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Caso do filho não atrapalhou, diz juiz
DA REPORTAGEM LOCAL
Juiz há 16 anos, Novély Vilanova da Silva Reis, 51, disse que não
tinha motivos para se considerar
impedido quando julgou o caso
dos índios panarás em outubro de
1997. Para ele, o fato de o seu filho
mais novo, Antônio Novély, 24,
ser um dos responsáveis pela
morte do pataxó Galdino Jesus
dos Santos, em abril de 1997, não
deveria atrapalhar o seu trabalho.
Em 1989, Novély Reis determinou que o governo retirasse os 40
mil garimpeiros da área ianomâmi, em Roraima.
Depois disso, a reserva de 9,66
milhões de hectares terminou demarcada, durante o governo Fernando Collor.
"Avaliar que o juiz tomou essa
decisão em favor dos panarás como atitude compensatória pelo
que o filho dele fez seria uma injustiça. O juiz Novély manteve sua
linha de decisão de reconhecer as
injustiças sofridas pelos povos indígenas", disse André Villas-Bôas, que coordena os projetos da
ONG (organização não-governamental) Instituto Socioambiental
na reserva dos índios panarás.
"Cabeça erguida"
Na madrugada do dia 10, quando a juíza Sandra de Santis leu a
sentença que condenou Antônio
Novély e outros três rapazes a 14
anos de prisão, em regime fechado, pelo crime de homicídio triplamente qualificado, Novély
Reis não estava no tribunal. Aliás,
ele não esteve no local durante os
quatro dias de julgamento.
Após a leitura do veredicto, o
juiz ficou sabendo do resultado
por meio de uma funcionária da
Justiça Federal que encontrava-se
no tribunal.
"Não fui lá por dois motivos. Eu
não me sentia em condições emocionais e tinha receio de ser mal
compreendido. Algumas pessoas
poderiam dizer que era um pai
corajoso por estar ali acompanhando tudo, mas outras poderiam interpretar a minha presença como uma tentativa de constranger o júri", disse Novély.
O juiz disse que não pretende
recorrer do resultado. "Não era o
que nós queríamos, mas estamos
conformados. Vamos respeitar a
decisão da Justiça. Apesar da
morte dolorosa do rapaz, os índios aplaudiram a sentença e está
todo mundo em paz. Isso me conforta. Brasília amanheceu mais leve. Meu filho errou e está cumprindo a pena dele", afirmou.
O titular da 7� Vara da Justiça
Federal disse que pretende "apertar a mão" do promotor Maurício
Miranda para parabenizá-lo pela
maneira como ele atuou na acusação. Miranda assumiu a Promotoria porque a promotora Maria
José Miranda abandonou o caso
do índio Galdino uma semana antes do julgamento. Ela não quis
revelar o real motivo de seu afastamento do caso.
Missa dominical
No dia seguinte ao fim do julgamento, Novély Reis visitou Antônio, a quem ele chama pelo apelido de "Pio", na penitenciária. "Faço isso uma vez por semana desde
que ele foi preso, há quatro anos e
sete meses. É como se fosse a minha missa dominical", disse.
Segundo o juiz, Antônio também está conformado com a sentença. "Ele agora tem um horizonte. O meu filho trabalha na
prisão e deverá ficar preso por
pouco mais de dois anos e meio.
Quando sair, poderá cursar a faculdade de Economia. Ele fez vestibular na prisão e passou."
No encontro depois do julgamento, Novély Reis deu um conselho a seu filho. "Disse que,
quando ele sair da prisão e alguém perguntar se ele é um dos
jovens que queimou o índio, ele
poderá responder de cabeça erguida: "Sim, errei e já paguei pelo
meu erro"."
(SB)
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