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ALPINISMO
Vitor Negrete sentiu-se mal depois de escalar o pico sem auxílio de tubo de oxigênio, foi socorrido, mas não resistiu
Brasileiro morre após atingir topo do Everest
MAURÍCIO SIMIONATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPINAS
Um dos principais alpinistas
brasileiros, Vitor Negrete, 38,
morreu ontem às 2h (17h15 de anteontem no horário de Brasília),
horas depois de se tornar o primeiro brasileiro a escalar o monte
Everest, no Nepal, pela face norte
e sem o auxílio de tubo de oxigênio suplementar, a 8.850 metros.
No início da descida, ele passou
mal e pediu via rádio a ajuda do
profissional nativo que o auxiliava na escalada. Foi levado ainda
com vida para o acampamento
três -o mais próximo do cume
mais alto do planeta-, mas não
resistiu. Morreu possivelmente
por exaustão, agravada pelo intenso frio na montanha. A temperatura lá chega a -40C ou até
-50C, sem considerar o vento.
Negrete era casado e tinha dois
filhos: Leon, de dois anos, e Davi,
de sete meses. Ele praticava alpinismo havia 15 anos e também
outros esportes de aventura. Será
sepultado nos próximos dias na
própria montanha.
Mesmo depois da morte de seu
amigo de expedição, o inglês David Sharp, no dia 16, durante a escalada, Negrete decidiu subir até o
cume. Antes disso, outro integrante, Ravi Chandran, da Malásia, teve os dedos das mãos congelados e desceu para ser atendido.
"Muito cuidado"
O brasileiro Rodrigo Raineri,
amigo e companheiro de Negrete
de expedição, não fez a escalada
com ele por estar com dores de
garganta. Ficou no campo base
avançado, que fica a 6.500 metros.
Em seu último depoimento antes da subida, no dia 17, Negrete
avisou que o telefone por satélite
estava com pouca bateria e tomaria muito cuidado na escalada.
Ele estava no Nepal desde o dia
27 de abril. A família de Negrete
preferiu não comentar a morte do
alpinista. Os pais dele moram em
São Paulo. A mulher, Marina Soler, está em estado de choque.
Em seu último contato com
o Brasil, publicado no site
www.everest2006.com.br, Negrete comunicou a decisão de escalar o cume sozinho. Por telefone, pediu tranqüilidade e torcida a
todos. "Estou subindo totalmente
só. Sem oxigênio, sem sherpa [nativos que auxiliam a subida] e sem
telefone, pois a bateria do [telefone] satelital está no fim. Prometo
que tomarei muito cuidado; o
tempo está melhorando e a janela
prevista deve se abrir mesmo".
Na ocasião, Raineri comentou
também a decisão de Negrete de
subir só: "Houve um descompasso em nossa aclimatação. Quando
o Vitor estava bem eu tive problemas. Quando eu fiquei bem foi a
vez dele ficar com dor de garganta. Então decidimos que cada um
deveria ir para o cume quando estivesse pronto, independentemente do outro. Assim nossas
chances de ter pelo menos um
brasileiro lá em cima é maior".
A dupla brasileira foi a primeira
chegar ao cume do monte Aconcágua (6.962 metros) pela face sul
-uma das mais técnicas e difíceis
do mundo- e a primeira do Brasil a atingir esse cume no inverno.
No ano passado, com condições
climáticas totalmente adversas,
Negrete chegou ao Everest no dia
2 de junho, mas com o uso de oxigênio. Raineri colocou a máscara
de oxigênio somente a partir do
acampamento três, porém retornou a 50 metros do cume.
A ex-mulher de Raineri, Aneci
Valéria Rocha Raineri, 34, contou
que recebeu a notícia da morte do
amigo às 2h de ontem, por meio
de uma telefonema do ex-marido.
Segundo ela, Raineri estava
muito abatido e não sabia se subiria até o acampamento três para
sepultar o amigo, ou se iniciava a
descida para retornar à China. A
assessoria de imprensa da expedição informou que ele poderia subir ao acampamento.
Aneci explicou que é comum os
alpinistas que morrem no Everest
serem enterrados na montanha
por causa da dificuldade de transporte e das condições climáticas.
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