com o esvaziamento dos rios e
das lagoas, áreas antes inundadas
foram tomadas por vegetação,
queimada para que o pasto volte a
brotar, em geral poucos dias após
a passagem do fogo. Medição feita
pela Embrapa mostra que o rio
Paraguai -o mais importante do
Pantanal- atingiu o nível mais
baixo dos últimos 27 anos.
Cultura
O maior incêndio registrado no
ano ocorreu na semana passada
na região de Forte Coimbra, 50
quilômetros ao sul de Corumbá
(MS). Até quinta-feira, cem mil
hectares haviam sido queimados.
Com o fogo fora de controle,
um rebanho de 30 cabeças foi
queimado e várias cercas, destruídas. O fogo está provocando ainda deslocamentos de milhares de
cabeças de gado e da fauna local.
"A queimada faz parte da cultura do Pantanal, mas causa danos
imediatos à fauna, ao processo de
assoreamento dos rios, além de
deixar a região impraticável para
o turismo", diz Alcides Faria, presidente da ONG Ecoa.
Apesar do trabalho constante
dos homens do Corpo de Bombeiros e da Polícia Militar Ambiental e do uso de um avião com
capacidade para 2.500 litros de
água, o controle do incêndio é
quase impossível devido ao clima
quente e seco e aos fortes ventos.
Na maioria das vezes, o incêndio só acaba quando atinge lagoas
e rios. Por causa da grande seca,
em muitos casos isso acontece depois de dezenas de quilômetros
de destruição.
As queimadas são um exemplo
da complexidade do Pantanal e
dos vários interesses em conflito
na região e fora dela.
Praticamente todos os rios do
Pantanal nascem foram dele, na
região de planalto da área denominada Bacia do Alto Paraguai.
"O grande risco ao Pantanal está
fora daqui, na parte alta", garante
Emiko de Resente, chefe geral da
Embrapa Pantanal (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária).
Segundo ela, o processo de assoreamento, responsável pelo
maior desastre ecológico da região, que ocorreu no rio Taquari,
é decorrência da devastação das
cabeceiras, ocupadas por fazendas de gado e plantações de soja.
Essa área de planalto no entorno é duas vezes maior do que o
Pantanal, dificultando ainda mais
a preservação da área.
Os conflitos de interesse tendem a aumentar bastante num
breve espaço de tempo, com a
chegada de diversos investimentos à região, principalmente a
criação de pólos industriais, a
construção de uma usina termelétrica, a chegada de hotéis de luxo e
a implantação da hidrovia do rio
Paraguai (leia texto nesta página).
Para ter uma idéia da importância econômica que a região está
ganhando, basta lembrar que o
presidente Fernando Henrique
Cardoso esteve seis vezes na região desde 1999. Ainda há mais
uma visita prevista neste ano,
quando ele vai inaugurar o ramal
Bolívia-Cuiabá de gás natural.
Os megaempreendimentos chegam à região junto com o Programa Pantanal, o maior projeto ambiental da história do Brasil e que
começa a ser implantado em setembro. Custará US$ 400 milhões,
que serão gastos em oito anos.
O programa tem o ambicioso
objetivo de implantar na Bacia do
Alto Paraguai o tão sonhado desenvolvimento sustentável.
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