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SAÚDE
Guia feminista prega que mulheres tomem conta da saúde com as próprias mãos, sem interferência masculina
Mulher quer tratar ginecologia sozinha
AURELIANO BIANCARELLI
enviado especial ao Rio
As mulheres querem de volta, no
terreno da saúde, o papel que perderam ``quando as feiticeiras foram queimadas em fogueiras por
saberem demais''.
A ``casta'' dos médicos obstetras
e ginecologistas, particularmente,
``é um exemplo quase caricatural
da expropriação de que foram vítimas as mulheres''. ``Hoje, a ginecologia está nas mãos dos homens,
que não têm útero nem vagina.''
O libelo feminista faz parte da introdução do livro ``Mamamélis,
Um Guia de Ginecologia Natural''
(Editora Rosa dos Tempos/Record, R$ 19), lançado ontem no 8�
Encontro Internacional Mulher e
Saúde, que acontece no Rio.
A autora é a enfermeira suíça Rina Nissim, 45, que já peregrinou
por ``clínicas feministas'' dos EUA
e da Europa e pesquisou as práticas
da medicina natural na Índia.
O livro foi lançado em língua
francesa há dez anos e chega ao
Brasil com tradução e adaptação
da médica Maria José de Oliveira
Araújo, do Coletivo Feminista Sexualidade e Saúde, em São Paulo.
Apesar do tom irado da introdução, o livro não é um confronto
com a medicina ocidental tradicional, diz a autora. Nas suas 246 páginas, o livro se faz um manual capaz de ajudar a mulher a entender
o que acontece com seu corpo,
permitir que interrogue seu médico e tome ela própria as decisões.
Para cada uma das enfermidades
tratadas, o livro descreve sintomas, tratamento convencional e
lista terapias alternativas.
``São receitas simples'', diz Rina
Nissim. ``As mulheres sentem que
têm os corpos em suas mãos.'' A
discussão inclui um dos tema mais
polêmicos do encontro do Rio, a
``desmedicalização''.
``Não estamos negando a importância da medicina convencional.
Estamos criticando esse modelo
que nos exclui.''
A ``desmedicalização'' faz críticas ao excesso de exames solicitados de rotina. Os testes que detectam malformações do feto, por
exemplo, hoje solicitados também
para mulheres jovens, ``acabam
criando mais angústia do que trazendo tranquilidade'', diz Rina.
O presidente da Sociedade de Ginecologia e Obstetrícia do Rio de
Janeiro, Ricardo Oliveira e Silva,
concorda que quanto mais informações a mulher tiver sobre o seu
corpo melhor, porque ela se torna
co-responsável junto ao médico.
``No entanto, não acho que formas alternativas de medicamento,
que às vezes não têm embasamento famarcológico e científico, possam ajudar. Essa formas têm embasamento emocional e místico.''
O presidente ressalta que o melhor método na área ginecológica é
aliar a tecnologia avançada com
uma conversa franca. Mas afirma
que a baixa remuneração de muitos médicos faz com que não haja
muitos esclarecimentos.
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