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SAÚDE
PR e SP registram padrões elevados de câncer supra-renal
Mutação genética aumenta casos de câncer infantil raro
WAGNER OLIVEIRA
da Agência Folha, em Curitiba
Crianças de São Paulo e do Paraná estão sendo mais afetadas
por um tipo raro de câncer em
função de uma mutação genética
que pode estar sendo causada por
fatores ambientais -entre outros, o uso intensivo de agrotóxicos.
Pesquisa da UFPR (Universidade Federal do Paraná), com apoio
de instituições dos EUA, descobriu que o gene p53, em função de
mutação, está perdendo a capacidade de defesa contra o câncer supra-renal.
A mutação genética está fazendo com que entre crianças dos Estados do Paraná e São Paulo se registre dez vezes mais câncer supra-renal que entre crianças de
todas as outras partes do mundo,
inclusive em relação aos outros
Estados brasileiros.
Nos Estados Unidos, por exemplo, o registro anual é de 15 casos
desse tipo de tumor.
São Paulo e Paraná têm anualmente, cada um, o mesmo número de casos que o constatado em
todo o território norte-americano, por exemplo.
De acordo com dados obtidos
pela UFPR, a incidência de câncer
supra-renal é de 0,3 para cada
grupo de 1 milhão de crianças
abaixo dos 16 anos nos EUA. Em
São Paulo e no Paraná, há 4 casos
para cada grupo de 1 milhão.
Pesquisa
Desde a década de 70, sabe-se
que esse tipo de câncer ocorre
com maior frequência em São
Paulo e Paraná. A pesquisa da
UFPR concluiu que a mutação genética é o que causa a maior incidência nesses Estados.
Os dados estão sendo estudados
desde 89. Nos últimos três anos, a
equipe do pesquisador Rômulo
Sandrini, da UFPR, constatou a
mudança no gene p53 em um
grupo de 35 crianças que apresentam o câncer supra-renal.
Parte do material foi analisado
nos EUA sob supervisão do médico brasileiro Raul Ribeiro, que
mora naquele país e é diretor de
um programa internacional de
combate ao câncer no hospital
Saint Jude Children's, em Memphis (Estado do Tennessee).
Sintomas
A glândula supra-renal está localizada acima dos rins. Ela é responsável pela produção de várias
substâncias -como cortisona e
aldosterona- e hormônios sexuais.
Em 90% dos casos, o câncer
provoca sinais de puberdade precoce em crianças, em função da
multiplicação desordenada de células.
Entre os sintomas estão o aumento do tamanho do pênis e do
clitóris, aparecimento de pêlos
pubianos, pressão arterial elevada
e aumento de peso.
O gene p53 controla a multiplicação de células. Ele também tem
a função de interromper o processo quando as células se multiplicam de maneira errada.
"Essa mutação é muito consistente. É sempre no mesmo lugar
do gene, sempre o mesmo tipo de
mutação e numa região geográfica mais ou menos delimitada, que
sugere que o fator ambiental é o
causador. Mas a gente não sabe se
é agrotóxico ou não", disse Ribeiro, que está em Curitiba participando de um congresso sobre
câncer.
Segundo Ribeiro, a próxima
etapa da pesquisa será fazer um
estudo epidemiológico entre a
população brasileira para tentar
localizar o causador da doença. A
pesquisa deverá colher dados de
2.000 pessoas de todas as regiões
do país.
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