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CENTENÁRIO
Pampulha é referência mundial
CARLOS HENRIQUE SANTIAGO
da Agência Folha, em Belo Horizonte
Projetado por Oscar Niemeyer na década de 40, o conjunto arquitetônico da Pampulha reflete uma das faces do modernismo da capital mineira.
O projeto foi encomendado pelo então prefeito Juscelino Kubitschek. A Pampulha virou imediatamente uma referência mundial das vanguardas e uma trincheira dos modernistas.
Para criá-la, Niemeyer se inspirou livremente nas curvas das montanhas e do barroco.
Polêmica
A construção da Pampulha provocou, durante anos, uma polêmica que dividiu as opiniões dos meios artísticos e políticos da cidade.
Em sua defesa, saíram modernistas e intelectuais de esquerda, conseguindo o rápido tombamento do local.
Do outro lado, estavam a Igreja Católica, os intelectuais de direita e os defensores da família mineira.
Segundo o arquiteto Renato César José de Souza, a reação conservadora criticava o jogo no cassino, os trajes de banho em público e os bailes promovidos por Kubitschek. Mas o principal alvo foi a igreja de São Francisco de Assis.
Durante 14 anos, a Igreja Católica se recusou a benzer a igreja da Pampulha, alegando que os quadros da Via Sacra, afrescos e azulejos de Portinari não estavam de acordo com a tradição católica de representação dos santos.
A ligação de Niemeyer e de Portinari ao Partido Comunista também era motivo de intolerância. Jornais diziam que, refletida na lagoa, a igreja tinha a forma da foice e do martelo da bandeira soviética.
Até a década de 60, várias vezes foi proposta sua demolição. No lugar, seria construída uma réplica da igreja de São Francisco de Assis, de Ouro Preto.
"Ao contrário dos conservadores, a população aceitou, naquele momento, os valores modernos, reproduzindo em suas casas alguns traços da Pampulha", diz Renato César.
Toda moderna
Para o vice-presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil em Minas Gerais, Leonardo Castriota, é um equívoco considerar apenas a Pampulha como moderna. "A arquitetura moderna já era, antes de Niemeyer, uma manifestação cultural muito forte na cidade", diz.
Uma das primeiras medidas dos construtores da capital mineira, por exemplo, foi a demolição geral de um arraial e, em seu lugar, a edificação de prédios projetados por arquitetos saídos das melhores escolas européias.
"A arquitetura oficial estabeleceu um diálogo com outras artes e refletiu nas construções comerciais. À medida que foram surgindo novos bairros, as casas seguiam o estilo em voga na época", diz Castriota.
Em torno da praça da Liberdade, por exemplo, onde fica a sede do governo estadual, há prédios oficiais e particulares de pelo menos cinco estilos diferentes.
As construções vão do estilo eclético, da época da construção da cidade, ao pós-moderno dos anos 90, passando pelo art déco, por um prédio de Niemeyer e pela arquitetura funcionalista da época do regime militar.
O problema da arquitetura da cidade, segundo Castriota, é que o novo logo se tornou antiquado e foi substituído ou esquecido.
"O entusiasmo pelo moderno, que existe em todas as capitais brasileiras, é ainda mais exacerbado em Belo Horizonte. Na década de 20, ruas inteiras, construídas 30 anos antes, foram derrubadas para dar lugar a prédios novos", diz.
O mercado municipal, construído em 1900 com estrutura em ferro trazida da Bélgica, foi derrubado para dar lugar, na década de 30, a outro mercado, em estilo art déco, demolido, por sua vez, para erguer a estação rodoviária.
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