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Periscópio
A extinção do Cretáceo
José Reis
especial para a Folha
Duas hipóteses surgiram nos últimos
anos para explicar a causa do suposto abrupto desaparecimento dos dinossauros e de outras formas de vida há 65
milhões de anos, na passagem do período Cretáceo (o último da era dos dinossauros, de 140 milhões a 65 milhões de
anos atrás) para a era Terciária. Nem todos os especialistas, no entanto, aceitam
a extinção abrupta. Eles sustentam que
ela tenha sido lenta e relacionada a fatores vulcânicos e climatológicos ou à mera
degenerescência genética.
Ambas as novas hipóteses acolhem o
pressuposto de que a extinção tenha sido
abrupta, decorrente do impacto de gigantesco meteorito (cometa ou asteróide). Mas diferem no mecanismo do fenômeno. Uma apela para detritos de enxofre vaporizados pelo impacto e que,
misturados à atmosfera, formaram duradoura cortina de ácido sulfúrico impermeável à luz solar, que se refletiria de
volta, impedindo sua chegada à superfície terrestre. A outra hipótese apela para
o suposto vulcanismo criado na área
oposta ou antípoda ao impacto, o qual
teria produzido nuvens muito densas
que teriam toldado o Sol por período
muito longo, causando frio prolongado.
A hipótese de extinção pelo impacto de
objeto celeste foi proposta por Luis Alvarez em 1980. Examinando uma camada
de argila que separa o Cretáceo do Terciário (conhecida pelos geólogos como
linha ou fronteira K-T) cuja idade coincide com as extinções, ele verificou a presença de irídio, elemento muito raro na
Terra e abundante no espaço celeste.
Baseado nesse fato, concluiu que há 65
milhões de anos teria havido o impacto
de gigantesco meteorito de uns oito quilômetros de diâmetro, que teria aberto
enorme cratera cujos estilhaços se teriam
disseminado, formando nuvens que teriam impedido a chegada dos raios solares, e assim provocado prolongado inverno. O encontro de uma cratera na península de Yucatán, México, com o tamanho e as características previstas por
Alvarez, veio tornar quase unânime a
aceitação de sua hipótese. Mas nem todos aceitaram que a nuvem de detritos
criada pelo impacto pudesse ter durado
mais de seis meses antes de cair no solo.
Ficaria prejudicada, nesse ponto, a
idéia do prolongado inverno. Diferentemente da poeira em suspensão, uma camada de ácido sulfúrico poderia durar
decênios, oferecendo maior probabilidade de um inverno capaz de provocar a
extinção da vida.
A hipótese da nuvem formada no antípoda do impacto parte do estudo da propagação das ondas de choque através do
planeta. Essas ondas se propagam pelo
manto, a camada de rocha logo abaixo
da crosta terrestre, e, refletindo-se nas
curvaturas da Terra, convergiriam para
um espaço oposto ao local do impacto (o
antípoda) onde produziriam formações
vulcânicas.Vulcões costumam lançar no
ar milhões de toneladas de poeira e gases
tóxicos. Os produtos de uma suposta série de erupções se espalhariam como
uma cortina por toda a atmosfera. Essa
idéia tem sido testada por simulação em
computador, mas ainda depende de
muitos outros estudos para ser tida como rival da hipótese de Alvarez.
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